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Professor Layton vs Phoenix Wright: Ace Attorney - Análise

Investigação e crime na época medieval.

Temos assim quebra-cabeças e julgamentos sob a mesma égide. O sucesso de um é a prova que o outro necessita. É desta forma que Phoenix Wright e Layton colaboram, com este a providenciar as provas que "Nick" necessita de modo a sustentar os seus argumentos em defesa dos inocentes. A jogabilidade durante os segmentos do Professor Layton não oferece diferenças face ao que conhecemos até aqui. A exploração continua a ser livre, baseada em "dioramas" maiores que o ecrã e que podemos explorar com a stylus, tocando em pontos de visível interesse, onde podemos obter informações particulares mas também "hint coins", úteis para a resolução dos quebra-cabeças.

Após encontrar personagens relevantes, cujos quebra-cabeças são de resolução obrigatória para se avançar na história, Layton vai ficando mais perto de resolver o mistério. A dificuldade dos quebra-cabeças continua a depender do número de "picarats" associado a cada um. Quanto mais elevado for este número mais difícil é o puzzle. Se falharem a resposta, a recompensa em "picarats" diminui. Os quebra-cabeças são muito diversificados e quase sempre implicam um tipo de interacção específico com o ecrã-táctil, embora sejam muito poucos os que aproveitam o efeito 3D do ecrã estereoscópico. A arte e design também é variável e contribui para um forte sentido de novidade.

Story Teller, o antagonista nesta aventura de investigação e crime

Alguns, baseados em cálculos e outros esquemas matemáticos, são mais demorados a resolver e não será por acaso que começam a aventura com bastantes moedas que podem ser trocadas por dicas. Os produtores quiseram deste modo facilitar a vida aos principiantes, mas se explorarem bem cada zona do mapa podem encontrar ainda mais "hint coins" escondidas. Como sucedia anteriormente, é possível investigar zonas interiores desde que a lupa detecte um ponto assinalado a azul, num efeito que oferece mais algumas transições. As cenas animadas durante as secções alusivas ao Professor Layton respeitam o design da série, numa parte da produção sob a responsabilidade da Level-5.

Mas a partir do momento que passam para as audiências de julgamento de Phoenix Wright, a atmosfera de investigação e mistério de Layton dá lugar à tensão que emerge dos depoimentos das testemunhas. A mecânica é a mesma da série Ace Attorney. O objectivo passa por absolver as personagens acusadas com base em testemunhos falsos ou provas forjadas. Cabe ao mítico advogado pôr em prática toda a sua perícia e detectar quais os segmentos das testemunhas que oferecem incongruências com os acontecimentos e declarações anteriores. Em simultâneo está uma análise das provas e depoimentos anteriores. Muitas incongruências são detectadas facilmente, mas como estes julgamentos são morosos e as testemunhas conseguem sair de situações complicadas por via de um esforço último dos procuradores, Phoenix tem de ir mais longe e juntar às incongruências as provas cabais de modo a sustentar a sua tese. Acresce a isto os vários depoimentos de testemunhas que participam na mesma audiência.

É daqui que resultam os tão famosos "Objection!" ou "Take That!" seguidos de uma mudança de sonoridade quando Phoenix Wright parece estar seguro sobre uma falsidade detectada. Mas essa opção tomada sem segurança pode conduzir a um erro, rapidamente identificado pelo juiz e penalizador para o advogado. O exame a uma testemunha começa com o indicador de erro no máximo, mas se falharem várias vezes na tentativa de demonstrar uma incongruência que afinal não tem fundamento, o acusado é condenado, terminando aí a epopeia judicial. As soluções são muitas vezes subtis e requerem uma atenção enorme às declarações mas também uma análise perspicaz das provas. Se estiverem com dificuldades no interrogatório de uma testemunha podem sempre recorrer às "hint coins" obtidas por Professor Layton, sendo que ao usarem uma moeda fica intermitente a parte da declaração da testemunha que se revela falsa. Isto é dar a solução de caras, o que pode ser observado por alguns fãs como uma injustificada tendência para facilitar a tarefa do jogador. Todavia, a utilização destas moedas é opcional.

Em termos de arte e design, os segmentos de Phoenix Wright continuam a exibir o sentido típico de loucura e exagero que os fãs tanto gostam, como se fosse uma novela gráfica. As poses associadas a exclamações que assaltam o ecrã por inteiro, são uma imagem de marca que se encontra muito bem ilustrada neste jogo, começando logo no encontro com Professor Layton, com Luke a expressar surpresa pelos gestos e expressões de "Nick", num momento de particulares contornos humorísticos por força do embate de tão diferentes personalidades. O humor acaba porém, por ser uma nota dominante durante as sequências Phoenix Wright. As reacções desmesuradas e tontas das testemunhas e procuradores às provas irrefutáveis do advogado aliviam a pressão que precedeu todo o momento anterior.

O livro a História de Labirinthya.

Porém, a cooperação entre as duas personagens mostra-se bem conseguida, mesmo que Level-5 e Capcom não tenham ido mais além de modo a criar uma jogabilidade específica. O modelo proposto, de alternância entre diferentes estilos de jogo revela o interesse em segurar as audiências de cada uma das séries. No entanto, parece-nos que o jogo ganharia mais em contar com mais mudanças dentro das mecânicas. Assim, é a história invulgar que rapidamente sobressai, com Labirinthya e muitos dos seus mistérios a alimentarem a progressão em direcção ao desfecho. Sendo Luke e Maya Fey personagens secundárias bem conhecidas, quase todas as outras são novas mas preenchem bem o seu papel e o mistério em torno do grande antagonista perdura até ao último capítulo. A banda sonora também resultou de uma colaboração entre a Capcom e a Level-5, apresentando muitos temas novos com orquestra, especialmente durante as cenas animadas.

Professor Layton vs Phoenix Wright cumpre integralmente as expectativas dos fãs. Ao conciliar sob a mesma narrativa duas personagens tão diferentes e com estilos de jogo distintos, ambas acabam por sair reforçadas desta colaboração em conjunto entre a Level-5 e a Capcom, ainda que pudesse ter ido mais adiante a exploração de novas mecânicas. Uma aventura memorável que proporciona o melhor de dois mundos. Da investigação de Layton aos julgamentos de Phoenix Wright, as diferentes fases articulam-se e adquirem destaque quando as personagens chegam a Labirinthya, a cidade medieval que funciona como elemento agregador. Mesmo sendo personagens com vocações distintas, há um propósito comum na sua demanda. Descobrir e seguir de perto essa colaboração é uma grande conquista.

8 / 10

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