Octopath Traveler - Análise - A magia do pixeis
Uma glorificação dos clássicos de criança.
Enquanto fã de JRPGs, senti que foi um autêntico prazer jogar Octopath Traveler, a nova propriedade intelectual da Square Enix que aposta em conceitos muito interessantes enquanto tenta homenagear os clássicos da companhia lançados nos anos 90. Nessa jornada para capturar a essência de obras como Final Fantasy 6, a missão parece ter sido combinar a magia que esses títulos conseguiam ostentar, apesar dos seus visuais simples, com um gameplay capaz de te prender, mas ainda assim acessível o suficiente.
Essa missão de criar um sucessor dos clássicos é ambiciosa, mas ao olhar para este novo mundo provavelmente nem o dirias. Octopath Traveler enverga uma doce simplicidade que molda a sua personalidade e é em grande parte a responsável por sentir que foi um prazer jogar este JRPG. Mais do que sentir que joguei um título que consegue verdadeiramente capturar o estilo dos clássicos nos quais se inspirou, senti que é um jogo divertido, envolvente e cujo sistema de combates é interessante o suficiente para te manter 50 horas neste mundo. Melhor ainda quando o podes fazer na tua Nintendo Switch.
Octopath Traveler foi pensado para a mais recente consola da Nintendo e o equilíbrio alcançado pela equipa de desenvolvimento revela que tiveram o cuidado em criar um JRPG que pode ser transportado para qualquer lugar, mas ainda assim com vigor suficiente para figurar com um título caseiro. Confesso que a possibilidade de jogar Octopath Traveler a qualquer momento me ajudou imenso no grind e ajudou a estabelecer a sua personalidade.
Mas vamos por partes pois começar uma análise a dizer o quão encantado fiquei com o jogo mais parece que estou a concluir. Está na hora de explicar o porquê de Octopath Traveler se ter tornado num dos meus JRPGs favoritos desta geração, dos seus méritos, mas também do porquê de não conseguir o mesmo selo que atribui a outros jogos do género nos últimos tempos.
Octopath Traveler é um JRPG por turnos, com uma estética pixel art, onde descobrirás oito protagonistas da sua própria história. Viajantes que, por diversos motivos, deixam a sua terra natal e iniciam uma jornada que os levará a diversos cantos de Osterra, onde o jogo decorre. Inicias o jogo com um e depois visitas as cidades onde se encontram os outros. Quando terminas o primeiro capítulo de cada, podes adicioná-los à tua party. No entanto, Octopath Traveler não se esforça muito para dar a sensação que este grupo de viajantes está numa jornada em conjunto e em cada capítulo é quase como se estivessem sozinhos. Nem sequer terão missões em comum ou um arco abrangente. São histórias individuais que se cruzam pelo caminho, será melhor pensar assim. Se gostas de um grande envolvimento entre personagens e um desenvolvimento na sua personalidade, Octopath poderá não cumprir nesse requisito.
Enquanto viajam de cidade em cidade, vão partilhando contigo as suas histórias e algumas são simples, doces, mais "ligeiras" e até divertidas. No entanto, narrativas como as de Olberic e especialmente Primrose são mais sombrias, com temáticas mais adultas. Juntamente com o mistério na história de Cyrus, foram as minhas favoritas e a que mais gosto tive em acompanhar. Existem várias missões secundárias com boas recompensas, mas nada de muito abrangente. Existem diversos locais opcionais para explorar (com Jobs secretos à tua espera) e decididamente não encontrarás uma narrativa épica, mas facilmente te afeiçoas aos personagens e a alguns acontecimentos.
Ao explorar os belos locais de Osterra, este grupo de 8 personagens entrará em combates aleatórios e é aqui que Octopath Traveler poderá surrpreender alguns - no equilíbrio entre acessibilidade e profundidade. Os combates por turnos assentam no sistema de Jobs como parte fundamental, isso significa que existem armas, habilidades e feitiços específicos para cada uma. Isto é o tradicional no género, mas Octopath imprime o seu toque ao apresentar os sistemas de Boost e Break. A cada turno adquires um Boost Point por personagem e isso permite-te acumular um máximo de 4BP e despoletar uma versão muito mais poderosa de qualquer acção.
Seja um feitiço de cura, um ataque de elemento ou um golpe com uma arma física, quanto mais BP adicionares ao movimento, mais poderoso será. No entanto, o poder dos golpes e feitiços é altamente reduzido perante a defesa dos adversários. Terás de descobrir as armas e feitiços aos quais são sensíveis e usá-los para quebrar a sua defesa, activando o Break. Quando estão neste estado, os inimigos não atacam e sofrem muito mais dano. Isto é incrivelmente simples, mas altamente viciante e divertido. Octopath torna-se numa espécie de jogo de gestão onde tentas decidir se mais vale acumular BP para usar quando o adversário estiver em estado Break ou se é melhor usar os BP para quebrar a defesa mais rapidamente.
Sem as grandes narrativas de escala épica centradas no combate a um vilão temível e memorável, Octopath Traveler apresenta uma narrativa mais simples, sustentada por um sistema de combate igualmente simples, mas surpreendentemente eficaz. Na Switch encaixa que nem uma luva e glorifica o conceito da consola - não me canso de dizer que poder treinar os personagens em qualquer lugar ajudou imenso a encantar-me pelo jogo. Especialmente quando os visuais são decididamente encantadores.
Esta estética HD-2D, inspirada na pixel arte dos clássicos da Square Enix aos quais Octopath Traveler presta homenagem, permite-te viajar para diversos locais que te vão surpreender. O Unreal Engine 4 é usado para belos efeitos de iluminação e existe uma grande variedade de belos locais. Poderás até ficar surpreso com o encanto que esta pixel arte te consegue transmitir um mundo de fantasia, mas tendo em conta que é um dos elementos na génese deste projecto e que mais dedicação recebeu, não deveria.
Octopath Traveler foi criado com uma personalidade encantadora, simples e doce, relembrando os clássicos dos anos 90, mas com um tom mais simples e mundano. Isso é algo que sentes quando estás a percorrer o mapa, a ouvir uma das pequenas conversas entre os personagens (ao estilo dos skits da série Tales of), nos visuais, no sistema de combate e também na banda sonora. Yasunori Nishiki é um nome relativamente recente, mas se continuar assim, certamente deixará a sua marca. Existem vários momentos em que me senti verdadeiramente imerso neste mundo e as músicas contribuíram imenso para isso - sejam os temas das cidades, nos momentos de narrativa ou numa masmorra.
Antes de terminar, tenho ainda de falar na longevidade e como terás de investir algum tempo no grind. Octopath Traveler está estruturado por capítulos (4 para cada personagem) que duram um pouco mais de 1 hora cada. Cada capítulo tem um nível recomendado e terás de passar algumas horas a treinar para ultrapassar os bosses de cada capítulo. Geralmente, isto envolve passar 3 a 4 horas de trás para a frente perto de um Save Point para gravar assim que vences com dificuldade inimigos muito superiores a ti para subir de nível e te tele-transportar para uma cidade ali ao lado e recuperar no Inn, antes de repetir isto novamente. Somando tudo, precisarás de pelo menos 50 horas para ver todos os capítulos. Se quiseres descobrir os segredos, como os Jobs opcionais, terás de percorrer o resto do mapa e explorar, elevando imenso a longevidade.
Octopath Traveler foi criado com um propósito muito específico e a sensação que deixa é a de o ter conseguido em pleno. A aposta numa nova propriedade intelectual permitiu criar um novo universo com as suas próprias ideias, embrulhado numa paixão pelos clássicos de outrora cujos simples visuais ainda conseguem apaixonar os fãs. A aposta em 8 personagens cria um design narrativo diferente e longe dos enredos épicos que falam sobre o fim do mundo, Octopath Traveler brilha pela sua simplicidade e figura desde já como um dos melhores JRPGs desta geração.