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One Piece Unlimited Cruise SP - Análise

Quando o ilimitado tem limites.

A montanha pariu um rato, depois da promessa de One Piece Unlimited Cruise SP conter os dois episódios da série, anteriormente lançados na Wii, ter resultado num corte do segundo em território europeu. Tudo pelo bem da inclusão de 5 línguas diferentes… na legendagem. E assim, um pacote com a palavra "especial" no nome perdeu um pouco dessa espetacularidade. Mas será esta versão realmente parca em conteúdo, quando recebe ainda a inclusão dos episódios Marineford e um modo Survival para jubilação instantânea?

O enredo de Unlimited Cruise 1: Treasure Among the Waves começa quando Luffy é transportado para a ilha dos sonhos, ao que lhe é prometido um presente por parte de uma misteriosa voz. O problema é que para garantir a sua aquisição, Luffy terá que convencer os seus amigos a embarcar numa demanda na qual terá que cumprir variados testes, a serem realizados num total de quatro ilhas diferentes. A proposta parece boa e, de volta ao mundo normal, Luffy expõe a situação aos seus companheiros. A custo de um rigoroso escrutínio, com uns mais propícios a embarcar na aventura que outros, se monta a estrutura que serve de fundação para todo o enredo.

É claro que isto não acontece de forma tão simples e, pelo meio, alguns acontecimentos assinaláveis moldam a forma como se processará toda a aventura. Desde logo o envolvimento da misteriosa criatura Gabri, o único elemento capaz de desbloquear variadas zonas das diversas ilhas. É aqui que assenta grande parte da estrutura desde jogo, pois a dita criatura necessita de converter os mais variados itens - que poderão ser encontrados pelas ilhas - em energia, como forma de desbloquear objetos que impedem a passagem a novos lugares.

Isto, desde logo, introduz uma mecânica de exploração que acaba por ser crucial no desenvolvimento do jogo. Muito do seu funcionamento dá-se com base naquilo que podem encontrar pela ilha, mas também naquilo que podem criar com esses elementos. Contem por isso com diversos incentivos à exploração, desde logo com a possibilidade de criar novas armas e utensílios, poções ou cozinhados. Os itens a encontrar são variados, desde plantas, materiais como madeira ou linho, até diversos tipos de animais.

Mas, com Gabri, ganharão acima de tudo a possibilidade de avançar na aventura, pois só assim conseguirão alcançar umas misteriosas árvores, que dão acesso a combates com os diversos "bosses". Ganhando estas batalhas, receberão ainda alguns incentivos à progressão. Explorando a ilha de uma ponta à outra permite encontrar novos itens e, consoante consigam destruir os vários bosses, ganharão ainda a possibilidade de navegar para novas ilhas. Assim se processa o jogo.

Não é que tudo isto seja altamente motivante, ou sequer empolgante. O processo é, desde o início, repetitivo. Aquilo que farão será progressivamente mais do mesmo, enquanto vão encontrando inimigos pelo caminho, evoluindo as personagens como assim o desejarem, enchendo o cabaz de itens e voltando ao barco para os despejar ou tentar dar algum uso. É um jogo de aventura somente porque todo o conceito de procura por objetivos e exploração assim o conota.

"Mas aquilo que faz de bem, e que os fãs poderão certamente agradecer, é dar a possibilidade de controlar todas as personagens desde o começo."

Elementos de jogos de aventura tem pouco. A jogabilidade em si é fraca, com as personagens a moverem-se de forma artificial, e enquanto as caminhadas pelas ilhas são nada mais do que um passeio com poucos pontos de interesse. Aquilo que vai buscar ao estilo RPG é também demasiado superficial, com a busca por diversos itens a esbarrar-se na possibilidade de os transformar em acessórios como único ponto de interesse. Por fim, enquanto jogo de combate, o resultado também não é o mais feliz. Existe até um bom número de ataques a desenvolver no cardápio de cada personagem, mas o combate em si não deixa de ser pouco profundo e enfadonho.

Mas aquilo que faz de bem, e que os fãs poderão certamente agradecer, é dar a possibilidade de controlar todas as personagens desde o começo. O jogador escolhe qual deseja aprofundar. Além disso, enquanto recriação do mundo One Piece, o jogo recorre constantemente a diálogos entre personagens e animações entre as mesmas. E, porque estas são bastante ricas e protagonizam episódios realmente divertidos, o jogo ganha com o uso desta licença. Sem fazer nada propriamente bem, acaba por conseguir na quantidade de material disponibilizado um dos seus trunfos.

Mas é um jogo de contrastes. Graficamente é pobre, com cenários normalmente recriados com base na mesma estrutura, repetida e reciclada vezes sem conta. Em jogo corrido, a recriação das personagens não impressiona, ficando todos os seus pormenores escondidos pelo serrilhado do qual tanto me tenho queixado na 3DS. Além disso tem ocasionais baixas de framerate, o que é sempre lastimável, e a câmara de jogo, face à inexistência do segundo analógico, é um empecilho em combate. Mas, no fundo, os modelos das personagens até estão bastante bem recriados, afundados em jogo corrido pelo tamanho diminuto que lhes é dado. Nas animações mostram o seu valor.

O jogo consegue arrecadar umas animações até bem decentes, seja nos ataques especiais em combate ou nas sequências de vídeo. Mas lá está, tudo isso de pouco vale quando a maioria do tempo é passado a deambular pela ilha. As vozes vêm em japonês como única possibilidade e o sistema de legendagem utilizado em certas sequências é péssimo, uma vez que as letras são tão pequenas que mal se percebem no ecrã. No meio de tudo isto acho extremamente irónico que o segundo episódio, tal como referi anteriormente, tenha sido cortado como forma de colocar essa legendagem localizada para os diversos países.

E tudo o que aqui foi dito serve para o modo Marineford, sendo que aqui a exploração desaparece. Tudo se baseia em combater, por vezes considerando determinadas condições, e vencendo o combate. Isso permite desbloquear novos combates e por aí fora. É especialmente bom para os fãs que quiserem utilizar, desde o começo, um punhado de personagens e seus melhores ataques sem grandes preocupações com a evolução das mesmas. Uma série de diálogos introduzem sempre os combates, já que a execução deste modo esta assente no arco narrativo de mesmo nome nos mangas.

E, uma vez mais, para os que apenas quiserem pegar no jogo e ter algum prazer instantâneo através do contacto com as personagens, terão ainda presentes os modos Survival. Com o 200 Down, deverão combater o mesmo número de inimigos num menor período de tempo, enquanto no Boss Rush o objetivo é vencer 50 bosses do jogo. Ao fazê-lo desbloquearão novas personagens para utilizar nestes modos. Sem qualquer opção de personalização do combate, seja dificuldade ou até o cenário de jogo, chegam como algo somente virado para quem procura algo a curto prazo. De complexo tem pouco e para muitos dificilmente valerá além da experimentação.

One Piece Unlimited Cruise SP não é tão ilimitado como se esperaria inicialmente mas, para os fãs que se queiram entregar a uma aventura da série pela portátil da Nintendo, consegue oferecer até uma dose aceitável de conteúdo. Porém, também não é como se isso valesse a pena para aqueles que já embarcaram pelas aventuras de Luffy na Wii. Ser fã acaba por ser, nesta equação, uma condição-chave, pois se certos elementos poderão por este grupo ser até desculpados, há aqui muito aborrecimento a ser encontrado pelos demais.

5 / 10

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