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O lado bom e o lado mau da Xbox One

Uma revelação com muitos mais baixos do que altos.

Esta semana gostaria de ter escrito sobre o que mais espero da E3(Fallout 4, vá lá!) mas houve um outro assunto que ganhou importância e que não posso deixar de abordar.

Após a revelação da PlayStation 4 escrevi sobre o que gostaria de ver na próxima Xbox. Apesar de ter acertado as previsões mais óbvias, nunca me passou pela cabeça que a revelação da Xbox One e toda a política de PR da Microsoft que se seguiu fossem um desastre de proporções épicas.

À partida, a Microsoft parece ter pegado todas as más praticas desta indústria e colocado dentro de uma bonita caixa. Pior ainda, não sabe como lidar com as (muitas) questões que os seus potenciais consumidores têm sobre ela.

Calma, não peguem já nos archotes ou ponham em causa a minha integridade ou a da Eurogamer. Não sou pró-PlayStation, pró-Nintendo ou anti-Microsoft; na verdade, nesta geração comprei apenas duas consolas: uma Xbox 360 Elite e uma Xbox 360 S. Gosto bastante da 360 e das muitas mudanças que trouxe consigo e é por isso mesmo que vou expressar o meu descontentamento em relação ao que conhecemos e que tem sido falado sobre a sua sucessora.

Como acho que ainda não li uma única notícia positiva sobre a Xbox One, vou começar por enumerar(infelizmente, bem sucintamente) os aspectos positivos da consola.

O bom

Se tivesse que destacar alguma coisa de positivo seria a ligação HDMI-in e o facto de a consola, pelo menos, parecer tão poderosa quanto a PlayStation 4: processador com 8 cores, 8GB de RAM(a diferença entre GDDR3 e GDDR5 é praticamente negligenciável) e ambas prontas para o cloud gaming. Com estes specs espera-se que os exclusivos continuem a ser tecnicamente equilibrados e que os multiplataformas não tenham que ceder por causa de uma ou outra plataforma como aconteceu com alguns títulos na PlayStation 3. Tal como aconteceu com a PlayStation 4, cloud gaming parece ser um dos grandes focos da Xbox One. No entanto, ao passo que a Sony se focou na "retrocompatibilidade" através do Gaikai, os planos da Microsoft parecem ser mais ambiciosos, procurando usar o cloud gaming para "aumentar" o poder da sua consola. A concretizar-se esta visão, a Xbox One pode muito bem ser a ultima consola que precisam de comprar na vida.

"Achei o design da consola bastante apelativos e o novo comando parece uma boa evolução do actual, o qual já é bastante bom."

Achei o design da consola bastante apelativos e o novo comando parece uma boa evolução do actual, o qual já é bastante bom. O novo Kinect também parece ser tudo aquilo que o actual prometeu e não cumpriu. Se funcionar realmente, pode ser desta que o acessório conquiste o público hardcore.

O novo Kinect é impressionante, sendo capaz de medir até os batimentos cardíacos de quem se encontra na sala mas tanta precisão já começa a levantar suspeitas de violação de privacidade.

O mau

Passar demasiado tempo em frente à televisão:

A televisão foi o foco principal da apresentação da Xbox One. O que foi mostrado parece-me interessante para o mercado norte-americano mas completamente irrelevante para os europeus. Por estes lados o interesse por desportos norte-americanos não é grande o suficiente por isso passamos completamente ao lado de boa parte do que foi apresentado. Pode ser que no futuro a Microsoft revele os seus planos para o mercado europeu(futebol?) mas, ainda assim, não tenho a certeza se o público da sua actual consola estará assim tão interessado em ver televisão nela. Mais uma vez, desconheço os planos da Microsoft mas se esperam que a nova geração atinja mil milhões de consolas vendidas, talvez tenham na calha parcerias com operadores de televisão por cabo em que a Xbox One substitua as actuais boxes. A Vodafone Portugal chegou a disponibilizar uma Xbox 360 Elite que servia como box mas muito poucas foram as pessoas que utilizaram o serviço. Será que desta vez vai ser diferente?

Falta de retrocompatibilidade:

Este assunto passa ao lado de muita gente mas confesso que me chateia bastante. Foi esta a razão porque não comprei uma PlayStation 3 e que me tira grande parte do incentivo de comprar a Xbox One. Acredito que não estou sozinho: as consolas com retrocompatibilidade são sempre as mais vendidas da sua geração. A desculpa é a do costume: a arquitectura é demasiado diferente da consola actual. Estou mesmo à espera que na prática isto vá resultar em ports e colectâneas Full HD(1080p) de alguns jogos actuais, obrigando-nos a gastar mais dinheiro para jogar o que já temos.

O que realmente me entristece é que a retrocompatibilidade se estende ao (bastante bom) catálogo actual do Xbox Live Arcade no qual eu e tantos outros jogadores investiram. Só Minecraft vendeu 6 milhões de unidades mas quem o quiser continuar a jogar na próxima geração vai ter de manter a sua Xbox 360. A Sony também anunciou que isto se iria acontecer com os jogos PSN e eu continuo sem entender tal posição.

Desde que saiu que Minecraft tem sido o jogo mais vendido e mais jogado do Xbox Live Arcade. Se são fãs do jogo não vendam a vossa Xbox 360 porque vai ser a única forma de o jogarem na One.

Instalações obrigatórias:

Este é um assunto a que os jogadores de PlayStation 3 se habituaram mas que passa ao lado de quem tem uma Xbox 360, onde a instalação é facultativa(melhora os tempos de carregamento e não gasta tanto o laser da consola). Na nova Xbox One isso vai deixar de acontecer e todos os jogos terão que ser obrigatoriamente instalados no disco. Parece que vamos poder jogar enquanto o disco é instalado mas com o blu-ray como suporte adoptado, parece-me que não vai demorar muito até o disco de 500GB que vem com a consola ficar cheio. É preciso contar também com jogos digitais, gravações da tão publicitada TV e um sistema operativo que parece ocupar um espaço valente. Referi que o disco rígido não pode ser substituído? Pois.

Ligação online:

Os rumores da obrigatoriedade de uma constante ligação da Xbox One à internet já faziam correr tinta largos meses antes da revelação da consola. A Microsoft nunca se prestou a negá-los e chegou mesmo a passar por um triste episódio de relações públicas no Twitter que resultou no despedimento de um dos seus directores criativos. Durante a apresentação da Xbox One, a empresa voltou a evitar tocar no assunto e foi só no seu rescaldo que, finalmente, admitiu aos jornalistas mais insistentes que a Xbox One iria requerer uma ligação à internet pelo menos uma vez por dia.

A banda larga em Seattle tem de ser fenomenal para a Microsoft achar isto uma boa ideia. Em Fevereiro a empresa revelou que já existem 46M de contas Xbox Live. Sabem quantas 360 foram vendidas? 77M, o que significa que 31M dos fãs da actual Xbox 360 não têm como ou não querem ligar-se á internet. Além de alienar estes milhões de actuais fãs, afasta também potenciais consumidores que vivam em zonas onde a ligação é muito lenta ou inexistente. Eu vivo no centro de Lisboa e tenho problemas de ligação todas as semanas por isso só imagino o que passarão em zonas onde a ligação por fibra não tenha chegado.

Mesmo com uma boa ligação à internet, o que acontecerá se a nossa consola não se conseguir ligar dentro das 24 horas exigidas? Deixamos de poder jogar? Não se sabe. A Microsoft parece não ter aprendido nada com o recente fiasco que foi o último Sim City e que deixou honestos compradores do jogo de mãos a abanar e sem poderem usufruir do produto que compraram. Sempre que ligo a minha Xbox 360 ligo-a à internet mas tal deve ficar ao critério de cada consumidor em vez de se tornar uma obrigatoriedade.

Jogos usados

Apesar de tudo o que já vimos, este é O assunto da Xbox One, aquele que tem o poder de mudar esta indústria para sempre. Também se falava nele há meses e a Microsoft sempre se furtou a comentar o que quer que fosse durante a apresentação da Xbox One. Quem cala consente não pode ser uma máxima pela qual se reja o PR de uma empresa. Rapidamente a internet pegou em tochas e forcados, decidida a boicotar a consola e a própria Microsoft.

Ainda não se conhecem os detalhes mas parece certo que quem quiser jogar usados na sua Xbox One terá mesmo que pagar uma taxa. O argumento dos usados sempre me fez espécie e de há uns anos para cá parece ser o bode expiatório da indústria, "pior do que a pirataria".

Nunca ouvi uma editora de livros ou uma marca de automóveis achar que deve receber duplamente- quando vende o seu produto e quando quem o comprou o vende- mas a indústria dos videojogos sempre se sentiu à vontade para exigir aquilo que os outros nem sequer pensaram ter legitimidade de pedir. Não apoio esta forma de DRM e acredito mesmo que, a serem verdadeiros os rumores, as suas consequências podem ser desastrosas para toda a indústria.

As consequências disto podem ditar o fim das já fragilizadas lojas físicas, dependentes da venda de usados para se sustentarem, e dessa instituição tão antiga quanto os próprios jogos que é emprestar e trocar jogos com amigos.

Jogos Indie

Outro ponto que não consigo entender é a impossibilidade de estúdios independentes publicarem os seus próprios jogos na Xbox One sem recorrerem a uma editora. O Xbox Live Arcade foi construído graças a jogos como Braid, Limbo, Super Meat Boy, FEZ ou Minecraft, todos eles jogos independentes. Além de não me parecer honesto, evitar que indies publiquem livremente no Xbox Live é uma falta e respeito para com a história do serviço. Don Mattrick assegurou que a Microsoft vai oferecer algum apoio a produtores independentes mas não clarificou a do questão da publicação(aquela que paga as contas a quem cria o jogo).

Como serão as coisas na E3?

A E3 deste ano promete ser a mais "agressiva" de que há memória com as 3 grandes a precisar necessariamente de mostrar o melhor que têm para convencer os consumidores a comprarem a sua consola.

Apesar de Wii U já se encontrar no mercado, a corrida ainda mal começou. A Nintendo promete mostrar um novo Mario, Mario Kart, Super Smash Brothers e, provavelmente, Zelda, um lineup avassalador que tem potencial para dominar vendas no próximo natal e abafar as suas concorrentes mais poderosas.

Ainda não sei as armas que a Sony trará para a E3 mas acho seguro contar com novos IPs, como costuma fazer com cada nova consola.

A Microsoft mostrou muitos poucos jogos para a Xbox One, prometendo que esses ficariam reservados para a E3, com 15 novos jogos para apresentar, 8 dos quais novos IPs, e um investimento de mil milhões de dólares para o futuro. A empresa está empenhada em "matar a Sony na E3" mas primeiro precisa de ressuscitar a confiança dos actuais fãs da Xbox.

Mais do que jogos, a Microsoft precisa de nos mostrar claramente o que tem planeado em relação aos jogos usados e à ligação à internet. Só clarificando as coisas e, porventura, dando uns passos atrás no que disse até agora é que a Microsoft vai conseguir convencer os consumidores que a Xbox One tem mais para oferecer do que serviços que já existem em qualquer Smart TV ou box de televisão no mercado.

Por fim, como fui contactado pelo Twitter por alguns leitores, deixo-vos o meu perfil caso me queiram seguir, deixar feedback e sugestões para futuros artigos.

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