Oreshika: Tainted Bloodlines - Análise
Uma linhagem em busca de honra.
O mundo de Oreshika: Tainted Bloodlines é um pouco estranho. A sequela para a PlayStation Vita de um clássico PlayStation One de 1999 é mais um daqueles produtos que oferece mais carisma ao catálogo da portátil. Cada vez mais casa para lançamentos indie ou produções que encontram lugar entre um pequeno grupo de jogadoras, a Vita pode não ser a casa dos AAA anuais mas conquista a passo e passo o seu pequeno espaço. Oreshika é mais um desses jogos que pretende apresentar uma produção que não iremos ver em mais nenhuma outra plataforma e que provavelmente sentimos que encaixa aqui. Para muitos será uma espécie de, 'ah, é mais um desse tipo de jogos na Vita' como outros que temos vindo a receber nos últimos tempos.
Como o nome sugere, em Oreshika iremos encontrar um clã que foi derrotado após ter sido traído por um demónio. Empenhado em recuperar o seu estatuto e a sua honra, renasce num novo pacto para eliminar o seu grande inimigo. O pior de tudo é que apenas podem regressar por um tempo limitado e não podem ter mais filhos, impedindo que a sua marca continue. Nada que não se resolva com uma união com deusas, ou deuses dependendo do sexo do vosso personagem, para criar mais personagens. Ainda assim, o tempo é escasso e cada incursão dura um precioso mês, obrigando a alguma gestão. Mas já lá vamos.
Quando o nosso clã tem a possibilidade de, por tempo limitado, voltar à vida e procurar vingança, teremos primeiro que escolher o nosso personagem e a equipa que o acompanha. Escolhendo de vários parâmetros de personalização, pegamos em bonecos genéricos para líder e dois lutadores adicionais. Após escolher a classe de cada um, existem oito no total, teremos então que conhecer a agradável doninha transformada em meia humana que será a nossa assistente. A deusa Kitsuto decidiu dar-nos uma pequena ajuda e permite que Kouchin nos impeça de ficarmos perdidos e à beira da loucura.
Isto porque Oreshika facilmente pode estoirar com a nossa cabeça. Existem imensas possibilidades e imensas mecânicas de jogo que teremos que assimilar. Muito mais do que um simples JRPG, este é um produto que pede ao jogador para investir muito tempo nos menus, na navegação de sub-menus para que a sua experiência seja concretizada em pleno. Entrar nas masmorras é apenas uma pequena parte de um todo e por detrás da experiência mais simples e directa, existe toda uma gestão a conhecer. Kouchin está aqui para nos ajudar por isso vamos por partes para não complicar isto.
Como o tempo está contado e temos que escolher bem o que fazemos, Oreshika permite que o jogador decida o que quer fazer. Podem desde logo entrar numa dificuldade mais elevada onde o jogo dura mais tempo e permite mais coisas mas fora do alcance e capacidade dos estreantes, como também podem entrar em modo semi-automático. Kouchin escolhe as acções recomendadas, ensina-nos os processos e mecânicas de jogo fora das masmorras e assim temos um produto mais simplificado. Mais acessível para jogar fora de casa. Se quiserem entrar em modo "manual completo", contem passar mais tempo nos menus do que nas batalhas.Tendo em conta que os nossos personagens têm um tempo de vida limitado, teremos que recorrer a casamentos para que novos membros do clã nasçam. Para isso teremos eliminar demónios nas masmorras do jogo, bastante simples e lineares até, para aumentar a devoção e desbloquear deusas/deuses cujos filhos terão melhores atributos. Ajudando nos combates mais avançados e perigosos.
Cada personagem vive apenas por dois anos por isso teremos que utilizar depois os filhos dos actuais e procurar mais deusas para procriar novos rebentos. A devoção é conquista nos combates por turnos onde cada classe tem os seus atributos específicos e onde o seu posicionamento é importante. Cada grupo adversário conta com um chefe que pode ser eliminado frequentemente logo no início e caberá ao jogador decidir se quer limpar tudo e ganhar mais devoção ou eliminar logo o chefe e correr menos riscos. O esquema de combates é simples e pouco de novo oferece, além de uma outra mecânica específica (como dois personagens que se juntam para feitiços mais poderosos).
Devem ter ainda em conta que além da câmara para capturar as faces, Oreshika em nada utiliza as capacidades específicas da Vita por isso não contem com interactividade táctil nos combates. Antes do início dos combates temos uma espécie de roleta que nos pode dar itens ou armas senão teremos mesmo que comprar melhores produtos na aldeia do clã. Um pequeno ponto onde teremos que ter sempre em conta a preciosa gestão do nosso tempo. Em determinados meses existem certas lojas abertas, teremos que escolher quais as que queremos ajudar mais e os descontos são sazonais.
Adicionalmente, melhorar os personagens em combate será tarefa obrigatória. Os inimigos deambulam livremente pelos cenários, sempre visíveis, mas até aqui o precioso tempo passa e poderemos arriscar muito ao passar mais tempo onde não devemos. Oreshika é um jogo que não faz muito de novo mas que aplica conceitos diferentes e até interessantes para dar algo diferente. Entre masmorras, procura de itens para progredir mais nas mesmas, gestão do clã e criação de novos membros do clã, Oreshika irá fazer com que o tempo passe a voar e se evitarem o aborrecimento, gerir o clã e combater será curioso e divertido quanto baste.
Visualmente estamos perante um dos pontos fortes do jogo. Infelizmente não existem muitos locais cuja criatividade artística tenha força suficiente para ficar na nossa memória mas existem bons momentos. O uso de cenários completamente 3D que imitam a tradicional arte Japonesa é uma vitória incontestável para o jogo. Não só porque encaixa na perfeição na temática mas também porque é sempre algo belo de ver em movimento. Por vezes ficava com a sensação que com a devida escala e empenho o motor nos poderia dar momentos visuais mais arrebatadores mas como está é competente o suficiente.
Por fim resta-me falar da longevidade e como Oreshika poderá ocupar muito do vosso tempo. A presença de várias dificuldades, com tempos de jogo diferentes, e a possibilidade de gerir tudo ao pormenor ou permitir que Kouchin trate disso, assegura que o produto esteja dentro das condições necessárias de um jogo portátil. Ainda assim, existe aqui muita profundidade para descobrir nos casamentos, melhoria da aldeia e na gestão do nosso clã. Facilmente passarão mais de 20 horas a explorar tudo o que Oreshika oferece. Podem ir ainda mais além disso, muito mais, se não ficarem aborrecidos pelo caminho.
Oreshika: Tainted Bloodlines é mais um interessante produto com boas indicações mas que por força das suas mecânicas, apenas poderá ser indicado para jogadores pacientes. Os combates são simples e os visuais agradáveis mas toda a gestão de tantas mecânicas poderá assustar facilmente os menos precavidos. Os restantes, terão aqui um curioso produto que os poderá cativar durante algum tempo mas ainda assim existe aqui algum risco na avaliação do produto e como se poderá encaixar no nosso tempo livre. Confesso que Oreshika é um jogo difícil de recomendar mas também está longe de ser uma experiência a evitar.