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Redout - Análise

O mundo das corridas futuristas, pós WipEout.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
As influências de Redout são óbvias, mas estas corridas futuristas são desafiantes, carregadas de intensidade e aquela sensibilidade arcade.

O Studio Liverpool, famoso por ter dado asas a WipEout, uma das mais espectaculares franquias de corridas futuristas gravitacionais a velocidades estonteantes, encerrou há meia dezena de anos, mas o legado permanece vivo, continuando a exercer muita influência em produtores independentes. Do mesmo modo que a Nintendo abdicou - sine die - do incrível F-Zero, muitos fãs continuam a correr num dos melhores postos de condução, F-Zero GX, uma criação levada a cabo conjuntamente com a Namco e a SEGA, sob a direcção de Toshihiro Nagoshi, hoje o mentor de Yakuza. Mas enquanto há estúdios que vão e outras séries permanecem arredadas do foco luminoso do sempre agitado mercado dos videojogos, é nas mais pequenas produtoras que se labora como um garagista da Fórmula 1 dos anos oitenta, quando abundavam as equipas privadas à margem das oficiais.

Um dos casos de maior sucesso em tempos recentes é Fast Racing Neo, oriundo dos germânicos Shin'en. Eles são responsáveis por aquela que, na óptica de alguns, pode ser vista como a alternativa a F-Zero GX. As corridas futuristas de Fast Racing Neo ganharam voos supersónicos na Nintendo Wii U, permanecendo com os mesmos atributos numa produção melhorada para a Switch. Mas, se os deuses não se ralaram mais com o Studio Liverpool, dispensando-o após anos de devoção e incremento por uma das mais poderosas séries de corridas futuristas, sob aquele que era o seu horizonte perfila-se não só a Shin'en como a 34BigThings, com Redout como a sua nova coqueluche, um verdadeiro competidor de Fast Racing, que agora conhece uma versão para as consolas, acrescida do conteúdo digital lançado na versão PC, publicada há um ano.

Por via da editora 505 Games proporciona-se este alargamento às consolas. Numa edição definida como Lightspeed Edition, não só encontramos os conteúdos originais como os conteúdos posteriormente lançados para a versão PC. É o pacote derradeiro, que vem acrescentar mais conteúdo, nomeadamente pistas e naves. Não é difícil ficarmos apaixonados pelo ritmo avassalador com que nos fazemos às pistas, desenhadas de forma a proporcionarem altos e rápidos voos. A sensação de velocidade extrema é uma das suais maiores riquezas, pelo que tentar a volta perfeita, sem tocar numa barreira ou entrar numa espiral que nos leve a um acidente de grandes proporções, torna-se num desafio. A vontade de superação cruza-se com as acelerações vertiginosas, sendo muitas vezes mais difícil abrandar no momento certo do que manter a nave intacta do princípio ao fim da corrida.

Sete ambientes diversificados. Do deserto, ao gelo, passando pelas planícies verdejantes.
Do primeiro instante que nos sentimos contagiados pela velocidade. O ritmo cardíaco do nosso coração quase que se torna audível, como os graves de um baixo oriundos de uma cave distante. Assim que desfazemos as curvas intermédias e rápidas de gatilho de acelerador apertado ao máximo, não há muito mais em que pensar. Toda a nossa atenção se polariza naquelas sequências estonteantes, rítmicas, tal é a imposição da banda sonora, em ritmos "techno" muito bem criados para o efeito. Não sei se isto corresponde à Fórmula 1 do futuro, mas não fecho a porta a corridas com esta pujança.

A modelação algo tubular das pistas permite atingir uma sensação de velocidade muito grande. Com lombas, subidas, loops, curvas intermédias e algumas mais lentas a justificarem o travão, para lá das secções com quebra, onde se atingem grandes saltos, os percursos posicionam-se como centrais para o sucesso de uma experiência deste género.Ao todo encontramos 35 pistas, distribuídas por sete ambientes, todos diferentes, num planeta terra depois de uma catástrofe de dimensões apocalípticas. Ao conjunto, acrescem ainda os circuitos "boss", onde vão travar uma espécie de duelos ou braços de ferro.

Com uma aceleração e velocidade tão rápidas, negociar as melhores trajectórias é deveras delicado. As vibrações sentidas no comando, ao mínimo toque numa barreira de protecção, são como alertas para nos mantermos atentos e seguros na condução, seguindo a linha perfeita. A sensação de imersão é grande e para isso contribuem os pontos que projectam ainda mais velocidade na máquina quando tocamos em cheio. É uma forma de dar alguma velocidade extra. As naves possuem um escudo, que se regenera a cada volta, visível através de duas barras laterais coladas às asas. Esse escudo perde força sempre que embate numa barreira, causando danos na nave. Se esgotarem as reservas, o embate seguinte torna-se letal.

A luta pela posição cimeira chega a ser titânica.

A condução é sobretudo arcade. Muito suave e acessível, não exclui o uso dos travões e a utilização do segundo analógico para inclinar a nave (uma forma de fazer melhor as curvas). Conjuntamente com a utilização do botão turbo, os aparelhos ganham mais velocidade e fica assim estabelecida uma grande dinâmica. Andar constantemente depressa é bom e alucinante mas também importa riscos.

O modo campeonato perfila-se como uma opção para começar por tirar proveito das corridas. Desbloqueada uma nave, o jogador começa a participar em corridas consoante o nível de experiência. Os objectivos na vão desde o "time attack" até à corrida de 3 voltas, com direito a medalhas, ouro para os mais rápidos e o bronze para o mais lento do pódio. Consoante a prestação na prova, o jogador amealha dinheiro, imprescindível para a aquisição de novas naves e "power ups". Estes, como é natural, melhoram a performance do aparelho e dividem-se em duas categorias. Uma é constituída pelos power ups passivos, que operam uma mudança imediata assim que são desbloqueados. Os power ups manuais requerem uma activação, um impulso. A alteração e escolha dos power ups é levada a cabo no momento prévio à corrida, o que permite reforçar a vertente estratégica, consoante a pista e o objectivo a atingir. Estas unidades de melhoria estão sujeitas a diferentes níveis de evolução, peças que naturalmente vão ficando mais dispendiosas à medida que sobem de nível.

As naves são diferenciadas, algo visível através do quadro de estatísticas. Elementos como velocidade, força e viragem, encontram-se assinalados numa grelha. A partir daí podemos seleccionar o aparelho que melhor se adapta à pista. As pinturas acrescem como opcional, uma forma de personalizar e dar um toque nosso. Curiosamente, o combate subalternizou-se, em detrimento da performance quase pura, da condução. Não existem grandes ataques aos adversários, nem grande poder de fogo, como acontecia em WipEout, apenas algumas possibilidades (modestas) para travar a progressão desmesurada de algum rival.

7 equipas, cada uma com a sua nave.

Existem circuitos em bom número (35), mas preferíamos que tivessem sido desenhadas mais regiões. Apenas com sete áreas, as pistas existentes por cada zona diferem apenas em termos de traçado, apresentando mais semelhanças entre si. Nalgumas pistas parece faltar alguma produção, bem como estruturas de maior dimensão que são encontradas com frequência nas corridas arcade. As corridas contra o computador estão ainda restringidas a seis pilotos. Mantendo uma imensa fluidez, é sempre mais interessante participar numa prova onde exista pelo menos uma dezena de rivais.

A música é uma das componentes bem exploradas, assente sobretudo em temas electrónica e "techno". Pulsações que fazem ainda mais sentido quando se junta uma coluna ao ecrã de TV ou um sistema de auscultadores avançado. A componente multiplayer está assegurada, tanto em ecrã dividido como através da partilha online, com um senão: mantém-se a limitação a seis jogadores, o que é pouco para uma competição em pista.

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Se jogaram WipEout, assim como Fast Neo Racing e aguardam que a Nintendo lance a tão reclamada sequela de F-Zero GX, então Redout é uma boa opção a ter em conta, uma alternativa de peso que recebe influências destes jogos (e ainda de Rollcage e POD), mas que também define as corridas futuristas com algumas particularidades, especialmente no campo dos "power ups". Não é uma experiência, apesar disso, perfeita, há arestas para limar e fica a sensação de ter recebido alguns constrangimentos nesta passagem para as consolas. Mesmo assim, não invalida ser uma das melhores propostas em termos de corridas futuristas. WipEout pode pertencer à história, mas ainda continua a exercer influência e a dar sequência a novas produções.

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