PlayStation Vita: O primeiro embate
A vida no império do sol.
Numa consola virada para o formato digital, o formato UMD tornou-se incompatível e caso queiram jogar os vossos jogos precisam de recorrer ao UMD Passport. Aqui é pedido ao consumidor que use o jogo em formato UMD numa PSP compatível para o registar e depois podem-no comprar a preço reduzido para a Vita. Podem ver a lista de títulos compatíveis para o Japão aqui, cujos preços variam entre os 5 e os 20 euros. Algo que certamente não vai agradar à maioria e provavelmente os vai deixar na mesma "presos" à PSP, pois no Japão ainda existem títulos de renome entre os mais jogados e continuam a surgir novos jogos a ritmo semanal.
É uma situação delicada para a Sony que obviamente acarta custos e talvez seja uma das razões, por mais ínfima que seja, para a companhia apostar de tal forma no catálogo inicial de jogos. De qualquer das formas, vai ser interessante estabelecer comparações entre unidades vendidas nas consolas e unidades vendidas nos jogos. Sejam qual forem os indicadores, são mensagens que a Sony vai certamente ler para retificar ou, caso a sua estratégia dê frutos, manter.
Por outro lado temos o lançamento da Nintendo 3DS que mostrou algo novo a um mundo que esperava um sucesso esmagador e imediato da sucessora da DS. O catálogo inicial da 3DS não foi de completa satisfação e a isto temos que adicionar a ausência de títulos de destaque vindos de conhecidas séries Nintendo nos primeiros meses, preços acima do esperado para uma indústria cujos consumidores cada vez mais são forçados a esperar por promoções, e adiamentos de títulos de destaque para datas indefinidas e para 2012. A Nintendo 3DS parece ter sido afetada por vários problemas nos primeiros meses de vida e um deles foi o seu preço que não cativou a maioria. Este não é um problema da Vita, o preço foi mesmo um espanto de ver no anúncio a 7 de Junho na conferência da Sony na E3, mas somando o preço dos jogos, o e o preço dos cartões, a fatura já começa a subir para valores que podem ultrapassar a barreira do que é psicologicamente fácil de aceitar pelas massas.
Como pequeno exemplo peguemos no Uncharted: Golden Abyss, e considerando que o jogo seja colocado à venda no Japão em formato físico ao preço de 5.980 Ienes (+/- 55€). Agora adicionemos o preço dos cartões de memória, que no caso do Uncharted: GA será obrigatório devido ao sistema de gravação (não estamos a ver ninguém a comprar um jogo sem poder gravar o progresso). Os cartões serão colocados à venda ao preço de 4GB (20€), 8GB (30€), 16GB (50€) e 32GB (90€). A PlayStation Vita na sua versão 3G+WiFi custará 29.880 Ienes (285€ conversão direta, mas 299€ em Portugal) e na sua versão WiFi, 24.980 (240€ em conversão direta, mas 249,99€ em Portugal). Se criarmos um pacote de compra por baixo (não considerando promoções e pacotes), teremos 5.980 Ienes+2.080+24.980. Um total de 33.040 Ienes (317€ em conversão direta).
Mas a Sony tem então um catálogo forte e diversificado para fazer com que a quantidade de interessados que vão ficar "no banco" seja reduzida mas já não estamos a 7 de Junho quando o anúncio do preço fez furor e 2011 era ainda uma data de lançamento possível para o resto do mundo. Tal pode até ter perdido relevância quando a Nintendo foi forçada a rever a sua estratégia para a Nintendo 3DS e a colocou a 170 euros na Europa, preço que já incluiu um jogo em algumas versões do sistema. A PlayStation Vita vai agora fazer frente a um adversário que custa bem menos e já tem os desejados jogos a rodar em grande destaque e com boas promessas para o início de 2012.
Se em Junho a 3DS era um sistema desesperado por jogos e a precisar de um novo preço, em Dezembro a 3DS é um sistema a preço convidativo com jogos como Super Mario 3D Land e Mario Kart 7 que escalam as tabelas de vendas. O atual momento da 3DS é um forte contraste com aquele vivido na primeira metade do ano e agora estamos perante um sistema que já vendeu mais em 8 meses que a DS num ano, isto na América do Norte, mercado altamente atrativo.
Isto mostra-nos que tão ou mais importante quanto a qualidade e a quantidade é o preço que se coloca ao consumidor. Um sistema outrora considerado caro e sem propostas tem agora grandes perspetivas para um fantástico Natal (que vai passar "sozinho" em dois mercados tão importantes e rentáveis para a Sony, EUA e Europa) devido aos preços que foram ajustados. Muitos podem não considerar a Apple uma concorrente válida no mundo dos videojogos portáteis mas o certo é que grande parte da nova forma de encarar os preços neste ramo da indústria veio dos preços aplicados nos jogos iOS e na crescente qualidade e profundidade das experiências oferecidas. Aqui já passamos do hardware para o software e um dos primeiros desafios será verificar se a Sony não será forçada, tal como a Nintendo, a reformular a sua estratégia de preços tanto na consola como nos jogos, procurando uma aproximação aos seus rivais nos dois elementos.
Olhando para o passado, para a anterior geração de portáteis, o lançamento da DS a um preço mais baixo e a maior diversidade no seu catálogo, provou que a sua estratégia era a mais forte e mais indicada para a forma como o mercado encarava as experiências portáteis. No início a PSP teve mesmo uma melhor prestação na Europa, batendo a estreia da DS, mas o futuro foi bem diferente. No entanto, e para os propósitos deste artigo, vários parâmetros entre as duas gerações são bem similares. A Nintendo estreou-se mais cedo, esteve bastante tempo sozinha na corrida e competia com um preço bem mais baixo. Alguns elementos estão mais díspares, a DS esteve 5 meses sozinha na Europa enquanto a 3DS vai estar quase um ano, o preço da DS era de 150 euros e o da PSP de 250 o que nos coloca perto dos valores atuais. Por outro lado, atualmente a Sony parece estar precavida quanto à diversidade do software e ao mesmo tempo parece ter solidificado algumas das suas políticas perante a experiência portátil.
No Japão ambas chegaram praticamente ao mesmo tempo e com preços mais aproximados mas a melhor relação da Nintendo com algumas das mais importantes companhias garantiu um melhor catálogo de exclusivos. As suas funcionalidades únicas, como dois ecrãs e o ecrã tátil, fizeram com que fosse algo único e inovador. Atualmente o efeito 3D não parece partilhar do mesmo efeito avassalador entre as massas e a ideia de uma PS2 portátil que tão frequentemente era atribuída à PSP parece ser um problema que a Sony está a esforçar-se para não ver rotulado na Vita, agora para com a PS3.
A Sony carregou a sua portátil de funcionalidades enquanto mantém a sua política de apostar em gagdets que se associam a formas de estar na vida e tecnologicamente de topo para os entusiastas. Este é um dos pontos nos quais a Sony mais parece ter reduzido a distância para a concorrência, a sua portátil parece mais predisposta a oferecer experiências únicas e diferentes das caseiras, pelo menos ao mesmo nível que a concorrência. Especialmente se colocarmos aqui a forma como a Sony criou uma rede social online, a venda de conteúdos através da sua loja e também a forma como a componente online se tornou tão importante e intuitiva nas suas portáteis.
Por fim um palavra sobre o mercado Português que parece destinado a continuar algo específico e único dentro do panorama mundial. Se os nossos leitores puderem servir de indicador, o futuro pode já estar decidido. Quando questionados sobre a razão de ainda não terem adquirido uma Nintendo 3DS, 28% afirmam que estão à espera da PlayStation Vita, enquanto que 22% afirmam "Não estou minimamente interessado". Mas o resto do mundo parece aberto a uma nova batalha, que caso beneficie de uma aprendizagem com os erros cometidos até agora vai ser espantosa para o consumidor. A primeira fase começa já no dia 17 dezembro no Japão e nós cá esperamos pelos primeiros relatos.