PES 2019 - Análise - estádio cheio para ver jogar os craques
Liga-NOS o futebol.
Este ano PES chegou mais cedo. A Konami antecipou o seu jogo de futebol em quase 15 dias, puxando-o para o final de Agosto, numa altura em que está a fechar o mercado de contratações e muitos campeonatos europeus estão a cumprir as primeiras jornadas, iniciando as temporadas desportivas. É uma decisão arrojada, mas reveladora da confiança que a Konami deposita nesta edição, que em jogabilidade, animações, física e grau de produção de futebol virtual, é a mais desenvolvida.
A Konami sublinhou a certeza da qualidade do seu jogo quando logo no início do mês abriu as portas a uma demonstração muito sólida e deveras convincente. Muito embora não fosse representativa do produto final, perfumou os campos virtuais com aquele futebol preciso (a caminhar para duas décadas de existência), de tremendo corte técnico, deixando antever as melhores expectativas para a versão final. Verdade que depois de adoptar o Fox Engine como tecnologia e motor gráfico para PES, a equipa de desenvolvimento soube melhorar e encontrar um caminho para as partidas virtuais. As últimas edições de PES traduzem precisamente essa evolução, através de melhorias substanciais nas animações, na iluminação, no toque e física de bola, tornando muito vivos e intensos os lances, cada pequena disputa de bola, cada remate ou cabeçada.
PES 2019 não só reforça esse capítulo como ainda melhora a experiência da prática do futebol virtual. As animações nunca foram tão realistas como agora, as manobras e movimentos do corpo, as recepções, quedas e desequilíbrios geram-se de forma bem mais convincente. O detalhe e desenho dos jogadores emerge a olhos vistos, e as partidas não só continuam fluidas e enérgicas como desafiantes. É nos relvados virtuais que PES continua a marcar mais pontos, a consolidar um desenvolvimento, reflexo também da audição da comunidade e desenvolvimento de um rumo apontado há vários anos.
No entanto, há também um outro lado do futebol virtual, composto pelas provas e competições internacionais que adquirem um estatuto central, sobretudo no quadro do futebol europeu. É uma batalha que já se percebeu há muito ser algo desigual. Este ano PES 2019 vai a jogo sem a Liga dos Campeões, a Liga Europa e a Supertaça Europeia, provas que faziam parte das opções e modos de jogo desde PES 2008. Foram quase 10 anos de frutuosa ligação, mas que não se repete nesta edição.
Esta é claramente uma outra batalha. A Konami está ciente disso, mas é capaz de manter a ligação com as comunidades, percebendo que através de parcerias com clubes assegura algumas exclusividades, entre emblemas muito importantes, com destaque para o Barcelona e Liverpool, por exemplo (Filipe Coutinho passou do Liverpool para o Barça, a temporada passada, figurando como a capa de PES 2019). Por outro lado reforçou o número de ligas oficiais, das quais o grande destaque vai obviamente para a Liga NOS com os 18 clubes devidamente licenciados, não faltando, nesta geração de consolas, a inclusão do Estádio Alvalade XXI.
A nossa primeira Liga está assim devidamente representada, com os emblemas e as cores oficiais da quase vintena de clubes que disputam o patamar maior do futebol português. À liga NOS juntam-se oito outras ligas: a primeira liga russa, a superliga argentina, a Spor Toto turca, a superlota dinamarquesa, a superlota suíça, a premiership escocesa, a liga belga e o campeonato chileno. É certo que se trata de competições um pouco secundárias no quadro dos campeonatos europeus, no entanto, a Konami estabelece pontes para muitos fãs, adeptos de clubes que começam a disputar com maior regularidade as provas internacionais.
No total a presença de sete novas ligas, estando ainda assegurada a parceria com mais clubes, com destaque para o FC Shalke 04, um clube da liga alemã, que este ano é adversário do FC Porto na Liga dos Campeões. Curiosamente, ao longo da temporada a Konami irá anunciar outras parcerias, não faltando os estádios. O Nou Camp, do Barcelona, é uma das estrelas, assim como o reduto do Arsenal, em Londres, a juntar ao estádio do Fenerbace, o Allianz Park e o estádio do Palmeiras. Em números redondos, perto de quarenta estádios, sujeitos a diferentes condições meteorológicas, nomeadamente precipitação e queda de neve.
"Perto de quarenta estádios, sujeitos a diferentes condições meteorológicas, nomeadamente precipitação e queda de neve."
Diga-se que os efeitos visuais são mais uma vez impressionantes, não só nas bancadas onde podemos ver o público rejubilar, entoando cânticos com os cachecóis abertos e as bandeiras ao vento, mas também no relvado. De dia é a luz natural que dá uma claridade e luminosidade incríveis (é assombroso ver o Nou Camp repleto de público através de uma perspectiva aérea numa tarde de sol), enquanto à noite a luz artificial nos estádios produz diversas tonalidades. Os efeitos da água nas partidas disputadas à chuva, a sujidade nos equipamentos e até a acumulação de neve (só em certos estádios) garante não só um aspecto visual muito competente e realista - quase cinematográfico - como tem efeitos na prática do futebol, levando a novas tácticas e desempenhos da equipa.
Se em termos visuais PES 2019 começa por nos encantar, com as equipas alinhadas no túnel de acesso aos relvados, entrando gloriosamente no relvado, é a partir do apito inicial dado pelo árbitro que descobrimos paulatinamente uma melhoria muito grande no tocante à jogabilidade. Para começar a magnífica sensação de toque de bola, através das recepções, drible e condução, por via dos passes e cruzamentos. Se as anteriores edições de PES se demarcaram neste campo, em 2019 a equipa de produção foi ainda mais longe, esmerando-se nesses pontos e nas animações e habilidades dos jogadores, produzindo um refinamento e mais subtilezas que tornam os processos mais fluídos, naturais e tremendamente agradáveis de realizar.
É provavelmente o PES que mais evolui neste capítulo, elevando ainda mais a fasquia. Se o detalhe e as animações dos jogadores favorecem diferentes abordagens à bola, a velocidade dos passes, os toques, encontros, dribles e remates são afectados por vários factores, que dependendo das jogadas tornam mais imprevisíveis os desfechos, produzindo um futebol mais natural. Nesta edição a Konami acrescentou não só mais animações mas também habilidades, dotando os jogadores de mais capacidades para criarem lances e oportunidades de golo.
"A velocidade dos passes, os toques, encontros, dribles e remates são afectados por vários factores"
Os passes já não saem tão automáticos e esse é talvez o factor crucial em PES 2019, algo que já se adivinhava nas anteriores edições, uma desautomatização dos processos. Não é uma deriva para o passe manual, mas é um processo mais equilibrado, capaz de produzir incertezas e mais imprevisibilidade nas movimentações. Claro que os jogadores mais habilidosos serão os primeiros a usufruir de um conjunto de 11 novas habilidades adicionadas, com destaque para as intercepções, cruzamentos e passes, não faltando o especialista na marcação de penaltis. Mas para isto há uma secção reservada ao treino onde é possível compreender as técnicas adicionadas e aperfeiçoá-las.
Os dribles não são tão automáticos. Ainda que encontrem jogadores velozes e tirem partido de Cristiano Ronaldo para uma corrida pela lateral, vários factores podem condicionar o desfecho de um drible que pode resultar num bom cruzamento ou numa queda precedida de um desequilíbrio ao primeiro encosto. As possibilidades de fintas com maior precisão são maiores mas a sua execução está bem dificultada pela proximidade dos defesas. No entanto, jogadores como Neymar ou Messi como que sacam facilmente a tampa da garrafa. Até mesmo Mbapé. Neste quadro, a equipa do PSG, graças ao seu grande 11 inicial consegue impressionar.
Por outro lado, as situações de remate à baliza, num tiro de primeira e colocado, foram alvo de novas animações. A sua execução plena é mais difícil mas quando atingido com sucesso através de um jogador apto para o efeito é ampla a possibilidade de tentos de belo efeito. Ao invés, os jogadores reagem efusivamente aos disparos laterais ou falhanços de golos mais do que feitos. Isto acaba por conferir mais autenticidade e vibração para quem segura o comando.
Ao nível da fadiga a Konami acrescentou sinais que representam cansaço. Os jogadores passam a exibi-los quando se sentirem mais vulneráveis, quase pedindo uma substituição através de indicações dadas em campo. Nesse momento a janela de substituições rápidas pode surtir efeito, bastando premir um botão para o efeito, já que o computador define o jogador certo para a troca tendo em conta vários factores.
"Ao nível da fadiga a Konami acrescentou sinais que representam cansaço"
É nos efeitos da bola, passes e posicionamento dos jogadores que se verifica a maior incerteza de alguns lances. A força com que passam e a intensidade com que cruzam tornam os lances mais imprevisíveis. O movimento da bola é mais natural, o que leva a que a postura do jogador, por exemplo, tenha mais importância numa recepção e até num remate. Antecipar as recepções ou mesmo preparar a jogada, é elementar para praticar bom futebol.
O futebol torna-se assim mais preciso e rendilhado, se formos capazes de tratar bem a bola e usar as melhores habilidades dos jogadores para superar as bem montadas defesas dos adversários. O ritmo e fluidez das partidas são bons, nem muito rápidos nem demasiado lentos. A Konami parece ter encontrado um ponto de equilíbrio, reforçando-o com o movimento mais natural da bola, criando contextos mais plausíveis mas abrindo situações de incertezas, a partir do qual um choque entre dois jogadores ou um pequeno toque pode abrir uma clareira para golo. Os guarda-redes continuam a portar-se globalmente bem, travando imensos remates mesmo os tiros de maior proximidade.
Em termos de opções e modos de jogo, a Konami implementou alguns desenvolvimentos interessantes e melhorias nos modos tradicionais, mas não veicula propriamente novas opções. Continua assim a existir uma divisão entre a tradicional Master League, renovada e com a inclusão da International Champions Cup como troféu de pré-temporada, e o modo myClub, um desafio tanto off como online. A opção Become a Legend também está presente mas não revela tantas novidades.
No caso da Master League, o destaque vai para a adição da International Champions Cup, uma prova de pré-temporada que junta a nata dos melhores clubes do mundo em partidas amigáveis disputadas nos Estados Unidos. O Benfica esteve representado na última edição. Entre as alterações destacam-se ainda o sistema de negociações (as condições são definidas previamente, tornando mais clara a negociação) e a gestão do orçamento para a temporada. Uma secção com notícias e vídeos do clube está agora adicionada ao dia-a-dia do clube, com relevo para as conquistas e momentos mais importantes, como conferências de imprensa e prémios aos jogadores.
A Konami apostou ainda num desenvolvimento mais preciso e realista dos jogadores, através de um quadro mais alargado e de um processo de gestão mais evoluído. Em suma, algumas alterações, embora em termos de espinha dorsal seja a Master League como a conhecemos, com destaque este ano para a introdução dessa prova de pré-temporada, óptima para o embate com os rivais de maior tarimba.
"No caso da Master League, o destaque vai para a adição da International Champions Cup"
No âmbito da competição online, destacam-se o modo Divisões Online a partir do qual jogámos com outros adversários o troféu mais ambicionado, podendo ainda culminar na subida ou descida de divisão. Porém, em termos de ligação online o destaque está reservado para o modo MyClub, que a Konami reforçou esta edição. Assim, começa por mostrar um quadro com os jogadores que melhor estiveram ao longo do fim-de-semana desportivo, tendo como base as partidas verdadeiras.
O objectivo desta competição passa por criar um clube com as mais importantes estrelas do futebol. Para isso terão que negociar contratos com os jogadores recorrendo às moedas myClub, a unidade monetária. Estas adquirem-se regularmente através de acções e objectivos tanto pela via online como offline. Este ano a Konami introduziu os jogadores duplicados, podendo trocá-los por jogadores com a mesma raridade. Todos os jogadores negociados começam com o nível 1. É possível afectar um treinador ao desenvolvimento de determinada habilidade num jogador, ou então para assegurar uma melhoria na posição que o jogador ocupa em campo. A versatilidade deste modo myClub está na ligação online ou offline, levando a que os jogadores possam participar em imensas competições e até fazer uma comparação entre os plantéis. Veremos como a Konami intensificará este modo de jogo no futuro, através de updates e da inclusão dos jogadores lendários, já previstos (Nedved, Maldini, Maradona, David Becham, entre outros).
PES 2019 é viciante, um jogo que eleva a fasquia do futebol virtual graças a um refinamento e desenvolvimento dos vários elementos que concorrem para a formação da jogabilidade. É no quadro do futebol praticado que PES apresenta os melhores sinais ao ponto de se posicionar como um dos melhores senão o mais desenvolvido PES desta geração, extravasando de realismo na apresentação e movimentos dos jogadores, em ambientes de grande intensidade. O conservadorismo algo evidente nos modos de jogo é talvez o ponto mais sensível desta experiência, a justificar maior atenção para o futuro, a que acresce as dificuldades de licenciamento das mais importantes competições. Porém e para nós, a presença da Liga NOS, devidamente oficial, e a inclusão do estádio de Alvalade XXI, são reforços de peso, em sentido com a aposta da Konami em não perder de vista demais campeonatos e a ligação à comunidade. No campo, a Konami volta a mostrar o seu melhor com uma edição absolutamente memorável, capaz de fazer as delícias dos adeptos da competição virtual.