Outlast 2 - Análise
Repórter do macabro.
O primeiro Outlast foi uma surpresa, sendo uma espécie de luz ao fundo do túnel numa época em que os jogos de terror pareciam estar a passar algum tipo de crise de identidade. Pegando nas bases estabelecidas por Amnesia, que privava o jogador de ser poder defender, o primeiro Outlast primou por uma atmosfera aterradora e momentos macabros. A sequela tenta pegar nesses elementos e repetir a proeza, mas não funciona tão bem e o resultado não é tão satisfatório.
Na sequela controlámos mais uma vez um repórter, Blake Langermann, acompanhado pela sua mulher, que está a investigar a misteriosa morte de uma rapariga gravida. Juntos viagem até ao estado do Arizona para descobrir mais informações até que o helicóptero despenha-se. Quando Blake acorda, não encontra sinais da sua mulher e parte desesperadamente à sua procura. Obviamente que algo de errado se passa na região. Os caminhos estão horrosamente decorados com corpos sem pele e mutilados.
Outlast 2 mergulha em temas religiosos e mostra o resultado de uma interpretação pervertida da bíblia. De um lado temos um culto que acredita que o anti-cristo está a caminho, do outro temos um grupo que quer acelerar a chegada do fim do mundo. No meio estão os dois repórteres que são atirados para um poço de loucura. Não existem muitos jogos a enveredar por temas tão arrojados, mas no caso de Outlast 2 é eficaz. Normalmente nos jogos de terror temos identidades sobrenaturais, mas aqui os monstros são pessoas de carne e osso dispostas a cometer atrocidades que envergonhariam a inquisição medieval!
As mecânicas associadas à jogabilidade permanecem as mesmas. A vossa única ferramenta é uma câmara de video com capacidade de ver no escuro e também um microfone, uma novidade. O microfone serve para ouvir ameaças que estão por perto mas fora do vosso campo de visão. Outlast 2 aposta em espaços mais abertos e requer que se escondam muitas vezes na vegetação, onde não conseguem ver muito bem, pelo que a adição do microfone é valioso para se manterem escondidos. Tal como no primeiro jogo, também precisam de encontrar pilhas para a câmara regularmente e ligas para se curarem.
"Outlast 2 mergulha em temas religiosos e mostra o resultado de uma interpretação pervertida da bíblia"
O problema desta sequela é que, embora aproveite muito do original, é pior em algumas coisas. Percebemos a filosofia de não dar armas ao jogador para ele não se poder defender e criar uma sensação ainda maior de terror, ou pelo menos de desprotegido, mas em Outlast 2, como as áreas são maiores e encontramos mais frequentemente adversários, funciona em detrimento do jogo. Pior ainda, como nem sempre percebemos o que temos de fazer, perdemos e temos que repetir novamente a sequência, dissipando a atmosfera de terror e instaurando-se a frustração. Isto já acontecia algumas vezes no primeiro, mas mais uma vez, o problema faz-se sentir mais na sequela, que deveria ser superior ao primeiro jogo.
Em grande parte, Outlast 2 é um jogo das escondidas. Podem esconder-se nas vegetação alta, dentro de bidões e dentro de casas. Em caso de fuga até podem trancar as portas para atrasar os perseguidores. O jogo não é mais longo do que o primeiro, mas depois da primeira ou segunda hora, torna-se repetitivo e cansativo. Outlast 2 recorre demasiadas vezes às mesmas tácticas e mecânicas, o que é péssimo para um jogo de terror. Um bom jogo de terror consegue tem que conseguir surpreender até ao fim. A partir do momento que se torna previsível, o terror desaparece.
Outlast 2 ainda tem momentos assustadores, mas curiosamente, estão reservados para uma história que se entrelaça com a actualidade. Esta história mostra alguns momentos da infância do repórter e coloca-nos a percorrer os corredores sombrios de uma escola católica. Enquanto a história principal se foca sobretudo na carnificina, esta história paralela prima pelo terror psicológico. Ainda assim, acaba por cometer a falha de repetir a mesma táctica. Inicialmente ainda fomos assustados, mas depois o efeito foi perdendo o efeito gradualmente até que, já na recta final, estamos indiferentes.
Por outro lado, o jogo faz um uso inteligente da iluminação para instaurar o pânico. Este é um jogo escuro com poucas fontes de iluminação, e quando precisarem de fugir, facilmente vão sentir-se desnorteados e sem saber para onde ir. Contudo, isto também causa a frustração mencionada a cima. As áreas são mais abertas do que no primeiro, mas não significa que têm liberdade total. Existe um caminho específico que o estúdio traçou para vocês percorrerem e nem sempre percebemos à primeira para onde temos que ir. Por vezes, o sítio está escondido ou passa despercebido porque estão a correr de um lado para o outro a fugir dos inimigos maquiavélicos.
"Outlast 2 ainda tem momentos assustadores"
A história inicialmente mantém-se sã, mas quando Blake começa reviver as memórias do seu passado, é difícil acompanhar. O problema é que para acompanharem a história e perceberem minimamente o que está a acontecer, precisam de ler os muitos documentos de texto que vão encontrar pelo caminho e rever as gravações narradas por Blake (são 55 documentos e 50 gravações no total). Não somos contra histórias enigmáticas, mas depender de coleccionáveis para perceber minimamente a história é forçado. Uma coisa é ter de prestar atenção aos pormenores, outra é ter de apanhar mais de 100 coleccionáveis para acompanhar a narrativa. Não é propriamente a melhor forma de contar uma história nem tão pouco é amigável dos jogadores.
Outlast 2 é uma sequela que falha em superar o primeiro jogo. Ainda consegue assustar e deixar-vos arrepiados, pelo menos nas primeiras horas, mas o uso recorrente das mesmas tácticas, bem como a falta de variedade na jogabilidade, tornam-no progressivamente cansativo. Por outro lado, o tema é arrojado e diferente dos restantes de jogos terror. A história é um misto de sensações. Gostámos da história depois de a percebermos, mas a forma como é contada não é a melhor. Existem melhores formas de contar uma história enigmática.Se gostas de jogos de terror, Outlast 2 será uma experiência razoável.