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Quantum Break - Análise

Mais do que um jogo.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Quantum Break é um híbrido entre um jogo e uma série de TV com uma história sólida e jogabilidade divertida.

Quando digo que Quantum Break é mais do que um jogo, não o digo num sentido sensacionalista nem quero insinuar que está num patamar superior a outros jogos. Simplesmente quero dizer que a Remedy Entertainment fez mais do que um jogo com Quantum Break, e esta é verdade. A inovação do jogo está em combinar o conceito tradicional de um videojogo como uma série de televisão. Até começar a jogar, não percebia muito bem com esta junção funcionaria, mas devo dizer que funciona na perfeição e que torna a experiência mais rica e credível. A Remedy já tinha feito experiências com Alan Wake, mais concretamente com a mini-série Bright Falls, que servia de prequela. Com Quantum Break foi mais longe e criou uma série que é parte integral do jogo.

Se calhar, alguns já devem estar a torcer o nariz e com receio que Quantum Break seja mais uma série do que um jogo, mas posso assegurar que tal não é verdade. A série aparece no final de cada capítulo e serve de ponto de ligação. Cada episódio dura cerca de 20 minutos e dão sobretudo destaque às personagens secundárias, que não recebem tanta atenção nas sequências jogáveis. Como os actores das personagens do jogo e da série são os mesmos, a transição é natural. Quanto à escolha dos actores, foi investimento de peso. Quantum Break conta Shawn Ashmore (Jack Joyce) e Aidan Gillen (Paul Serene) como protagonistas, e nas personagens secundárias temos Dominic Monaghan (William Joyce) e Lance Reddick (Martin Hatch). Já houve jogos a usar actores reais para as personagens, mas nunca desta forma.

Recorrer a actores reais é sempre vantajoso. Para além do talento óbvio que possuem para encarnar personagens fictícias, o que dá credibilidade a essas mesmas personagens, dão uma sensação mais orgânica ao jogo. No caso de Quantum Break ainda mais, pois vem acompanhado de uma série. Embora a série seja sem dúvida um ponto vantajoso e de destaque, Quantum Break é, acima de tudo, um jogo, e portanto devem estar curiosos para saber se cumpre as expectativas nessa parte. Se jogaram os títulos anteriores da Remedy, como Alan Wake ou os dois primeiros Max Payne, então existe uma grande chance de gostarem de Quantum Break.

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Apesar de jogada arrojada de meter uma série à mistura, Quantum Break não se afasta da fórmula tradicional de um jogo e está dentro do estilo a que a Remedy nos habitou. A história é sólida e a jogabilidade faz-nos lembrar, de certa forma, o velho Max Payne. Caso ainda não saibam, em Quantum Break controlamos uma personagem, Jack Joyce, que ganhou a habilidade de manipular o tempo depois de uma experiência que correu mal. Como tal, conseguimos abrandar o tempo momentaneamente em locais específicos, criar uma espécie de escudo temporal à nossa volta, causar uma explosão temporal ou correr muito rapidamente.

Jack Joyce não ganha acesso imediato a todos estes poderes. Inicialmente apenas conseguem abrandar o tempo num local específico, o que dá jeito para prender um adversário e enchê-lo de balas. Mas à medida que forem progredido, mais habilidades serão desbloqueadas. Também é possível melhorar as habilidades que já aprenderam, procurando as fontes de Chronum espalhadas pelos níveis. Quando estas fontes estão próximas, Joyce consegue senti-las e até aparecem assinaladas no mini-mapa, pelo que não é difícil encontrar a maioria delas. Os poderes são apenas uma parte da jogabilidade de Quantum Break. A outra parte são as armas.

No fundo, Quantum Break é um jogo de tiros na terceira pessoa, mas como o protagonista tem poderes especiais, é uma combinação entre tiroteios e constantes paragens no tempo. Por isso é que mencionei que de certa forma faz-nos lembrar de Max Payne, que também tinha momentos semelhantes, quando a câmera lenta entrava em acção. É uma combinação que ainda hoje resulta e gera momentos espectaculares. Apesar do ligeiro tom de ficção científica, devido às capacidades de manipular o tempo de Joyce e das máquinas para viajar para o futuro e para o passado, as armas de Quantum Break são familiares. Há espingardas, metralhadoras, caçadeiras, pistolas. O comportamento das armas está bem conseguido, mas antes de jogarem desactivem o aim-assistance, pois torna-se incomodativo.

"Apesar de jogada arrojada de meter uma série à mistura, Quantum Break não se afasta da fórmula tradicional de um jogo"

Sendo um jogo de tiros na terceira pessoa, vão passar uma parte considerável de Quantum Break a disparar contra outras pessoas. Ainda assim, as sequências de combate são divertidas por causa dos poderes especiais e surpreendentemente não aparecem em quantia exagerada. Além das sequências de combate, os níveis de Quantum Break são compostos alguns puzzles bastante simples e áreas com alguma liberdade para exploração. Os motivos para explorar são as já mencionadas fontes de Chronum e vários documentos que expandem a história. Estes documentos são abundantes, mas de uma forma excessiva, e alguns deles prolongados. A história ainda é compreensível sem estes documentos, mas a informação contida neles explica o que está nas entrelinhas.

Também há momentos em que o tempo para completamente, e não devido aos poderes de Jack Joyce. A experiência que deu a Jack Joyce os seus poderes teve uma consequência muito maior: colocou o tempo fora de ritmo e agora este está próximo de chegar ao fim. O resultado é um mundo estático, sem movimento. A excepção são as pessoas expostas às partículas Chronum, que conseguem deslocar-se mesmo nestes momentos em que tudo pára. Estas paragens no tempo dão origem a cenários espantosos, repletos de efeitos visuais. Também encontramos alguns destes efeitos visuais nos combates, quando começamos a encontrar soldados com dispositivos que lhes permitem deslocar-se nas paragens do tempo.

Quantum Break é um jogo cheio de estilo e esteticamente apelativo. A Remedy apostou tudo na qualidade visual, mas tal como o Digital Foundry apontou, não corre nativamente a 1080p. A falta de resolução é perceptível em alguns momentos, mas não é nada grave. Claro que o ideal seria que o jogo corresse a uma resolução superior, mas uma maior resolução não significa automaticamente gráficos melhores, e Quantum Break é a prova disso. Os efeitos de partículas, a iluminação, as explosões e o resultado das habilidades de manipular o tempo tornam a qualidade da imagem muito apelativa no geral e conferem-lhe uma atmosfera cinemática.

"Quantum Break é um jogo cheio de estilo e esteticamente apelativo."

A história é parte mais interessante de Quantum Break. A premissa é uma experiência que correu mal com uma máquina do tempo, criada por William Joyce, o irmão do protagonista. A máquina fracturou o tempo e a vossa missão será corrigir esse erro antes que o tempo acabe para sempre. Mas a tarefa não será fácil devido à Monarch Solutions, uma empresa gigante liderada por Paul Serene que, de alguma forma, se tinha vindo a preparar para uma fractura no tempo e não quer Jack Joyce siga avante com os seus planos. Parece simples inicialmente, mas na verdade a história é mais complexa do que parece e composta por reviravoltas difíceis de prever.

Em alguns momentos centrais da história vocês têm poder de decisão. Nos momentos de "Bifurcação" (é este o nome recorrente no jogo) podem optar por dois caminhos. Antes de escolherem um, podem ver as consequências de cada. É uma forma de dar um toque pessoal à história e também à série, já que certas cenas dependem das vossas decisões no jogo. Esta é também uma forma de vos encorajar a repetir a história uma segunda vez, para ver os efeitos das outras escolhas. A longevidade é aceitável para um jogo deste género, durando cerca de 8 horas na dificuldade normal.

Quantum Break é um jogo único. Graças à combinação com uma série de TV, é diferente de todos os jogos que podem encontrar neste momento. Tanto uma série como o jogo têm elevados valores de produção. A contratação de actores de excelência, a história bem desenvolvida, e a jogabilidade bem afinada revelam uma grande dedicação da Remedy e da Microsoft. O jogo em si não é inovador e no final já se sente alguma falta de variedade, mas não deixa de ser um refúgio agradável para quem está à procura de algo tradicional e com uma história com princípio, meio e fim.

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