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Polígonos no Horizonte

A guerra fria pelas consolas da próxima geração.

Será nos últimos meses de 2009 que se cumprirão quatro anos desde que a actual geração de consolas arrancou oficialmente. Mas é também nesta altura que surgem as primeiras considerações mais sérias e algo objectivas sobre o “timming” ideal para as plataformas seguintes. Na verdade, o ano que passou marcou o lançamento de alguns jogos mais evoluídos diante dos jogos de lançamento como aconteceu com Gears of War 2 e PGR 4 (este um pouco mais atrás), as primeiras sequelas da actual geração que se distanciaram com relevância dos capítulos anteriores.

Neste momento é visível que os programadores das principais editoras já detêm um bom conhecimento das potencialidades das máquinas de ponta como a Xbox 360 e PS3 e conseguem traduzir todos esses recursos em títulos largamente superiores à colheita inicial. Call of Duty 4 Modern Warfare desbravou terreno na área dos FPS para um título multiplataformas, mas é seguro que a Guerrilla percorreu uma atenção no detalhe em Killzone 2 que alargará as fronteiras da evolução dentro do segmento para as consolas.

Até onde se poderão estender esses limites e por quanto mais tempo as condições de mercado coexistirão pacificamente com a renovação constante das colheitas de jogos e tecnologias emergentes é a questão que se impõe e terá os primeiros ecos nas próximas feiras de jogos como a GDC e E3. Além disso, editoras e programadores enfrentam uma nova condicionante, a inesperada (por ter sido tão abrupta, apesar de previsível) crise mundial. A suas expensas algumas editoras têm vindo a concentrar recursos e desconsiderar os excedentes como forma de garantir a sobrevivência. Alguns jogos em desenvolvimento foram cancelados e não se sabe muito bem quando chegará a retoma e estabilidade dos mercados.

As mudanças não se fazem de ânimo leve e partir para uma nova geração de sistemas envolve uma assunção de riscos extraordinários, muitas vezes incalculáveis, que podem pôr em causa toda uma estratégia. Em números redondos, estima-se que lançar uma consola num mercado pode envolver qualquer coisa como 3 a 5 biliões de dólares. Além disso, lançar uma consola representa uma experiência traumática na óptica dos utilizadores que se vêem obrigados a refazer escolhas e definir prioridades. E deles partirá um dos critérios definidores para os fabricantes de consolas. No entanto começa a ser visível que o PC ganha mais força enquanto plataforma capaz de gerar novos parâmetros de evolução. Fallout 3 é um exemplo que ajuda a perceber as diferenças que se vão esbatendo entre a evolução dos jogos para consolas diante do PC.

Por outro lado, em meados do mês passado, a Crytek, criadora do motor gráfico CryEngine 2, admitiu estar a encaminhar recursos e forças para o desenvolvimento de uma nova ferramenta destinada à próxima geração de consolas. Estima-se que a transição possa ocorrer algures entre 2010 e 2012. Resta saber até que ponto a Microsoft e Sony estarão empenhadas em garantir as estratégias algo dissonantes, sendo para já definido que a intenção da Sony, nas palavras do seu líder Kaz Hirai, é assegurar o apoio à PS3 por um período nunca inferior a dez anos.

Nem será tanto a perspectiva de assegurar ou não a liderança de vendas que servirá para demover Hirai. Daquilo que transparece, o objectivo é mesmo assegurar um ciclo de mercado mais extenso compatível com a exploração das potencialidades da máquina. E não estará longe de o conseguir. Afinal, aquando do sétimo aniversário de presença no mercado da Playstation 2, God of War 2 chegou com toda uma nova rede de entusiasmo, confirmando que há margem para alargar os ciclos de presença no mercado com títulos claramente mais evoluídos dentro do mesmo sistema.

Da Microsoft não é perceptível qual a estratégia a seguir. Detém, no entanto, o trunfo respeitante à antecipação perante a concorrência, estatuto que terá legitimado à marca de Redmond (mediante a conjugação de um preço mais reduzido do sistema) uma margem de vendas e capitalização do sistema adequada a garantir o posicionamento à frente dos sistemas que se situam no plano da vanguarda. Ainda que a Xbox 360 seja a segunda consola promovida pela Microsoft é de crer que o apoio ao sistema se prolongue por tempo superior ao da predecessora, liquidada em pouco tempo para facilitar a entrada da nova máquina. A revisão do sistema Xbox Live através do NXE é um sinal de estabilidade e continuidade da máquina no mercado por mais alguns anos, especialmente na altura em que cada unidade vendida dá lucro e garante acesso imediato a uma série funções instaladas e assimiladas pelos jogadores e indústria.

Entrelaçada com o plano de dez anos de Hirai para a PS3 a Microsoft permanece atenta aos ecos do mercado, reacções dos fãs, custos associados ao desenvolvimento de novas tecnologias, assim como o interesse das produtoras de software com a expectativa de uma audiência crescente de adeptos perante as novas propostas, como se tivesse em mãos um termómetro que há-de apitar no preciso momento em que todas as condições estiverem reunidas, para então romper com mais outra geração de consolas. Tendo em conta a expectativa de suporte à PS3, é de esperar que o derradeiro ano de apoio seja 2014 e nessa altura pode suceder que a Microsoft esteja em andamento com um novo sistema, inevitavelmente mais expedito que a consola da Sony.

Com as consolas adaptadas a centros multimédia e com boas capacidades de expansão (as possibilidades de acrescentos através de discos de maior capacidade) não é de esperar que tão cedo os jogadores sintam necessidade de transitar para outra máquina com todo o investimento associado à fase de mudança. Aliás, ainda há jogadores que não transitaram para a nova geração e não, nesse lote não estão incluídos os utilizadores da Nintendo Wii. Considerando o actual escalonamento de vendas entre as rivais PS3 e 360 será interessante assistir, nos próximos tempos, aos ecos do mercado, principalmente dos utilizadores, à medida que o fosso entre os jogos de consolas e PC se tornar gritante. Claro que God of War 3 vai tentar, na medida do possível, esbater essa diferença, propondo um novo estado que por enquanto só nas palavras de David Jaffe se pode alcançar. Mas mudanças causam sempre grande maçada e ainda há um apreciável caminho até se instalar a máquina da próxima geração.

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