Psychonauts 2 - review - abraça a insanidade
Um jogo repleto de imaginação.
Psychonauts 2 chega dezasseis anos depois do lançamento do original, um dos maiores clássicos de culto desta indústria (referido como um dos melhores jogos de todos os tempos que quase ninguém jogou). A missão é transportar a sua essência para a era atual e ao mesmo tempo não se ficar somente pela fácil nostalgia, algo que aflige imensas propriedades clássicas. A missão da Double Fine liderada por Tim Schafer era altamente arriscada, especialmente porque o projeto apenas podia alavancar com o apoio dos fãs. O apoio recebido pela Microsoft aquando da aquisição apenas serviu para aumentar a responsabilidade em torno de Psychonauts 2, mas diria que a preservação da sua identidade num projeto capaz de triunfar tantos anos depois provavelmente foi o maior desafio para a equipa de desenvolvimento. Especialmente porque a Microsoft ajudou a aliviar os problemas monetários deste projeto indie.
Psychonauts 2 começa logo após os eventos de Rhombus of Ruin e de uma forma incrivelmente gratificante, está altamente relacionado com o primeiro jogo e isso fará com que os fãs sintam uma grande validação. O argumento do jogo não recorre à banal nostalgia, cria a partir do original a sua razão de ser e está repleto de referências a eventos ou personagens vistos nesse clássico. Para quem não jogou nenhum dos anteriores, a Double Fine introduziu um bom resumo que se torna obrigatório ver. De uma forma muito resumida, Psychonauts 2 transporta-te para uma organização na qual psíquicos exploram a mente de criminosos para descobrir como os travar ou pistas importantes. Imagina Harry Potter misturado com Inception de Christopher Nolan e talvez comeces a ter uma ideia do universo de Psychonauts.
Esta sequela começa imediatamente após o anterior e os principais personagens, um elenco excêntrico liderado por Razputin Aquato (Raz para os amigos e colegas mais próximos), tentam descobrir quem é a toupeira dentro dos Psychonauts e o líder de todo este plano maquiavélico. Para tal, eles entram na mente de outras personagens para descobrir informações, mas uma vez que a mente é o local onde o imaginário torna tudo possível e apenas a nossa imaginação estabelece limites, a loucura está garantida. Esta base narrativa volta a permitir que a Double Fine despolete um sumptuoso design de níveis que ficará verdadeiramente na mente de quem o jogar. Através da combinação de uma narrativa de contornos psíquicos com a exploração de locais surreais tornados possíveis somente na mente de alguém, a Double Fine volta a garantir de antemão um enquadramento único e muito apelativo.
Exploradores da psique alheia
De forma a descortinar uma trama de contornos cómicos e maléficos (a Double Fine não gosta de levar as coisas demasiado a sério e o humor está sempre presente, especialmente de sabor irreverente), Raz terá de explorar a sede dos Psychonauts e apesar de ser uma das peças fundamentais para impedir uma tragédia, terá na mesma de viver a vida de estudante. Ele não é um dos miúdos populares, mas é muito esforçado e tenta da melhor maneira gerir a sua importante missão com o ensino. Alguns dos mais soberbos momentos de Psychonauts 2 não são sequer a exploração da mente de vilões ou malucos que guardam dentro de si informações importantíssimas, são a exploração da psique de professores ou conhecidos para que o possam ajudar e progredir na narrativa.
Uma vez que estarás a viver dentro de mundos inventados pelo imaginário de outras pessoas, os limites e regras convencionais não se aplicam, o que permitiu à Double Fine dar asas à sua imaginação e criar níveis cujo design visual é verdadeiramente inventivo. Revelando grande criatividade, a personalidade da personagem molda por completo o nível e apesar do gameplay ser universal, a atmosfera dos locais que visitas é diversificada e excêntrica. A sério, Psychonauts 2 vai ficar na tua mente durante muito tempo devido aos locais que verás à tua frente pois mostra mesmo uma forte dose de talento capaz de conquistar.
Apesar da navegação nos locais físicos ser altamente confusa, especialmente devido ao mapa horrível, sem esquecer o sistema de menus escolhidos (uma espécie de diário de Raz onde também melhoras os seus poderes psíquicos e vês os objetivos), é quando estás a navegar dentro da mente de alguém que realmente brilha este jogo intenso em cinemáticas bem humoradas.
Gameplay imaginativo e de contornos clássicos
Quando entras na mente de alguém, Psychonauts 2 desafia-te a misturar saltos com habilidades psíquicas para progredir pelos níveis, sem esquecer os momentos em que tens de lutar contra criaturas que surgem para proteger a mente que invades. De certa forma, Psychonauts 2 parece um jogo dos anos 2000, na sensação dos controlos, na maneira como Raz se movimenta e no sistema de físicas. Apesar das habilidades serem interessantes, especialmente quando usadas para resolver os puzzles que vão surgindo ao longo dos níveis, os momentos de combate representam os piores momentos do jogo. Para um título com um design de níveis tão irreverente e boss fights que podem assumir contornos de genialidade, o gameplay de Psychonauts 2 precisa de mais polimento e alguns ajustes.
Saltar pelos cenários com plataformas em movimento, usar os poderes para desbloquear o caminho em frente (como queimar partes do cenário e revelar uma nova rota) ou projetar Raz para palavras ou pontos nos cenários e de forma dinâmica chegar a novos locais até conseguem agradar, mas também existem momentos em que a sensação é de controlos um pouco presos e que relembram de uma forma menos boa o que era feito no início dos anos 2000. No entanto, diverti-me nos momentos de plataformas, que apesar de simples conseguem desafiar. Também adorei a genialidade de alguns momentos que até mudam a perspetiva e diversificam de forma genial o gameplay. É a essência da Double Fine a brilhar com o esplendor de uma estrela. No entanto, usar alguns poderes demonstra que falta polimento e refinamento, sem esquecer que detestei praticamente todos os momentos de combate. Especialmente porque revelam que os controlos e gameplay em si precisam de melhorias.
Devo ainda dizer que apesar do design visual e dos níveis em si serem coisa de génio, a qualidade visual de Psychonauts 2 não é totalmente convincente. Psychonauts 2 está repleto de locais que vão deslumbrar o teu imaginário e te transportam para mundos de fantasia que são apelativos, mas em termos da qualidade de imagem, texturas e efeitos, a qualidade é oscilante. Alguns níveis e locais são espetaculares, mas outros não tanto e ao jogar numa consola como a Xbox Series X, fui constantemente relembrado que Psychonauts 2 é na verdade um projeto indie de origens muito humildes.
História e locais geniais, gameplay que deixa a desejar
Se jogaste qualquer jogo da Double Fine, sabes bem o que te espera, uma dose de genialidade e irreverência que te vai deixar intrigado do início ao fim, mesmo que pelo meio tenhas de aceitar alguns senãos. Na sua perseguição por uma sequela capaz de homenagear um clássico de culto de 2005, a equipa poderá ter desejado manter uma forte parte da sua essência e enquanto isso é altamente benéfico no design e estilo dos visuais ou cenários, o mesmo não se pode dizer do gameplay de plataformas ou combate. Existem momentos sensacionais e altamente criativos, mas outros nem tanto. Parte do charme de Psychonauts 2 é respeitar o legado de um jogo com 16 anos e isso obriga-te a gerir o genial e o menos bom. Se conseguires gerir isso, descobrirás um jogo difícil de esquecer.
Prós: | Contras: |
|
|