Railways Train Simulator - As linhas com que se cose um simulador minimalista
Garantir que nenhum passageiro fica para trás.
A chegada a uma estação de caminhos de ferro é normalmente antecedida de um emaranhado de carris que agregam as mais variadas ramificações por onde entram e saem os comboios. A gestão desse trânsito é um processo meticuloso de entradas e saídas, reguladas ao segundo, o que muitas vezes provoca dissabores naqueles passageiros que se atrasam nalguns passos, só para ver o comboio a deslizar no horizonte, enquanto se vêem forçados a aguardar pelo próximo. Nos videojogos existem alguns títulos que replicam esta complexidade, ao mesmo tempo que evocam a antiga tradição dos agulheiros.
Numa perspectiva minimalista, redutora mas não menos desafiante, está Railways Train Simulator. Inicialmente lançado para o iOS pela produtora portuguesa Infinity Games, o Nerd Monkeys agarrou no original e adaptou-o às funcionalidades da Switch, para uma experiência igualmente portátil, com ou sem botões. Este projecto é o segundo que a Nerd Monkeys estabelece com o estúdio de Odivelas. Inicialmente começaram por desenvolver o “port” Switch de Traffix, com óptimos resultados. Em Railways Train Simulator, o “port” é como que perfeito, com a possibilidade de se jogar com botões, ainda que eu prefira o recurso à via táctil.
É verdade que Railways Train Simulator apresenta-se em moldes minimalistas. Os espaços são opacos e estilizados, de cores contrastantes, embora com algum labor geométrico tridimensional nas formas , com uma perspectiva “top down” a deixar perceber por onde saem e por onde são retomadas as linhas pelas quais os comboios circulam automaticamente. O objectivo é muito simples: recolher os passageiros da cor dos comboios. Assim, o comboio vermelho recolhe os passageiros vermelhos, enquanto que os comboios amarelo e roxo, os passageiros das cores respectivas. Para tal, é necessário deslocar o comboio para a linha onde estão os passageiros da mesma cor.
O cerne do desafio repousa no objectivo traçado para cada nível, já que é suposto que o jogador recolha um número máximo de passageiros dentro de um tempo limite. Aliás, existem 3 fasquias de passageiros a recolher, uma mais baixa correspondente a uma estrela e duas e três estrelas para as maiores quantidades de passageiros recolhidos, que normalmente só se conseguem com mais algum esforço. A obtenção das estrelas desbloqueia níveis avançados. Ao todo existem 30 níveis, num desafio que mostra a entrega dos produtores no sentido de pensarem em pequenos cenários repletos de encruzilhadas.
A circulação dos comboios é automática, já que entram e saem pela mesma linha. No entanto, com o botão ou simplesmente pousando o dedo sobre a locomotiva de um comboio, pode-se desenhar um percurso alternativo, conduzi-lo até outra linha e dessa forma recolher os passageiros, ou então pará-lo. É que estando três comboios em marcha há que evitar as colisões, já que basta um toque para a situação de “game over” e a ter de começar desde o princípio. No fundo estas são as linhas com que se cose este simulador de comboios minimalista. Pois não há aqui grande complexidade na gestão, apenas a deslocação dos comboios numa harmonia de avanços e paragens, sem colocar em perigo as composições e visando a recolha dos passageiros. É um tipo de experiência simples, arcade e agradável, que não deixa de proporcionar um bom desafio, especialmente quando existem múltiplas encruzilhadas e as margens disponíveis para fazer atravessar um comboio são estreitas.
Por vezes a dificuldade está em que criar inúmeras paragens também produz um efeito de maior morosidade na recolha dos passageiros, podendo chegar ao fim do tempo limite sem terem transportado um mínimo de passageiros, o correspondente a uma estrela. A dificuldade é essa e acentua-se à medida que escalam os 30 níveis, suficientes para vos manter ocupados ao longo de bastantes horas. É pena que as mecânicas proporcionadas ao início não projectem a experiência a um patamar superior nesta simulação em tons minimalistas. A ausência de mais modos de jogo, que não seja experimentar jogar o mesmo nível ao infinito para um recorde de recolha de passageiros, não contempla grandes veleidades. É sem dúvida um jogo saboroso, desafiante e com aqueles toques que nos deixam ver em cada nível um pequeno território de composições em movimento, uma secção de tempos apertados.
Além disso, a captura dos sons é óptima, com destaque para os assobios dos comboios ao nosso pedido de paragem e face à aproximação de uma composição, em risco de choque. Até a movimentação em linhas e a recolha dos passageiros exibem sons agradáveis. Nada de muito elaborado graficamente, com destaque para o arrastar das nuvens de fumo provenientes da chaminé, mas tudo afinado, competente e estilizado, numa apresentação convincente e sobretudo com uma jogabilidade eficaz e desafiante, que revela o bom trabalho da Nerd Monkeys na criação deste “port” Switch. Pelo preço, também quase simbólico face ao comum dos jogos, não é exigível pedir muito mais. Alguma repetição e o recurso permanente às mesmas mecânicas, sem qualquer refrescar ao longo dos 30 níveis pode tornar a experiência mais repisada a partir do seu meio, mas acaba por entregar sempre um bom desafio quando voltamos a jogar. Numa experiência não muito diferente da anterior passagem, mas que nos leva mais uma vez a gerir o tempo na encruzilhada de linhas e a tentar fazer avançar e parar as composições de forma a garantir que os passageiros cheguem aos seus destinos. O jogo pode ser adquirido com 20% de desconto na eShop ou com 33% de desconto caso tenham adquirido Traffix. O desconto é válido até ao lançamento, na próxima quinta-feira.
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