Pure Chess - Análise
Clássico com requinte.
A vantagem de jogar xadrez, damas e outros jogos de tabuleiro em formato videojogo está na diversidade de modos de jogo normalmente oferecidos e em todo um processo de aprendizagem adequado a facilitar a compreensão cabal das regras e de truques utilizados por profissionais. É verdade que relativamente ao xadrez estamos perante um jogo que envolve um trabalho intelectual e concentração extremas, mas este jogo é também um desporto, e uma vez encarado em termos competitivos, envolve muito treino, uma grande prática e um conhecimento perfeito das suas regras. Não obstante o grau de intensidade com que nos envolvemos no jogo, que pode ditar partidas que se prolongam por horas e até mesmo por dias, o xadrez não deixa de ser um jogo aparentemente simples, mas que nos pode levar muito longe se nos deixarmos envolver pela sua magnitude.
Foi esse o intento da Voo Foo Studios quando começou por desenvolver Pure Chess. Ir directamente ao coração do jogo, numa produção que revela requinte e um trabalho meticuloso. Aliar substancia gráfica e uma apresentação pujante, a toda uma estrutura individual capaz de levar um principiante a ficar totalmente esclarecido sobre as regras básicas mas também capaz de executar movimentos típicos de um profissional. Pure Chess depressa se assume como uma boa alternativa aos tabuleiros verdadeiros. Com a alta definição proporcionada por plataformas como PS3, Wii U e até sistemas portáteis como VITA, 3DS e plataformas móveis (IOS e Android), estamos aqui diante de uma tentativa de entregar xadrez para todos.
Na verdade, Pure Chess é um jogo que começa por exibir classe em termos visuais. O esmero na alta definição resultou em peças muito apelativas, a roçar um nível de requinte praticamente sem precedentes. Com ênfase num realismo muito forte, o primeiro contacto com o jogo provoca admiração. A atmosfera é igualmente perfeita, a partir de espaços como uma biblioteca, um apartamento luxuoso e um museu. A isso acrescem sonoridades quase contemplativas, oriundas da música clássica, do Jazz e de outros géneros. A diferente composição das peças e dos tabuleiros, dentro de um elevado realismo, permite uma mudança positiva. Manobrar a perspectiva torna-se aliciante, possibilitando ir ao detalhe de cada uma das peças e passar por efeitos de luz e sombras que revelam uma atenção ao mais ínfimo detalhe.
Existem peças criadas com base em diferentes materiais. Madeira, metal e granito emprestam toda uma beleza às Staunton, Williams e ao particular modelo baseado nas damas. Embora haja aqui um satisfatório conjunto de peças, tabuleiros e espaços onde se produzem os desafios, através da loja digital é possível descarregar mais peças e tabuleiros mas para isso há um custo.
Uma das características mais relevantes de Pure Chess é a sua dimensão clássica. Sem pretensões pela reinvenção de regras e modos exagerados, a componente individual é a que mais proveito gera. Para além das partidas habituais com seis espaços de gravação que possibilitam a continuidade de seis jogos em simultâneo, será normal que muitos jogadores comecem pela revisão da matéria dada, isto é, por um "tutorial" bastante completo que envolve 40 lições. Desde aprender a utilizar a "stylus" para movimentar as peças, modificar a perspectiva de jogo e segurar uma específica posição, até ao xeque-mate, este capítulo prova toda a sua relevância: conhecer as regras básicas do xadrez enquanto se descobrem algumas jogadas típicas de um profissional como o russo Garry Kasparov.
Já numa vertente competitiva individual, Pure Chess compreende três modelos de torneio contra o computador e 100 diferentes situações de finalização de uma partida. Pode ser derrotar o adversário em xeque-mate num movimento apenas ou em cinco jogadas, algo mais complexo de realizar, revelando um bom escalonamento dos desafios. No entanto, estes desafios particulares oferecem uma preparação e ginástica mentais para voos mais altos, como sejam defrontar um amigo ou participar em jogos online.
Em termos de personalização das partidas individuais, o destaque vai não apenas para os confrontos com o computador, através dos quais se pode definir o grau de capacidade do adversário (os dez níveis de graduação da inteligência artificial oferecem maior variedade) mas também para os desafios com outro jogador, num confronto local que obriga a transformar o ecrã do GamePad num tabuleiro, circulando de mão em mão até ao movimento final. Podem desta forma jogar xadrez enquanto o televisor sintoniza a emissão de um canal.
Até aqui a experiência é não só bastante satisfatória como gratificante. Porém, é no quadro das opções para o jogo em rede que Pure Chess revela bastantes deficiências. Desde logo porque partidas em rede são compatíveis normalmente com uma interacção imediata e tempos de espera algo reduzidos, o que não entra em sintonia com o tempo gasto na realização de uma jogada mais demorada. O primeiro ponto a sublinhar neste capítulo é a necessidade de criar imediatamente uma conta. A abertura de conta é simples e não envolve a recuperação de um link através de e-mail.
No entanto, depois de entrarem no quadro de opções, demora até que encontrem um adversário. À semelhança do modo individual, é possível gravar várias partidas online. Só que aqui surge o problema. A produtora optou por unificar as ligações, através do "cross-suport" entre Wii U, 3DS, IOS e Android. Além disso, o sistema de notificações, com o qual o jogador é alertado pela realização de uma jogada do adversário, torna tudo lento e muito demorado, com "loadings" constantes que se intrometem nas partidas antes de voltarmos a obter "feedback" do adversário. E também não há forma de saber se o adversário está ligado ao jogo ou se já o abandonou, pelo que acabamos por deixar passar muito tampo até suspender o jogo e eventualmente desistir. Falta sobretudo imediatismo e este ritmo lento, de jogo à distância um pouco às escuras, não promove a ligação entre os jogadores
Apesar do modo online falhar com notoriedade, a componente individual e competitiva em termos locais seguram Pure Chess. A impecável apresentação, a reprodução de uma atmosfera bastante realista e um bom conjunto de desafios que definem os momentos marcantes de uma partida de xadrez, tornam a experiência mais agradável e digna de ser experimentada.