Passar para o conteúdo principal

PES 2020 - Análise - É dia de jogo

Futebol elegante e perfumado.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
O futebol jogado continua a fazer diferença pela positiva, numa experiência dividida entre o online e o single player.

Chegados a setembro, rolam as bolas dos campeonatos do futebol, começam as peregrinações aos estádios - cachecol sobre os ombros - e dá-se por finda uma espécie de "silly season" alimentada por novelas de contratações, entre as que se concretizam e as que se adiam.

Mas este é também o tempo do esférico virtual, das partidas de futebol de comando na mão, bebida sobre a mesa e olhos no televisor, cada qual puxando pela sua equipa. Em bom rigor, é também o tempo de uma nova edição de PES, anunciada há poucos meses pela Konami, num périplo por alguns dos mais importantes campos de futebol europeus.

Em julho conhecemos as coordenadas da nova temporada futebolística em Turim, no imponente estádio da Juventus, este ano uma equipa parceira de PES 2020, juntamente com Barcelona, Manchester United e o Bayern Munich. Os clubes não licenciados continuam a fazer parte de PES, embora com novas designações. No campeonato inglês, por exemplo, os nomes dos clubes até estão certos, mas unidos à letra B, como se fosse uma equipa secundária, não oficial.

Porém, só em parte isto pode ser um problema para o adepto acérrimo. Uma questão que de resto, e como é hábito, só pode ser problema se não for contornada por intermédio do "option file", um sistema de transferência de dados de uma pen para o disco da consola, que numa questão de minutos transforma em verdadeiros todos os clubes, selecções e competições. No entanto, é sempre bom poder jogar com os clubes nos estádios devidamente modelados. Quando a Portugal, a liga NOS, à semelhança do ano passado, está devidamente representada. Dos três grandes apenas o Sporting pode actuar no seu estádio. Porto e Benfica ainda têm que pedir casa emprestada.

Ver no Youtube

A inclusão das equipas supra licenciadas vem juntar-se a uma série de novos campeonatos e competições. São dez novas ligas, com destaque para alguns campeonatos da Europa. Como acontecera no passado, este ano a Konami também promete acrescentar mais clubes oficiais ao longo da temporada, através de DLC's, estando prevista uma actualização para o campeonato Europeu que irá acontecer no próximo ano.

Jogar com os clubes oficiais em PES 2020 que beneficiam de parceria, equivale a jogar no respectivo estádio, a receber um tratamento de entrada em campo através do túnel, que não é dado a outro clube. As claques vibram de entusiasmo nas bancadas e as perspectivas sobre o campo equivalem a uma transmissão televisiva (há uma nova perspectiva sobre o relvado). Na verdade, desde a introdução do Fox Engine que a equipa de produção capitalizou imenso no quadro gráfico. As mudanças visuais poderão não ser muito perceptíveis de ano para ano, mas é inegável que nos efeitos de luz e cores, PES continua muito bonito, destacando-se a modelação rigorosa não só dos jogadores como dos estádios.

Os artistas da bola sobem ao relvado

As emoções de uma partida de PES só começam após o apito inicial. A partir desse instante abre-se toda uma estratégia e sensação singular de controlo do esférico. PES continua a oferecer uma solução bastante equilibrada, ao proporcionar um desafio que se pode apelidar de realista por via de uma física bastante apurada, mas ao tempo tempo simplificado nos controlos básicos, num misto arcade e realismo.

Uma das virtudes de PES é a facilidade com que endossamos o esférico para algum colega. Podemos assumir os mais difíceis passes manuais, mas nem na sua vertente automática se torna demasiado arcade. Se quisermos, PES 2020 continua a proporcionar um futebol que é só seu: elegante e perfumado. Perfume que é acrescentado pelo drible dos melhores futebolistas. Este ano a equipa de produção consultou Andres Iniesta, o criativo do Barcelona que vive os últimos momentos como futebolista no Japão. O resultado é um controlo da bola mais rendilhado. Porém, o grau de execução destas habilidades e recreações com a bola só está ao nível dos melhores futebolistas, como Iniesta, e nem sempre se consegue extrair o melhor deste potencial de desequilíbrio. Caso experimentem driblar usando um jogador com menos pontuação, o risco de perda de bola é maior. E nem usado os melhores jogadores se atinge facilmente esse desiderato.

A qualidade e poder de drible está só ao alcance de alguns dos melhores futebolistas, como Iniesta.

Melhorando as animações e a física da bola, aumentam os ressaltos e a imprevisibilidade estende-se a qualquer parte do campo. Gosto desta abordagem mais solta e livre, podendo jogar de primeira ou mesmo rematar uma bola perdida na área. Há uma melhoria na resposta dos defesas, prontos para dar o corpo a um remate ou arriscar um corte fundamental (não se aventurem demasiado, os árbitros tendem a apitar sobre qualquer toque). De um modo geral, as animações estão melhores e os movimentos irregulares e imprevisíveis da bola produzem sufocos.

A jogabilidade continua muito boa - é o melhor de PES 2020 - mas também acontecem alguns erros, abordagens menos consistentes nos lances dos defesas controlados pelo computador e um certo "deslizar sobre o gelo" que ainda é um pouco irritante quando observamos a repetição de um lance. É perceptível uma melhoria nas reacções dos guarda-redes, normalmente mais atentos e rápidos a fazer a mancha. As posturas dos jogadores continuam assombrosamente realistas, mas o movimento do corpo desde a recepção da bola, até ao drible e passe ainda não é 100% eficaz, uma postura por vezes robótica.

"A jogabilidade continua muito boa - é o melhor de PES 2020"

De resto agrada-me que a Konami tenha revisto a posição do corpo como forma de produzir remates. Consiste em disparar quando o jogador se encontra na melhor posição. É tudo uma questão de "timming" e sincronismo, suficiente para produzir tentos de belo efeito (remates de primeira, pontapés de bicicleta, cabeçadas, etc). A jogabilidade ainda é uma arma de PES, e continua a fazer a diferença, mesmo que ainda não esteja num grau de perfeição e totalmente isenta de erros.

Domingo desportivo

A tradição é talvez a palavra-chave da designação dos modos de jogo contemplados em PES 2020, o que não se pode dizer que seja abonatório. MyClub é a opção para jogar com os jogadores adquiridos num sistema algo similar ao das saquetas de cromos. No entanto, deriva do ano anterior. A Master League é a opção de longa data à qual já nos acostumamos, enquanto que o rumo ao estrelato permite levar um jogador desconhecido à gala do jogador do ano. À excepção do Match Day, um modo fabricado a pensar nos esports, que permite aos jogadores escolherem um de dois lados para contribuir com pontos, os outros modos transitam dos jogos anteriores, sendo basicamente os mesmos com excepção de algumas funcionalidades. Não deixa de ser um cenário um pouco desapontante, quando se esperava algo mais. PES 2020 é um jogo mais apontado para o multiplayer em rede com a integração deste Match Day, embora não descure a componente single player.

Maradona é um dos três novos rostos de treino.

No que respeita ao my Club, uma das novas funcionalidades é precisamente uma melhor identificação das estatísticas dos jogadores, através de dados detalhados em três capítulos: força, ataque e defesa. No entanto, não deixa de ser uma melhoria quase estética. Por outro lado e funcionando especialmente em rede, há uma integração no Match Day, de forma que os jogadores podem recorrer às suas equipas para os desafios e competições propostas pela Konami. De resto é também um modo com uma forte estrutura online por força dos múltiplos desafios. Os jogadores terão imensas moedas para gastar pois muitos objectivos que as concedem são atingidos com alguma facilidade logo ao começo.

"Quanto à Master League - o modo mais antigo de PES 2020 -, destaque para a introdução de treinadores lendários"

Quanto à Master League - o modo mais antigo de PES 2020 -, destaque para a introdução de treinadores lendários. De início poderão escolher Maradona, Zico ou Cruyff. Vêmo-los logo em cinematográficas, comentando a temporada que se avizinha e sobretudo os objectivos a atingir. Há um segmento de decisões a tomar, mas assim que passamos ao comando das operações, não há muitas funcionalidades novas a registar. O destaque vai para a janela de transferências e operações, com uma disposição coerente e organizada por pontos relevantes do contrato, com dados reais e qualidades dos jogadores. A interface também está melhor.

A festa do futebol

Os comentários continuam a cargo de Pedro Sousa e Luís Freitas Lobo, uma parceria desde há vários anos ligada a PES e que acaba por cumprir, especialmente nas análises no fim de parte do comentador de serviço. Pelo estádio ecoam cânticos de apoio à equipa da casa. É um clima de festa que se vive ao redor das quatro, por oposição à concentração com que os jogadores disputam os lances. Visualmente, PES 2020 é um bonito jogo de futebol. Continuo a preferir partidas disputadas à luz do sol (os jogos de sombras e partes iluminadas naturalmente conferem um brilho e cor muito fortes), ainda que as partidas disputadas à noite também contenham beleza. Mas de dia chega mesmo a parecer uma transmissão televisiva.

Estádios emblemáticos e respectivas coreografias.

É dentro das quatro linhas e no futebol jogado que a Konami continua a fazer mais pontos com PES, apresentando mais uma vez um sólido e bonito jogo de futebol. Acessível, com um grau de profundidade aprazível e desafiante mas raramente frustrante, PES 2020 permite que ao entusiasmo e desafio se concilie o factor divertimento. Mas também é justo referir que urge encetar novos modos de jogo. A abertura com o Match Day aos eSports parece ser dominante nesta fase, embora não seja de descurar a componente individual, e nisso os vários modos de jogo disponíveis vão acusando algum desgaste. Veremos como evolui a série nos próximos anos. Para já ainda é uma experiência de futebol virtual capaz de singrar, enchendo o campo e capaz de permitir belos e memoráveis embates.

Prós: Contras:
  • Jogabilidade realista e acessível
  • Física da bola
  • O option file continua a fazer magia
  • Efeitos de luminosidade, ambiente e modelação ao detalhe dos estádios
  • Aspecto realista dos jogadores
  • Inclusão do Match Day
  • Alguns ecrãs de carregamento demorados
  • Bugs e algumas falhas na inteligência artificial
  • Maioria dos modos derivam dos jogos anteriores
  • Movimentos dos jogadores ainda requerem aperfeiçoamento

Lê também