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No More Heroes

Anti-heroi nº51

Regra geral, utilizam o comando de uma forma pertinente para a acção que está a ser executada, e na verdade são uma boa distracção de toda a violência que compõe o resto do jogo. Quem não achar piada à ideia tem apenas de saber que cada um dos trabalhos só precisa de ser feito uma vez para desbloquear novas missões de combate e assassínio, as quais já dão recompensas mais chorudas. Existe todo um diálogo e metáfora que rodeia estes trabalhos – e a entidade patronal - que exige uma reflexão acerca da verdadeira mensagem de Suda Goichi ao introduzir estas actividades simples e distantes do resto do jogo.

Entre missões e trabalhos, podem explorar a cidade de Santa Destroy a pé ou utilizando a mota de Travis. Grande e com variedade de paisagens, a cidade é interessante à primeira vista, mas rapidamente se mostra como apenas um meio de colocar distância entre os diferentes locais que se podem visitar (lojas, locais onde se aceitam missões, o modesto motel onde Travis mora, o ginásio do seu mestre - o petulante Thunder Ryu - etc.), não existindo qualquer “interacção” entre o jogador e a cidade em si.

Tecnicamente, a cidade é graficamente muito pobre, algo especialmente óbvio através da linha de horizonte muito reduzida e dos frequentes “pop-ups”. Mesmo assim, não se consegue evitar a ocasional quebra de framerate quando a mota é utilizada a altas velocidades. Esta mota é um elemento distinto do jogo. Por um lado reitera o quão pouco trabalhada foi Santa Destroy – que é como quem diz, as partes do jogo que não envolvem combate - por exemplo, as colisões entre carros, prédios ou outros obstáculos e a mota são praticamente inexistentes, a moto simplesmente pára enquanto Travis é lançado para longe; os controlos da mota a baixa velocidade estão no limiar do tolerável.

O leilão de uma vida.

No pólo oposto, conduzir a mota a altas velocidades é muito agradável; entre a utilização do turbo, as derrapagens para fazer as curvas e o cariz amplo de toda a cidade, atravessá-la de uma ponta à outra é conseguído em relativamente pouco tempo e de uma forma aliciante. Desde que consigamos evitar bater nalgum obstáculo claro está. De um ponto de vista simplista, pode-se dizer que a mota representa No More Heroes. Um excelente conceito, excelentes ideias (sob a forma do turbo e das derrapagens) a suportá-lo, mas, a espaços, uma execução técnica que desagradará aos mais exigentes.

Graficamente, este título não impressionará ninguém, mas aposta numa direcção artística fortemente vincada em todas as arestas do jogo. As músicas de Masafumi Takada (God Hand, Killer 7) para o jogo são, como é hábito, brilhantes, não só por serem composições originais e que dão gosto ouvir, mas principalmente pela forma como complementam o jogo em si.

Apresentado o molde do jogo, derrotar um assassino de topo e seguidamente juntar dinheiro para poder defrontar o próximo; resta-me apenas reforçar que apesar de raramente se desviar deste conceito, No More Heroes consegue sempre deixar o jogador a pensar o que diabo irá acontecer desta vez. O sempre presente bom-humor e tom satírico do jogo de Suda Goichi é outro ponto a favor, e todas as lutas com assassinos de topo são únicas, seja pelos diálogos que as acompanham, a luta em si, ou apenas porque merecem ser recordadas. O seu conteúdo e humor mais “maturo”, acoplado com o estilo gráfico do jogo implica que não irá agradar a todos. Mas quem consiga encarar o jogo pelos seus pontos positivos e não pelas suas ocasionais falhas, não sairá desapontado.

9 / 10

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