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Ratchet and Clank: Nexus - Análise

Dupla familiar.

No dia 4 de Novembro ficaram assinalados 11 anos que a dupla Ratchet and Clank, criada pelo estúdio Insomniac Games, entrou no mundo dos videojogos. Pessoalmente é uma das melhores memórias que guardo da PlayStation 2 e sem sombra de dúvida que conseguiram conquistar o seu carisma e personalidade junto de um grupo de dedicados fãs. Numa era na qual existiram muitas outras duplas que combinaram ação com plataformas, a dupla do Insomniac foi a que mais me cativou e aquela que mais saudade tive para ver regressar nesta atual geração. Em 2007 Tools of Destruction originou uma nova linha de jogos dentro da série, chamada de Future, que iria terminar em A Crack in Time, ou assim se pensava.

Depois de All for One e QForce, experiências que o estúdio tentou ao ramificar a experiência de jogo para englobar outros géneros e para tentar alargar o potencial público, o Insomniac decidiu que se iria despedir da PlayStation 3 com um último jogo. Quando foi anunciado que o estúdio iria passar a desenvolver jogos para outras plataformas além das da Sony, a única coisa em que pensei foi no futuro desta série. Nexus vem provar que está, tal como sempre, em boas mãos e que as experiências foram isso mesmo, experiências.

Passando então para Nexus, Vendra é uma perigosa criminosa que está a ser transportada para uma prisão por Ratchet, o lombax mais famoso do universo, e Clank, o pequeno robô que já teve direito ao seu próprio jogo. No entanto, antes que a conseguissem entregar, a dupla é atacada pelo seu irmão, o pouco inteligente Neftin, e as coisas tornam-se desastrosas. Esta dupla está no centro de todo este jogo e são os principais focos que motivam a progressão. No meio do espaço e face a uma nova ameaça intergaláctico-dimensional, Ratchet e Clank terão que enfrentar um novo desafio na PlayStation 3.

Este é o ponto de partida para uma aventura que tenta condensar numa experiência mais pequena tudo o que de bom a série nos deu ao longo destes últimos sete anos. Pegando nos melhores elementos de TOD, QFB e CIT, Nexus dá-nos tudo aquilo que já bem conhecemos, sem tirar nem por. A forma como raramente se desprende do tradicional na série é um dos seus melhores pontos mas ao mesmo tempo um dos seus piores. A inovação chegua como seria de esperar através das armas mas em termos de estrutura de níveis e novas formas de desafiar o jogador não antes vistas na série o jogo é ligeiro.

Plataformas e ação voltam a coexistir com uma astúcia e primor afinado ao longo de dez anos e se a história não tenta ser épica, a gameplay também não. Saltos aqui e ali misturados com um bom golpe com a chave de fendas intercalados com disparos de algumas das mais engenhosas armas criadas num videojogo é o que podem esperar. Nada que já não conheçam mas não podemos criticar o familiar por regressar para uma última volta quando a fuga ao tradicional nos tem dado tantos dissabores.

Visualmente o jogo segue em linha com os anteriores e está de uma qualidade agradável. Por momentos parece mesmo elevar-se acima do que é e quase nos engana a acreditar que estamos a presenciar uma película do estúdio Pixar. Isto é um grande elogio pois desde sempre a qualidade das animações e dos visuais em si foi altamente importante para dar vida a esta dupla de aventureiros intergalácticos. Visuais coloridos, planetas diversos e cada um com as suas cores e geografia próprias para lhes conferir distintas personalidades, Nexus consegue satisfazer neste parâmetro da sua composição.

Não podia continuar sem antes mencionar as cinemáticas do jogo que apresentam alguns momentos deliciosos e bem divertidos. Por vezes mais parece que estamos perante um filme de desenhos animados dignos dos melhores estúdios dedicados a tal. Ratchet e Clank são as figuras de proa mas em Nexus não deixei de sentir que, com toda a justiça, Vendra e Neftin Prog são os verdadeiros reis do espectáculo. Além de alguns momentos bons enquanto bosses, quase em apelo nostálgico ao que já jogamos antes, eles roubam as atenções nas cinemáticas em que entram.

O design de níveis não é nada de novo e até a forma como os segredos estão colocados e os níveis estruturados não é novidade, no entanto é bom ver que a fórmula tão sobejamente conhecida consegue satisfazer. Ao longo da aventura jamais foi sentido algum cansaço ao regressar aos níveis e o ritmo da experiência é bom e oferece coesão à qualidade geral de Nexus. Sentimos que o molde foi feito desde o início para uma experiência de menor longevidade e escala na qual todos os restantes elementos foram feitos para se sintonizarem em harmonia.

Os mais dedicados serão premiados com mais armas e armaduras mais cedo, enquanto os restantes podem ficar perante situações mais apertadas quando a munição termina. Uma roda de armas maior permite contornar a falta de munição mais facilmente mas Nexus jamais deixa o jogador abandonado. É na forma como está estruturado e na sua dificuldade que percebemos que o Insomniac desenhou o jogo para apelar aos pais que cresceram com a série que entretanto tiveram filhos que agora já vão tendo idade para começar a jogar.

É sensato e compreensível mas é um dos principais problemas de Nexus. Os momentos mais difíceis não apelam à perspicácia do jogador mas antes sim à velocidade com que consegue premir os gatilhos para disparar frente a um grande número de inimigos. A dificuldade e a linearidade dos confrontos pode ser difícil de digerir para os veteranos mas é um meio-termo compreensível para apelar a uma audiência mais vasta. Por outro lado, e talvez a maior ausência que o penaliza, são aqueles momentos cinematográficos e os altos confrontos durante os quais o jogador tinha o controlo mas mais parecia que estava a ver uma cinemática.

Eles andem aí...o Qwark também!

Perante um produto que se sente tão bem enquadrado para a família, o desempenho da SCE Portugal é verdadeiramente fulcral para isso. Toda a localização da legendagem do jogo para Português é mais do que importante mas a localização das vozes é simplesmente essencial para que todos em casa possam desfrutar do jogo. Há muito que Ratchet and Clank tenta cruzar visuais que ostentam algo que se pode catalogar como "qualidade Pixar" com uma experiência em videojogo e as vozes em Português reforçam o seu valor entre a pequenada. Mais do que sentir que estava num desenho animado, a sensação era mesmo a de estar perante um filme que ao invés de assistir estava a jogar.

Todo este trabalho arranca desde aquela primeira missão na nave e vai até à luta contra o boss principal e o final, que não é propriamente a conclusão estrondosa que muitos esperariam. Fica mais sugerido um "até já", tal como se pedia. De um momento ao outro passam perto de 5 horas e todas elas bem passadas. No modo de dificuldade intermédio o desafio é ocasional e raro, passam o jogo com facilidade portanto será recomendado o nível de dificuldade máximo para prolongarem um pouco mais a experiência.

Conseguir tudo o que o jogo tem para oferecer pode elevar esse número, como participar nas fases opcionais do torneio dos bandidos ou encontrar todos os parafusos dourados espalhados pelos cinco planetas aqui presentes. O Modo Desafio é um New Game Plus que serve para quem quer mesmo tirar o máximo partido do seu jogo e explorar de forma artificial a longevidade do mesmo. É um elemento que em nada muda a qualidade geral mas cuja presença tem valor.

Ratchet and clank: Nexus é uma espécie de mini Tools of Destruction ou A Crack in Time. Tal como Quest for Booty, é um jogo mais pequeno, a preço reduzido, que tenta em metade do tempo oferecer na mesma toda a essência que consagrou esta dupla nas consolas caseiras durante dez anos. É uma despedida mais do que merecida da PlayStation 3, fazendo justiça à série e quase nos faz esquecer All for One ou QForce. O maior mérito de Nexus é ser um último grito pela sobrevivência da série, pela sua qualidade e para nos fazer acreditar que precisamos de mais jogos da dupla no futuro. Foi uma jornada agradável na PlayStation 3.

7 / 10

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