One Piece: Unlimited World RED - Análise
Nova aventura assente no passado.
One Piece é muito provavelmente a melhor banda desenhada/série animada que o Japão deu ao mundo. One Piece: Unlimited World RED mostra a Bandai Namco a pegar novamente na série mas ao invés de a combinar com Dynasty Warriors, mostra uma experiência diferente e para uma grande fatia do público alvo, muito mais fresca e até divertida. Isto porque a série Unlimited sempre esteve associada às consolas Nintendo e pela primeira vez no seu historial chega também à PlayStation 3 e PlayStation Vita, além da Nintendo Wii U e Nintendo 3DS. Para muitos evita a compra de uma nova consola especificamente para um único jogo mas por outro levanta algumas questões sobre como, e em que estado, um exclusivo Nintendo 3DS no Japão chega agora às restantes plataformas.
RED pega na fórmula estreada em 2007 no primeiro Unlimited Adventure lançado em exclusivo na Nintendo Wii. Agora temos o quinto jogo na série Unlimited e todo este modo aventura conquista uma profundidade que sinceramente consegue espantar. Principalmente ao constatar que resulta tão bem apesar de toda a sua simplicidade. Nada de novo aqui é feito mas resulta bem inserido neste mundo de One Piece. Qualquer jogo que ostente o nome One Piece atrai desde logo as atenções da sua enorme legião de fãs e como estamos perante um trabalho do Ganbarion, responsável pela série Unlimited, temo logo bons condimentos para o lume.
Um dos principais pontos de destaque neste RED é mesmo a ajuda que Eiichiro Oda prestou ao desenvolvimento do jogo. Não apenas como criador do material original que cede a sua visão, Oda criou personagens especialmente para esta aventura. Como seria de esperar, são as principais figuras desta jornada e de uma forma ou de outra acompanham os Piratas do Chapéu de Palha. Patrick Redfield, ou Red, é o principal antagonista e depois de passar algum tempo no nível 6 de Impel Down, aproveitou o caos causado por Teach para escapar e está agora pronto para libertar o caos sem qualquer piedade. O outro é Pato, uma caneta que comeu uma fruta que lhe deu as formas de uma espécie de texugo. Pato pertence a Redfield e ele tudo fará para o encontrar, mesmo quando este encontrou companhia ao lado de Luffy e amigos.
Confesso que o primeiro jogo inspirado em One Piece que joguei foi mesmo One Piece: Pirate Warriors e depois da sequela e de Romance Dawn na 3DS, a ideia com que fico é que os jogos inspirados na fenomenal obra de Oda conseguem captar a essência vibrante e tocante do material fonte mas nunca em pleno. A sensação com que fico é que o material fonte é mais do que suficiente para produzir algo mágico e envolvente mas que de alguma forma o gameplay escolhido nem sempre consegue acompanhar. Visuais de sonho conciliados com gameplay ligeiramente menos competente e alguns problemas técnicos eram o cenário que não queria ver repetido mas infelizmente tal parece repetir-se.
RED remete-nos para o modo história, o atrativo principal, no qual os Piratas do Chapéu de Palha vão encontrar Pato e sem saber embarcar numa jornada que os leva ao encontro de Redfield. O centro principal é a Train Town, uma pequena cidade que teremos que ajuda a crescer enquanto nos aventuramos pelo misterioso novo mundo. Ao todo temos 20 personagens que podemos selecionar mas aqui o grupo de piratas que tanto amamos são os grandes protagonistas. Todos eles podem ser escolhidos durante os níveis, alternamos em tempo real, e todos eles sentem-se diferentes quando os controlamos mas como seria de esperar, a cooperação é o que nos irá ajudar a ultrapassar as adversidades.
Este é um jogo de aventura com alguns elementos de RPG, não só porque os personagens sobem de nível e melhoram as suas habilidades, como também os podemos equipar com palavras que reforçam os seus parâmetros e lhes abrem acesso a novas possibilidades. O jogo cooperativo, mesmo com a IA, é imperativo pois responder a uma frase de um camarada pode mudar o rumo dos combates, principalmente contra os grandes bosses no final de cada nível. Em Train Town podemos conversar com os seus habitantes, que nos dão missões secundárias, podemos encontrar itens e aqui temos outro foco principal de RED.
Ao longo dos níveis vamos encontrar vários itens que temos que recolher para obter melhorias e para abrir novos espaços e possibilidades na cidade central. Além de melhorar o nível dos personagens, repetir níveis já batidos é um convite feito ao jogador para obter mais itens específicos e até para aceder a novos locais com outros personagens. Percorrer os níveis enquanto enfrentamos vários adversários menores em ritmo repetido não é levado à exaustão, até porque podemos passar por eles e nem lutar, o foco vai mesmo para a exploração. O equilíbrio entre combates forçados e exploração em níveis pequenos que se sentem desenhados para uma portátil criam um bom ritmo mas ainda assim sentimos que a experiência é um pouco mais ligeira e repetitiva do que deveria.
Na sua passagem para as consolas caseiras, onde analisamos o jogo, RED parece não ter conseguido esconder em pleno as suas origens mais humildes. A conversão de bens como texturas parece ser o problema mais gritante pois facilmente reparamos que os cenários são de uma qualidade bem fraca. Desde uma incrível sensação de vazio e monótono em termos visuais a um claro constatar que existe uma debilidade técnica, RED lembra-nos logo que estamos perante uma versão melhorada de um jogo nascido na Nintendo 3DS. Poderia enganar e fazer acreditar que não mas às vezes quase parece uma conversão direta.
Onde o feitiço se aguenta de forma estrondosa é nas cutscenes renderizadas com o motor do jogo mas que apresentam uma qualidade altamente superior ao que vemos durante o gameplay geral. É uma delícia ver personagens como Luffy ou Chopper em tons que quase enganam e nos fazem acreditar que estamos a ver uma série animada mas assim que passamos para o gameplay propriamente dito o contraste pode ser duro de suportar em alguns momentos. De resto temos a sensação que o jogo poderia ser muito mais rápido do que é mas isso passa após algumas horas com ele. Os controlos respondem bem e apesar de sentirmos que tudo é muito aleatório, aprender combinações e melhor forma de os aplicar recompensa.
O gameplay não tem tanta profundidade quando se poderia desejar mas até ficamos a pensar se precisaria disso. Quando os personagens se sentem suficientemente diferentes uns dos outros para rapidamente criarmos favoritos e comportamentos padronizados, sentimos que é o suficiente para criar diversidade na forma como sentimos a experiência de jogo, mesmo quando tudo é até repetitivo e não queremos admitir. Existe ainda um forte foco nos contra-ataques e na esquivar dos golpes (isto é mesmo imperativo para sobreviver aos níveis) portanto contem ver o ícone respetivo com alta frequência no ecrã.
Unlimited World RED é um jogo altamente competente e que cumpre com o que pretendia, apenas deixa o desejo por mais. Não consigo evitar que o gameplay precisava ser refinado e poderia ser mais rápida a ação. Os visuais, apesar de coloridos e espantosos nas cutscenes, podiam ser apenas um pouquinho melhores no gameplay, especialmente nos cenários que rodeiam os personagens que conseguem ser quase banais em vários momentos. O espírito da narrativa vai completamente ao encontro do que temos na TV ou BD. Elementos e mecânicas de jogo como o forte foco no sistema de contra-ataque ou desvio, a troca de personagens em tempo real e a valorização das combinações também é uma mais valia mas o pacote precisava de mais trabalho para se sentir mais coeso no geral.
One Piece Unlimited World RED é um produto que consegue no mesmo segundo deixar-nos deliciados com o que nos oferece como nos deixa perdidos de olhos arregalados a olhar para o vazio sem perceber porquê. Existem aqui problemas e erros que afetam a experiência geral e que precisavam ser limados, um gameplay que precisava de pequenos toques e retoques para acompanhar os brilhantes visuais que a Bandai Namco conseguiu alcançar. Para os acérrimos fãs da obra de Eiichiro Oda é de caras, RED é muito provavelmente um dos mais divertidos jogos que podem encontras nas prateleiras das lojas mas é pena que nem todos os aspetos tenham tido o mesmo cuidado.