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Pode a Nintendo Switch retomar o legado "indie" que a PS VITA irá deixar?

Nem só de grandes jogos "first" e "third party" vive uma consola.

Faltam dez dias até a Nintendo Switch chegar ao mercado, depois de meses em preparação através um processo comprido e nada fácil de materializar, tal a quantidade de operações e logística que envolve. Para o consumidor, depois do dia 3 de Março, basta uma deslocação à loja para trazer um exemplar, mas até ter chegado ao expositor, um trabalho muito grande e complexo ficou para trás. A entrada no mercado de uma nova consola envolve sempre riscos mas também acalenta a expectativa de sucesso e muito dinheiro em caixa. Não deixa por isso de ser muito interessante que, em 2017, estejamos a assistir a mais um "player" que joga uma nova cartada, isto depois da Sony ter refrescado a sua PlayStation 4 com o modelo Pro e num momento em que a Microsoft prepara o programa de lançamento da Scorpio. Três grandes "players" que prosseguem num mercado que enfrenta hoje novos desafios, mas que ainda é dos mais apetecíveis e rentáveis.

Mas se há consolas que chegam ao mercado, outras há que partem, ficando numa posição secundária ou fechando um ciclo, como acontece com a Nintendo Wii U, que vai chegar ao fim em jeito de festa de arromba com Breath of the Wild, o mesmo título que vai estar na festa de lançamento da Switch. A 3DS vai continuar em 2017, com menos pujança que noutros anos, mas ainda assim com um fluxo de jogos suficiente para manter aquele que é o segundo pilar da Nintendo. Afinal, com um parque instalado de aproximadamente 60 milhões de consolas, seria um erro não apostar em mais produções exclusivas e até nos jogos indie que muitas vezes encontram uma derradeira oportunidade para brilhar, sem o peso da sombra das tão apregoadas grandes produções.

Snipperclips é um jogo muito peculiar e bastante interessante, especialmente quando jogado a dois em multiplayer local. Um impulso para mais jogos indie.

Numa situação algo diferente encontra-se a PS VITA, uma belíssima portátil que a Sony materializou no sentido de brindar os consumidores com um produto capaz de reproduzir os jogos das consolas domesticas da Sony, de forma remota, e ao mesmo tempo uma consola capaz de garantir experiências portáteis com boa performance técnica. A PS Vita é uma portátil maravilhosa e de certa maneira é uma triste ironia que um avançado sistema não tenha recebido o sucesso que a Sony esperava obter. Após vários anos a segurar a máquina e depois da introdução de um modelo de revisão, a PS VITA deixou de ser uma preocupação central dos seus criadores, embora seja justo referi-lo, nunca tenha sido voltada ao esquecimento.

Faltando-lhe as tais produções "first party" (a Sony está concentrada na PS4, neste momento), a PS VITA continua no entanto a receber apoio de algumas editoras e sobretudo a receber experiências "indie", tornando-se numa espécie de consola de culto entre algumas legiões de fãs, com a vantagem de muitos destes jogos serem lançados primeiro nesta plataforma. Mas haverá um tempo em que os jogos serão cada vez em menor número, até secarem por completo. A garantia de que a Sony alguma vez voltará a criar um sistema portátil dedicado aos exclusivos não existe e é provável que no futuro evolua o projecto PlayStation 4, embora o eventual sucesso da Nintendo com a Switch possa levar os responsáveis da Sony a pensarem em novas ideias.

Porém, o mais certo é que a PS VITA não seja substituída por outra portátil, entregando o sector das portáteis à 3DS e à Switch, que graças também à sua natureza portátil poderá capitalizar no legado deixado em aberto pela consola da Sony. A Nintendo está a fazer de tudo para garantir o máximo de jogos "first party" neste primeiro ano na Switch. Haverá Super Mario Odyssey no Natal, mas às vezes questiono-me como seria se o novo Mario fosse um dos jogos de lançamento. Jogos como este têm um enorme poder de persuasão, dado o seu forte impacto interactivo. Não há dúvidas que o ecrã da Switch é muito mais avançado que o GamePad da Wii U mas até que ponto a sua versatilidade em formato portátil poderá garantir boas sessões de jogo distantes do ecrã, é algo que por enquanto ainda não é uma certeza, embora tudo aponte para um consumo mais moderado da bateria quando a consola correr jogos menos exigentes.

Little Inferno volta a estar presente no lançamento de uma consola da Nintendo. É um regresso mas vai abrir caminho a outros jogos.

Com um sistema de comandos que, como se sabe, é um dos truques para conquistar os consumidores, a Switch não deixará de ser no mínimo uma consola portátil capaz de correr perfeitamente os jogos "indie", muitos dos conteúdos que neste momento correm na PS VITA. Com esta mudança operada no mercado, a Switch fica em boas condições para prosseguir com o legado da consola da Sony. Se quisermos, atendendo à versatilidade da Switch, a Nintendo cria uma consola que, entre várias coisas, consegue existir como uma espécie de sucessora da VITA. Existem diferenças entre os dois sistemas (assim como aproximações, vejam por exemplo os cartuchos), mas num sentido alargado pode a Switch perfilar-se como uma espécie de sucessora. A garantia desses conteúdos pode ser a base que a Nintendo procura em termos de apoio, não apenas o seu público, mas dentro da grande fatia de consumidores, muitos dos que ainda estão ligados à consola da Sony, até porque parte dessas produções também são partilhadas com a 3DS.

A confirmação de jogos como Shovel Knight ou Little Inferno poderá dar a impressão de um regresso de títulos jogados em anteriores sistemas, mas é uma primeira inevitável vaga de títulos independentes que servem de ingresso para outras produções, especialmente no quadro dos jogos de role play japoneses, se a Switch acender o mercado nipónico, por seu turno receptivo a sistemas portáteis.

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