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Rage 2 - Análise - Fast Food dos mundos abertos

Satisfaz, mas não delicia.

Um FPS com boa jogabilidade misturado num mundo aberto repetitivo, genérico e com uma fórmula que já conheces.

Rage 2 é mais um jogo em mundo aberto. Enfatiza-se o "mais" porque, a seguir aos Battle Royale, os jogos em mundo aberto são provavelmente a segunda maior moda da oitava geração de consolas. Moda é a palavra certa para aplicar na actualidade dos videojogos. Nunca houve tanta abundância de jogos em mundo aberto, mas os dedos das mãos são suficientes para referir aqueles realmente valem a pena o teu tempo. Noutros tempos, os jogos em mundo aberto eram mais raros devido à dificuldade de criar mundos virtuais de larga escala e às limitações do hardware, mas nos últimos anos assistimos à criação de uma fórmula para este tipo de jogos que já vimos aplicada em dezenas de jogos de variadas editoras. É como se o género dos jogos em mundo aberto tivesse sido convertido num prato popular de fast food.

Quantidade em vez de qualidade

Com esta sequela, a Bethesda limitou-se a fazer um jogo em mundo aberto com as mesmas falhas que já vimos tantas vezes. O mapa está populado por dezenas de actividades, mas quanto mais jogares, mais rápido vais perceber que estas actividades não passam de clones sem qualquer significância narrativa e cujo único contributo é aumentar a longevidade de uma forma oca. O mundo de Rage 2 perde assim o entusiasmo da exploração, transformando-se numa checklist jogável. A diversão vem sobretudo da excelente jogabilidade, que é aquilo salva o jogo de ser aborrecimento total. O resto - as personagens, as actividades repetitivas e as várias secções do mapa - têm tanto valor como uma pastilha elástica.

Se nunca jogaste o primeiro Rage, podes aventurar-te na sequela sem medo. O mundo é o mesmo e, obviamente, existem referências ao primeiro jogo, mas a bagagem narrativa é praticamente inexistente. Os eventos de Rage 2 acontecem vários anos depois do primeiro jogo e, mesmo que nunca tenhas jogado o anterior, existe uma breve introdução no início. O mundo de Rage 2 está inserido numa realidade pós-apocalíptica no estilo de Mad Max. Os humanos vivem em cidades construídas com sucata e a maioria da terra ficou transformada num deserto. Frequentemente encontrarás acampamentos de grupos hostis, comboios de veículos e até mutantes gigantes.

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A personagem que vais controlar é um humano, mas trata-se de um humano de certa forma especial. Em Rage 2 serás um Ranger, guerreiros melhorados com a tecnologia Nanotrite que lhes permite ter acesso a poderes especiais. São estes poderes, combinados com uma gunplay desenfreada que está muito próxima daquela que experimentamos em Doom (2016), que dão uma injecção de diversão em Rage 2. Pegar caçadeira, correr, deslizar e disparar para projectar um inimigo dezenas de metros sabe sempre bem. Há outras armas com efeitos fantásticos incluindo com um revolver em que podes activar manualmente as balas para se incendiarem e um lança-roquetes capaz de detectar vários alvos e lançar uma chuva de explosões.

Upgrades, Upgrades e mais Upgrades!

Em Rage 2 podes fazer upgrade a tudo e mais alguma coisa. Os upgrades são tantos que é até apropriado recorrer ao famoso meme do Xzibit (apresentador do programa West Coast Customs). A id Software e Avalanche Studios ouviram dizer que gostas de upgrades, portanto decidiram meter um upgrade dentro de um upgrade para que possas fazer upgrade enquanto fazes upgrade! Parece uma piada, mas não é. Para evoluíres as armas precisas de desbloquear várias camadas que usam um determinado recurso e, dentro dessas camadas, tens melhorias que só podem ser activadas se gastares outro tipo de recurso. Portanto, um upgrade dentro de um upgrade.

Mas as armas não são o único elemento a que podes fazer upgrade. Existem três NPCs que serão teus aliados ao longo da história que de dão acesso a um grande leque de upgrades (chamados Projectos) para a tua personagem e os seus poderes. Depois tens ainda upgrades para itens como granadas, o boomerang e injecções de saúde. Por último, também podes implementar melhorias no Phoenix, o veículo que vais conduzir na Wasteland. Existem mais veículos a que terás acesso, mas nenhum dos que desbloqueei posteriormente tinham a opção de upgrades.

"É um mundo rico em quantidade, mas pobre em qualidade que cai num ciclo vicioso"

O cerne do problema não é a quantidade de upgrades. Ao início é um pouco confuso assimilar o complexo sistema de Rage 2, mas depois de algumas horas, começa a assentar. Os materiais que precisas para gastar em tantos upgrades estão agarrados às muitas actividades secundárias que, tal como referi logo no início, são todas cópias umas uma das outras. Por mais divertida que seja a jogabilidade, os poderes e as poderosas armas, Rage 2 não tem conteúdos de grande calibre espalhados pelo mapa e isso, mais tarde ou mais cedo, retira a piada ao jogo.

É como se tivesses um carro potente e não conseguisses extrair todo o seu potencial devido ao local em que estás inserido. É um mundo rico em quantidade, mas pobre em qualidade que cai num ciclo vicioso em que as actividades apenas parecem ter sido feitas com um propósito: queimar tempo. Com 14 horas de jogo, cheguei ao final e ainda deu tempo para completar diversas actividades secundárias. Após o final, podes continuar a jogar e a realizar as actividades que ficaram por realizar, mas qual é o propósito?

História esquecível

A história não salva Rage 2. As missões da história são, de longe, as melhores que o jogo tem para oferecer, mas que fique claro: não são imaginativas se pensares no potencial que este mundo tem. As missões resumem-se a entrar num sítio, matar tudo e seguir em frente. No final podes encontrar um boss, mas até nisso foi aplicada a técnica de clonagem: os bosses são os mesmos com uma skin diferente, mas com a mesma mecânica. As personagens que vais encontrar, embora até possam ser interessantes de um ponto de vista puramente visual, são desprovidas de emoção. Sobre a narrativa, não há muito a dizer: é a história típica de um vilão que quer controlar o mundo mas sem qualquer tipo de toque especial que a distinga das restantes.

Embora Rage 2 seja primariamente um FPS e todas as missões da história estejam focadas nessa faceta, tem uma parte de condução. Eventualmente vais desbloquear a opção de viajar rápido para os locais centrais de cada região, o que te poupará tempo e paciência quando precisares de te deslocar para a outra ponta do mapa, mas existem actividades centradas na condução. É para essas actividades que deves melhorar o teu carro com armas mais potentes e protecção. As actividades consistem em perseguir e destruir comboios de veículos armados que estão em constante movimento pelo mapa. Foi a actividade secundária mais divertida que encontrei, talvez porque não exista em quantidade tão abusiva como as restantes.

As perseguições ao estilo de Mad Max

Bem ao estilo de Mad Max.

A plataforma em que jogas faz diferença?

Rage 2 é o mesmo jogo em todas as plataformas, mas é importante sublinhar que o desempenho varia. Os modelos originais das consolas desta geração - PS4 e Xbox One - estão limitadas a 30 fotogramas por segundo e, nos momentos de maior acção, encontramos quebras de desempenho na versão PS4. Jogando na PS4 Pro, o desempenho aumenta para 60 fotogramas por segundo, o ideal para um jogo de tiros como este, e em momento algum ocorreram dificuldades no desempenho. Visualmente também existem diferenças, mais uma vez com vantagem para a PS4 Pro, mas em nenhum modelo da consola ficamos agradados com a qualidade gráfica. Há imensos objectos com geometria básica e texturas que variam de qualidade. Não é mau, mas já vimos muito melhor.

No final de tudo, Rage 2 é um jogo que nos deixa indiferentes, desapaixonados e apáticos. É como fast food, enche o estômago mas não te delicia. Ultimamente darás por ti com fome de alguma coisa melhor.

Prós: Contras:
  • Jogabilidade excelente para um FPS
  • Os poderes especiais são divertidos
  • As perseguições e destruição de comboios de veículos
  • Demasiadas actividades repetitivas
  • História e personagens sem interesse e carisma
  • Mundo aberto genérico
  • Economia de upgrades exageradamente complicada

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