One Piece: Romance Dawn - Análise
Acreditar que o futuro será melhor.
Há 13 anos que a série One Piece tem cruzado fronteiras para a indústria dos videojogos, onde já marcou presença em consolas como a PlayStation original até à 3, e nas consolas Nintendo desde a GameCube, DS até à Wii e 3DS. Pelo caminho já experimentou diversos tipos de experiência como jogos de luta ou de aventura, como Unlimited Cruise, aliou-se a Dynasty Warriors para nos dar Pirate Warriors e agora aborda um novo género - RPG - na forma de Romance Dawn que, curiosamente, foi lançado originalmente em Dezembro de 2012 como exclusivo PSP.
Com Pirate Warriors 2 na PlayStation 3 a elevar a série a padrões que jamais havia conseguido anteriormente e com o futuro Unlimited World RED a caminho da Nintendo 3DS, temos pelo meio este Romance Dawn que nos tenta dar uma experiência que conhecemos mas com todos os nossos personagens favoritos do East Blue e arredores. No entanto, será que o ano que trás em cima de si permitiu que envelhecesse bem? E será que o desenvolvimento original na PSP permitiu a esta conversão explorar a fundo a portátil da Nintendo? São precisamente estes dois os principais dilemas que encontrei perante este novo produto que por todas as suas singularidades, comete alguns erros previsíveis.
Romance Dawn é um RPG por turnos nos quais temos três secções distintas: temos o mapa mundo no qual navegamos em jeito de jogo de tabuleiro de cidade em cidade, a fase em que caminhamos pelos cenários, e depois os combates por turnos. Até aqui não temos qualquer problema, pelo contrário, fica sugerido algo promissor. O problema está quando verificamos que não são usadas as funcionalidades específicas da 3DS, temos uma conversão direta, e quando a estrutura do jogo em si não parece a mais adequada a uma portátil. Apesar disto ser altamente sensível à opinião pessoal.
One Piece é um mundo frenético, singular, único, dinâmico, emocionante, envolvente, rico, profundo, sentimental e verdadeiramente poderoso. Para muitos o melhor trabalho alguma vez feito nesta área em particular, portanto o potencial para um jogo de grande qualidade estava lá e o que mais custa é ver que boas ideias simplesmente não tiveram a devida execução. O resultado é um jogo que consegue desiludir de tal forma que quando vemos algo bom é sentido como uma vitória muito maior do que na realidade é.
Para um jogo portátil, que se quer coerentemente adaptado para as suas especificidades, como permitir que seja jogado em curtos espaços de tempo e ainda assim oferecer satisfação e realização, Romance Dawn desde logo falha por completo. Isto porque somos bombardeados com enormes sequências que nos contam a história de Luffy e companhia. Recapitulando os momentos mais importantes do material fonte, RD quebra completamente o seu ritmo ao deixar-nos demasiado tempo a avançar por linhas de diálogos demasiado longas.
Claro que revisitar momentos marcantes de animação tão fantástica é bom mas da maneira que está apresentada, demorando o tempo que demora, quebra em demasia o ritmo e torna-se verdadeiramente aborrecido. Quando as sequências lá terminam, ficamos prontos para controlar os personagens e correr por corredores até ao final e encontrar um boss. Pelo caminho teremos que lutar contra inimigos que estão espalhados por aqui e por ali, procurar Berry e outros itens escondidos, assim como correr desenfreadamente pelos níveis com pequenos momentos QTE.
Rever as cenas não é o problema mas antes a fluidez a que tudo decorre e até a falta de ânimo que parecem incutir, piorando quando tudo o que encontramos assim que terminam é uma gameplay banal e de pouco interesse. Correr por corredores na sua maioria vazios para chegar ao final mais parece que estamos perante um jogo de atletismo e não um RPG, por assim dizer. Isto torna-se ainda mais enigmático quando o sistema de combate é o seu melhor elemento e nos deixa um sabor amargo na boca.
Muitos jogadores facilmente ficarão agarrados ao sistema de combate, que cruza combates por turnos com uma espécie de ação em tempo real. Como referido, nos combates os personagens ficam parados à espera da sua vez de atacar e assim que escolhemos uma ação a praticar, podemos alternar entre golpes em tempo real. Podemos, por exemplo, executar um combo de vários ataques físicos sucessivos mas também o podemos quebrar a meio para utilizar um golpe especial mais devastador.
Esta combinação de ferramentas tornam a gameplay nos combates altamente interessante e é um dos aspetos mais cativantes do jogo, que até o elevam acima de um patamar muito mais baixo em que poderia ficar. Os jogadores vão encontrar aqui uma faceta mais profunda e divertida do jogo que se pode tornar difícil mas que vicia. É pena que este elemento em particular esteja envolto em elementos que são de uma qualidade inferior aquela em que se encontra.
Os visuais também em nada ajudam o jogo a conquistar pontos. A conversão da PSP não parece ter corrido pelo melhor e o facto de o 3D nem sequer ser usado é de espantar. Tendo em conta que temos longas sequências com visuais da animação, algumas até inéditas, era uma oportunidade de ouro combinar One Piece e o efeito 3D da portátil Nintendo. Não que este pormenor quebre a experiência mas pelo menos seria uma adição bem-vinda caso estivesse presente, nem que fosse nessas tão longas sequências. Nos combates, completamente 3D, acredito que seria uma funcionalidade desnecessária mas no resto é algo que poderia ter sido utilizado.
Quando vamos passar largas horas com a portátil na mão, a sensação que passamos mais tempo a olhar do que a jogar, combinada com uma estrutura simples e pouco motivadora, na qual a nossa portátil em nada é promovida, ficamos a questionar o porquê de comprar o produto. Os combates em muito ajudam o jogo a conquistar algum mérito mas é uma tarefa árdua levar todo um jogo às costas por si só. Os visuais poderiam ser bem mais do que são e fica a ideia que mais vale a pena esperar por Unlimited World RED. No entanto, ficam ideias mais do que interessantes que esperamos que sejam aproveitadas e tornadas mais coesas em sintonia com outras melhor executadas para uma sequela mais refinada e divertida.
One Piece: Romance Dawn é um caso bicudo de oportunidade perdida. É um produto que falha em tornar-se apelativo quer para fãs da série animada e mangá como para os jogadores com uma Nintendo 3DS que queiram algo diferente para o Natal. É repetitivo, aborrecido, e ainda tem a distinta lata de nem usar as funcionalidades 3D. Se o jogo em si já não era um grande produto então numa plataforma tão rica em produtos extraordinários, Romance Dawn atirou-se para um limbo do qual apenas sairá na mente de alguns jogadores muito específicos. A sensação que poderia ser muito mais e que não protege devidamente os seus melhores pontos chega até a ser cruel.