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Paper Mario: Color Splash - Análise

Explosão de cores na recta final da Wii U.

Um jogo na linha de Sticker Star: mais previsível e pouco apto a inovações. Ainda assim uma boa aventura, bem localizada para português.

Esta é a derradeira aventura da mítica mascote da Nintendo na plataforma Wii U. No próximo ano a Nintendo deverá lançar a sua nova consola, a NX (nome de código) e com ela mais aventuras do canalizador do Mushroom Kingdom. É um pouco ambíguo, de resto, que um jogo recheado de tantas cores, estilo e um design quase festivo, desponte numa fase algo monocromática por que passa a Wii U. Sem os lançamentos dos jogos indies (apesar de muitos deles terem saído noutras plataformas), seria ainda uma fase mais difícil para os utilizadores desta tentadora plataforma ao tempo do seu lançamento, que não teve o reconhecimento e o sucesso que os responsáveis esperavam conseguir.

Cabe por isso a Paper Mario: Color Splash realizar o último voo e inaugurar o fim de ciclo de exclusivos da Nintendo, que acontecerá com a próxima aventura de Link, por ocasião do lançamento da NX. Mais uma vez é a Intelligent Systems que está por detrás desta aventura, a mesma produtora das séries Fire Emblem e Advance Wars. É um dos melhores estúdios da Nintendo, capaz de combinar originalidade (Pullblox e Code Name S.T.E.A.M) com tradição, como sucede com a série Paper Mario, da qual é responsável.

Resta saber se este é jogo para fechar com chave de ouro os quatro anos de presença da Wii U no mercado. Muitas vezes o fim de ciclo de uma consola tende a proporcionar grandes jogos. O estúdio fez isso com Paper Mario: Thousand Year Door na GameCube (até hoje o meu Paper Mario favorito) e noutras plataformas aconteceu o mesmo (Okami, PS2; Skies of Arcadia, Dreamcast). Mas a "fuga" das produtoras para a NX, numa decisão da Nintendo que parece trazer à memoria o mesmo que a Microsoft fez com a Xbox original quando a abandonou para adiantar serviço na Xbox 360, deixou um ou dois estúdios no activo, com uma tarefa bastante complicada pela frente, sabendo que o parque de consolas Wii U instaladas não é muito elevado.

A excitação de uma nova aventura.

O mérito da Intelligent Systems na produção de Paper Mario reside não só no seu design único que lhe confere um estatuto especial quando comparado às produções centrais oriundas de Yoshiaki Koizume, como na conjugação entre elementos típicos dos jogos de role play com as plataformas e o universo de personagens do Mushroom Kingdom. Paper Mario para a Nintendo 64 e sobretudo A Thousand Year Door para a GameCube reforçaram a presença dos elementos de role play, ambos jogos no encalço do Super Mario RPG Legend of the Seven Seas (uma produção conjunta com a Square Enix). Mas desde Sticker Star (2012, 3DS) que se configurou como definitivo um modelo simplificado, especialmente nas mecânicas de combate e na componente role play, deixando para Mario & Luigi (outra série spin off) esse papel.

Pessoalmente achei interessante Sticker Star, embora fosse claro a distância que vai para o jogo da GameCube, bem superior. Color Splash continua por isso distante e é quase um prolongamento do jogo criado para a portátil, com a excepção a ir para as adaptações efectuadas por intermédio das cartas coloridas. No seu núcleo são jogos muito próximos. Se receberam com moderação o jogo da 3DS, preparem-se para algo no mesmo quadro em Color Splash, até porque o sentido de evolução é escasso.

Mesmo a funcionar como último cartucho, nem por isso a Nintendo deixou de apostar e fazer tudo para entregar um jogo capaz de satisfazer todas as audiências. Se os fãs nascidos na década de oitenta, por exemplo, não se importam com o uso do inglês, os mais novos vão apreciar e agradecer a localização para o português, um crédito que tem de ser atribuído ao braço da Nintendo em Lisboa que viu acolhido o seu pedido de modo a fazer deste Paper Mario uma opção para a pequenada.

As áreas mudam consoante a nossa intervenção.

Aliás, os diálogos constituem uma componente central como é de esperar em qualquer aventura. Apesar da sua simplicidade, reverberam imenso humor, dentro daquele tom cómico característico a que nos acostumamos encontrar nos jogos da Nintendo. Se existem aventuras com diálogos mais enfadonhos ou de circunstância, mesmo não sendo este dos melhores guiões num Paper Mario, é argumento suficiente para nos deixar mergulhados e à espera da cena seguinte. Os Toads são mais uma vez o capacho. Recém-chegado ao Porto das Cores, Paper Mario descobre que a tinta que outrora emprestou um colorido magnífico à cidade, desapareceu. Com ela perderam-se os Toads e as estrelas colossais que estabeleciam uma espécie de equilíbrio foram roubadas...pelos suspeitos do costume. Recolhendo tinta através de umas palhinhas, os Shy Guys são como piolhos que não desarmam e enfrentam Paper Mario se necessário for.

Felizmente, o nosso protagonista contará com o precioso apoio do Pintas, um balde de tinta que auxilia o herói nos momentos de dúvida, mas que também oferece tinta e alarga a quantidade que podemos acumular. Usando o poderoso martelo, o herói pode começar por restaurar a vida e devolver o equilíbrio às diversas regiões que compõem o mapa (existe um mapa mundo como em Super Mario Bros 3). A tinta pode ser encontrada nos mais diversos sítios, através de gotas visíveis. Batendo com o martelo nos pontos sem tinta preenchemos a falha de cor e podemos ganhar uma data de coisas como cartas de combate.

Importa não gastar tinta ao acaso no cenário. Convirá guardar uma grande parte dela para os combates, nos quais podem canalizá-la para as cartas, que pintadas rendem muito mais dano sobre o adversário. Os combates decorrem na forma tradicional por turnos. Se forem rápidos a pressionar o gatilho (botão de ataque), antecipando-se aos adversários, partem com vantagem, lançando uma primeira vaga de golpes. Depois, poderão escolher uma carta, normalmente desenhada com um par de tamancos que significa que Paper Mario saltará sobre os rivais. Os desenhos traduzem a especialidade do ataque. Claro que há cartas mais fortes que outras, sendo algumas mais difíceis de encontrar. Estas poderão ficar reservadas para as "boss fights", batalhas com maior possibilidade de erro.

Um mundo de papel para colorir.

A utilização destas cartas é muito simples. Após a selecção de uma delas, pintam a carta tocando nela (dará um efeito maior ao ataque) e jogam-na para o centro da acção. A partir daí podem maximizar os efeitos de ataque efectuando certas combinações quando o herói se posicionar ao ataque. São técnicas já conhecidas, que tanto servem para o ataque como para a defesa. Neste caso o processo é mais complicado, pois o tempo de reacção às investidas é muito curto e quase sempre somos apanhados desprevenidos. Mas não custa tentar. Uma das desvantagens deste sistema é que é um pouco moroso, especialmente quando temos um combate quase de rotina e nos sujeitamos a todos estes passos durante algum tempo. Por outro lado não oferece uma estrutura rica ou profunda. A sua simplicidade faz-nos recuar quase aos primórdios dos combates de role play, através de uma série de golpes que se repetem. Esperava encontrar mais diversidade e soluções. A mecânica é muito fácil e só mesmo nas "boss fights" é que acabamos por encontrar mais oposição, dificuldade e alguma estratégia.

Color Splash parece também funcionar como uma espécie de aventura interactiva. Não há dúvida que é um jogo elegante, bonito e desenhado de forma a criar um convincente mundo de papel. Mas não é tão enigmático ou recheado de surpresas como o clássico Thousand Year Door, um jogo mais fascinante e com uma arte duradoura, que ainda hoje perdura. Com uma série de áreas interconectadas, existem inúmeros puzzles em cada uma. Nos recantos escondem-se surpresas (um Toad que ficou sem roupa e se esconde por trás de uns arbustos com receio da nudez) e ocorrem sempre imprevistos. Outras vezes o espaço transforma-se em algo diferente e lá terá Paper Mario que descobrir e resolver o mistério.

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Nalgumas partes podemos interagir com uma série de objectos designados de "coisas" que uma vez deslocados para pontos específicos operam uma transformação, desbloqueando uma passagem até então inacessível. A interacção com o cenário através do ecrã táctil é outra possibilidade, na forma como permite criar plataformas e pontes, por exemplo. O resultado é satisfatório ainda que se trate de uma implementação simples. Para os mais pequenos estes testes são um pouco mais difíceis, pelo que convirá ter um adulto por perto a garantir supervisão.

Não sendo o Paper Mario mais profundo da série, revelando-se até algo distante do conseguido em Thousand Year Door, a nova produção da Intelligent Systems acaba por emprestar um pouco mais de cor e vida à recta final da Wii U. Color Splash é uma aventura leve e descontraída. Talvez o seu ponto mais negativo seja a ausência de um sentido de inovação e desenvolvimento que o coloque num estatuto único. Quase tudo o que mostra foi já visto ou desenhado, numa aproximação evidente a Sticker Star. Em contrapartida oferece bons visuais, é uma aventura que se percorre quase como uma montanha russa em papel, suficientemente desafiante, e a localização para português joga a favor dos mais pequenos, podendo assim pais e filhos, avós ou netos, desfrutarem de um bom momento, juntos.

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