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O que estou a derreter este fim de semana

New Super Mario Bros. U é nostalgia sofisticada.

Confesso que apesar de toda a minha história em redor dos videojogos, continuo depois de tanto tempo ainda um pouco estranho a todo o fenómeno Mario da Nintendo. O meu primeiro contacto com o personagem foi em Mario Sunshine e desde então tenho acompanhado quase todos os produtos que vão chegando do personagem. Desde Paper Mario na Nintendo Wii a New Super Mario Bros. na DS, passando pelos inevitáveis Galaxy, este estranho personagem tem marcado de longe a longe os meus dias de jogador e apesar de não ser para mim uma figura de proa, não evitou conquistar o seu canto como algo singular e bem único.

Levando em conta a postura da Nintendo, prometi a mim mesmo não cometer os mesmos erros do passado: nas anteriores consolas caseiras da Nintendo não as fiz acompanhar de um jogo da própria (eu sei que não fez muito sentido comprar uma Wii para jogar No More Heroes e Madworld) e assim sendo decidi fazer um favor a mim mesmo e no bom nome da decência e bom gosto escolhi New Super Mario Bros. U para dar cor a estes tristonhos dias de 2013. Se não é chuva, é frio ou vento, ou então com sorte os três de uma vez.

Se nos dias de hoje faz falta o céu azul, e o tom cinzento destes dias vai-nos deixando um pouco mais tristes do que queremos estar, em NSMB. U o que não falta é cor e magia, mesmo o que eu estava a precisar. Desde logo é aparente que este é um jogo cujos alicerces estão há muito bem assentes. Tendo em conta que passei ao lado da versão para a Wii, foi simplesmente intuitivo e imediato entrar em contacto com o jogo tendo em conta a experiência no produto da Nintendo DS. Mas tal nem era preciso, NSMB.U é um daqueles jogos de pura magia, pegamos nele de imediato mas só com dedicação e empenho conseguimos tudo o que nos pode dar.

As primeiras horas foram uma espécie de período de adaptação, Mario pode muito bem ser um jogo de plataformas mas é provavelmente o melhor de todos pois combina simplicidade com desafio e imersividade como poucos, ou nenhum. Fui transportado para outro mundo, cheio de cor no qual os personagens se movem com tal graciosidade que quase nos dizem que estamos a olhar para um desenho animado. Devo ainda salientar que um dos pontos mais intrigantes de toda esta experiência está mesmo no uso do ecrã no GamePad para jogar e reside aqui grande parte do tempo de adaptação.

A qualquer momento alternar o olhar entre a TV e GamePad ou até jogar enquanto outra pessoa vê TV é mesmo algo espantoso. Mesmo numa era em que parecemos estar a ficar tecnologicamente cépticos (nada nos parece surpreender já por muito avanço que demonstre) algo que parece tão simples quando comparado com outras tecnologias deixa-nos altamente satisfeitos e a bater palmas à lá Conan O' Brien. Então se quiserem jogar enquanto alguém vê a novela não podem ter melhor (claro que depois ficam a saber que a Carminho é uma bandida do pior e só vos apetece calcar mais cabeças mas Mario não é sobre isso).

É mesmo fascinanente como a Nintendo parece não se esquecer de como é ser criança. Desde as animações de Mario e companhia, aos cenários coloridos cujos fundos vão mostrando alguma dose de animação, tudo aqui trabalha em sintonia para colocar um grande sorriso na cara de quem joga, e até de quem vê. Claro que o desafio está lá presente, e mesmo com toda uma panóplia de possibilidades para contornar alguns níveis (desde a ajuda Miiverse com comentários da comunidade ao Superguia Luigi) é refrescante sentir que a simplicidade pode ser recompensadora e motivante.

É uma espécie de passado ao encontro do futuro, como se a Nintendo estivesse a dizer 'eis como o nosso passado e presente se vai conciliar com o nosso futuro'. Se na Wii o controlo por movimentos foi rei e senhor, com Mario a adaptar-se a essa realidade, agora o centro das atenções é o segundo ecrã e como os avanços na tecnologia podem elevar Mario a novos patamares sem perder de vista o seu maior alicerce, a jogabilidade divertida, enquanto são incorporadas novas mecânicas de jogo que se sentem válidas neste universo.

Para muitos podem existir poucas melhorias, avanços ou inovações mas acredito que para fãs e até passageiros curiosos como eu, existe aqui muito que confere pequenos toques e acertos nas mecânicas de jogo e lhe introduzem uma boa dose de entretenimento empolgante. O quanto me diverti já a passar pelos níveis nas nuvens enquanto Mario segurava aquele estranho animal rosa para o usar como se fosse um balão, o uso de Yoshi nalguns níveis onde sabe tão bem martelar a cabeça às toupeiras, e todo um conjunto de situações que colocam NSMB. U bem enquadrado com a série e que o tornam num jogo vocacionado tanto para pequenos como graúdos.

Sem esquecer que ainda continuo de volta do jogo e muito mais existe para explorar. Não fosse a minha falta de paciência e ainda estaria com mais vidas do que cinco, e constantemente obrigado a voltar a jogar níveis iniciais mais fáceis para amealhar moedas e obter mais vidas.

Ver tartarugas a interromper a sua marcha para "dançarem" ao som de uma música catita e melódica é um toque que raramente vemos ter este efeito contagiante noutro produto. Usar os diferentes fatos de Mario para abordar de formas diferentes os níveis é outro dos pontos de maior interesse e se Mario Bros. U pode ser encarado como um jogo de aspeto infantil, então a sua jogabilidade é do mais desafiante que qualquer adulto pode esperar encontrar na atualidade, isto se quiser encontrar todas as moedas e obter tudo a que tem direito.

A jogabilidade consegue exercer tamanho fascínio ao ponto de assumir contornos de equação matemática. Desde o local de onde saltamos, do timing do salto enquadrado com o movimento das estranhas criaturas ou plataformas que vão e vem, desde a procura de canos para salas secretas, desde o uso das habilidades especiais de cada fato, tudo aqui parece funcionar em fenomenal sintonia como uma fórmula matemática precisa envolta em timings desafiantes com aparato visual que apaixona qualquer um.

É isto que tenho andado a fazer e vou continuar nos próximos dias.

Os bosses continuam do mais simples no papel porque na prática nem sempre é assim. Há um ponto intermédio entre inspiração/homenagem aos clássicos de outras décadas com a tentativa de fazer com que se sintam válidos na atualidade e isso acredito que é um ponto a favor da Nintendo. Pessoalmente acredito que os produtos Mario são mesmo de uma categoria só sua e só assim se explica como a base de fãs continua a seguir uma evolução que segue a um ritmo só seu sem olhar para o que se vai passando no seu redor.

Se no mundo da animação muitos acreditam que ninguém o faz como a Disney e que mesmo com os anos conseguem captar uma essência própria que nos cativa e marca, provavelmente no mundo dos videojogos é a Nintendo que consegue um efeito similar. Acredito que desta vez fiz o que devia ter feito e fiz as pazes comigo mesmo, dei à minha consola Nintendo o primeiro jogo que merecia, um jogo da própria Nintendo, um jogo de Mario e um jogo que me vai acompanhar durante muito tempo. Além disso é um jogo único e que sinto um enorme prazer quando sou desafiado e que consegue algo verdadeiramente fascinante: demonstrar que o prazer não está quando se chega à meta mas sim na jornada que percorremos para lá chegar.

De momento ainda falta explorar muito do jogo, tenho muito mesmo para "derreter". Ainda falta experimentar o jogo com a família e amigos, jogar em remote play na caminha que este frio não perdoa, e tentar obter as moedas que deixei ficar para trás. Para muitos New Super Mario Bros. U é mais do mesmo mas quando esse mesmo é maneado com tanta sabedoria não deixamos de sentir que somos priviligeados por poder usufruir de pérolas como esta.

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