One Piece: Pirate Warriors 3 - Análise
Não te estiques tanto que pode não correr bem.
One Piece Pirate Warriors estreou-se em Outubro de 2012, voltando em Agosto de 2013 e agora em Agosto de 2015, significando que não fosse a ausência em 2014, prontamente colmatada com Unlimited World RED, Pirate Warriors seria por esta altura uma série anual. Desenvolvida pela Omega Force da Koei Tecmo em conjunto com a Bandai Namco, detentora dos direitos sobre a propriedade intelectual, a série One Piece Pirate Musou assenta na bases sobre as quais a série Dynasty Warriors (Musou no Japão) foi construída: uma série com gameplay que pouco tem evoluído, brilhando principalmente da força dos materiais fonte com os quais combina para nos dar produtos específicos. Depois de Fist of the North Star ou The Legend of Zelda, sem esquecer claro Dragon Quest, o Omega Force regressa novamente à série de Echiiro Oda com este terceiro capítulo de One Piece Pirate Warriors mas para o bem e para o mal, padece de todos os elementos que o marcam uma experiência Musou.
Confesso que depois do brilhante Dragon Quest Heroes, pessoalmente considero ser o mais divertido "Musou" desenvolvido pelo Omega Force e cheio de expectativas para Arslan: The Warriors of Legend e Attack on Titan, One Piece Pirate Warriors 3 parecia ser precisamente o que me faltava para colmatar o espaço entre estes dois títulos mas infelizmente o Omega Force não conseguiu manter em alta o seu andamento. Tal como a série a que deu origem e marcou para sempre o panorama da indústria Japonesa dos videojogos, parece ter ficado sem ideias ou espaço para realmente aprofundar as mecânicas no meio de tantos títulos em desenvolvimento. Por um lado, Pirate Warriors 3 é um jogo que serve bem todos os que se apaixonaram pelo material fonte e querem levar a sua interacção com aquele universo além da mangá/anime mas por outro lado significa que ostenta todos os elementos menos positivos de um Musou.
No mundo da animação não existe nada como a obra de Echiiro Oda. One Piece é um trabalho que apaixona leitores/espectadores pelo mundo fora e é extremamente fácil ficarmos rendidos a este mundo, a estes personagens. Luffy, Zoro, Robin, Nami, Chopper, Franky, Sanji, Usopp e Brook não são propriamente "meros" personagens de uma mangá. São nossos companheiros de viagem, são instrumentos através dos quais Oda partilhou connosco aventuras, desventuras, lições, mágoas, alegrias e acima de tudo mensagens que podemos guardar para a nossa vida. Para qualquer fã, One Piece é muito mais do que aquilo que esperava que seria, é um elo emocional que estabelecemos com um irreverente mundo que nos deslumbra a cada novo local e registo.
É uma obra muito pessoal que guardo no meu coração e não vou começar aqui a recuperar momentos que me levaram às lágrimas só para mostrar o quão sou fã, vão ter que acreditar em mim. Assim sendo, vamos lá camaradas, "Oh come my way" para que vos possa explicar porque é que, infelizmente, Pirate Warriors 3 pende para o lado menos agradável da fórmula Musou. Como já devem ter reparado, PW3 leva-nos até ao confronto espectacular em Dressrosa contra Doflamingo, no seu modo principal. Começamos com a libertação de Roronoa Zoro e vamos passando pela Grand Line até ao Novo Mundo. Este é o modo que conta a Lenda dos Piratas do Chapéu de Palha e a única alternativa é mesmo um modo no qual conheceremos histórias alternativas criadas propositadamente para o jogo.
O que o Omega Force nos pede é fácil, coloca-nos em cenários inspirados em One Piece, com os protagonistas desses arcos de história, e dá-nos vários objectivos. No entanto, ao invés de permitir que o jogador desbrave caminho e lute à sua vontade, recupera com maior insistência o foco na captura de zonas, forçando constantemente o jogador a regressar a várias áreas uma ou até duas vezes. A dada altura podem até sentir que estão a dar voltas ao mapa só para prolongar a longevidade. Isto, juntamente com o gameplay assente no martelar de botões, apesar de existirem diversas combinações visualmente espectaculares, faz com que a experiência se torne rapidamente monótona e repetitiva. O que é uma pena mesmo.
Antes de entrarmos no nível em si, podemos verificar o que reza a lenda dos Piratas do Chapéu de Palha e descobrir o que teremos que fazer para alcançar 100% nesse nível, obter ranking S e desta forma acumular mais moedas com as faces dos inúmeros personagens da série para melhorar os nossos personagens. Esta faceta, combinado com os eventos denominados como Treasure Events que nos obrigam a cumprir requisitos muito próprios, fazem com que o jogo envergue valores competitivos com capacidade para viciar o jogador. Frequentemente repeti níveis para obter os 100%, os eventos Treasure, e reunir mais moedas e Belly (usado para melhorar personagens, comprar filmes ou músicas) simplesmente porque o jogo me desafiava.
No entanto, quanto mais jogava mais repetitivo se tornava porque a estrutura é altamente similar, não conseguindo imprimir o efeito especial a certos bosses ou recriar as sensações/eventos dos arcos de história. Mecânicas gameplay como a possibilidade de estabelecer e fortalecer uma ligação com um parceiro para aumentar os combos, activar estado heróico e ainda aplicar uma versão especial em pares dos especiais de cada um, fazem com que o ritmo de jogo seja mais dinâmico e é aqui que Pirate Warriors 3 brilha. No entanto, a estrutura dos níveis precisava de mais ajustes e o facto de estarmos sistematicamente a repetir os mesmos processos em diferentes arcos de história pode tornar-se aborrecido.
Pirate Warriors 3 poderá facilmente tornar-se um caso de obsessão mas somente para um raro número de jogadores e esses são os mais apaixonados pelas duas séries: Musou e One Piece. Isto porque mesmo que sejam muito fãs de One Piece começarão a sentir desgaste pelas mecânicas e estrutura repetitiva enquanto os fãs de Musou poderão não gostar do universo de Echiiro Oda. Por mais estranho que possa soar. Na tentativa de chegar aos 100% nos níveis, sentia que não conseguia sair do meio termo, gostava de algumas mecânicas mas não deixava de sentir que repetia demasiadas vezes as mesmas acções, contra uma inteligência artificiar que não dava resposta satisfatória.
De igual forma, as lutas contras os bosses, os carismáticos e icónicos personagens do universo One Piece, mereciam melhor tratamento. Mesmo na dificuldade superior, basta estar no nível recomendado para essa missão e activar a mecânica que permite ter os dois personagens ao mesmo tempo a lutar para depois terminar com o golpe especial duplo e está feito. Lutar contra qualquer um dos bosses de One Piece deveria assentar em mecânicas únicas e é pena que não tenha sido melhor apresentado este elemento. Especialmente quando recordo Dragon Quest Heroes no qual o Omega Force executou um excelente trabalho neste parâmetro específico.
One Piece: Pirate Warriors 3 é também um jogo que não consegue satisfazer em pleno em termos gráficos. A própria estrutura e o design em si dos níveis não abona a favor, o uso do motor gráfico que serviu a anterior geração também não ajuda. Especialmente na versão PlayStation 4 e PC, vão sentir que o jogo é claramente datado em alguns aspectos, oscilando entre uma qualidade que capta bem a essência da série em elementos como os personagens ou movimentos especiais mas que depois treme imenso nos cenários. Vazios e com espaços que lembram um jogo do início da anterior geração, PW3 ofende ainda o jogador com alguns planos de câmara, que felizmente pode corrigir com rapidez. É pena que estes pequenos pontos da experiência Musou teimem em não ser corrigidos pois na balança continuam a prejudicar.
Todos sabemos que Musou é uma série de nichos, mais ainda quando surge em parceria com uma propriedade intelectual específica, mas parece confuso que o estúdio não tenha ambição de ir mais além e continua a cair nos mesmos erros. A repetição e falta de emoção que a experiência pode transmitir ao jogador é combatida pela energia dos personagens, pelos loucos golpes e pelos combos, mesmo que estejam sistematicamente a repetir os mesmos pois não existem incentivos a diversificar. No entanto, o elemento visual podia tornar-se um motivo para o jogador acreditar que seria surpreendido mais à frente e a aguentar o gameplay mas não. Não quero de forma alguma criticar levianamente PW3 mas é que começamos a entrar num campo altamente sensível pois a cada novo jogo o Omega Force mostra querer melhorar e subir degraus para depois mostrar que teima em manter alguns aspectos mais aborrecidos.
A parceria com a Bandai Namco e Echiiro Oda assegura que One Piece Pirate Warriors 3 transmite toda uma sensação de fidelidade que muito precisa. As vozes são as dos actores da série animada, os efeitos e as músicas são todas elas frutos de um trabalho de excelência do qual poderemos desfrutar graças a essa parceria. A série jamais falhou neste aspecto e como não podia deixar de ser, a normalidade que esta componente transmite é o melhor elogio que o jogador poderá tecer e sentir. Não estranhar nada é a melhor coisa que se pode ter pois está tudo no seu lugar, fiel ao material original como teria que ser.
One Piece: Pirate Warriors 3 é um jogo longo que poderá ocupar muito tempo das vossas vidas mas aí estaremos a entrar naquela temática controversa e sensível aos jogos do Omega Force. Apesar da fidelidade com o material fonte, apesar de ser divertido controlar aqueles nossos camaradas cujas aventuras tanto nos emocionaram, enfrentar o lado menos positivo da experiência Musou poderá ser um incrível ataque à paciência do jogador. Quem adorar One Piece e for fã da estrutura de defesa/captura de espaços para prolongar a longevidade dos níveis poderá encantar-se e sentir que o Omega Force entrega novamente algo sólido. Por outro lado, podem sentir que o estúdio Japonês não mais se pode dar ao luxo de tremer das pernas e não mais ficaremos contentes com um trabalho aceitável. O próprio colocou a parada no alto e Pirate Warriors 3 não está no seu melhor nível. O estatuto do Omega Force e as suas recentes entregas não mais lhe dão espaço para criar "mais um" para o currículo, cada lançamento tem que ser superior ao anterior. Talvez seja eu a exigir demasiado.