Resident Evil 3 ainda tem terror nas veias
Uma espécie de Action Horror sem igual.
Em 2019, Resident Evil 2 remake tornou-se no meu jogo favorito do ano, um sentimento partilhado com muitos dos que estão a ler isto, algo que é fácil de explicar. A forma como transportou para a actualidade esse aclamado clássico, com elevado requinte e aquele toque de especial qualidade que parece emanar dos mais recentes projectos da Capcom, fazem dele um dos meus jogos favoritos desta geração de consolas, que se aproxima do fim. O misto de suspense, atmosfera inquietante, resolução de quebra-cabeças intimamente ligada à gestão de inventário, fazem desse jogo uma experiência aterrorizante, mas altamente envolvente.
Na review de Resident Evil 3, fiz questão de referir como remake teria de ser, forçosamente, um jogo diferente, mais focado na acção, tal como o original de 1999. Esta espécie de Action Horror repleto de estilo, é um jogo com muito mais acção e sem o design labiríntico do anterior, que não te desinquieta tanto por saberes que terás de passar novamente por locais cujas ameaças não querias de forma alguma reencontrar. No entanto, esta mistura de electrizante acção abundante em momentos repletos de adrenalina, com aquele aroma propagado pelo que de melhor se faz no Japão, ainda enverga uma atmosfera de terror, que te vai deixar inquietado com a sensação constante que alguém está atrás de ti. Aquela sensação que nem sabes se queres mesmo virar a câmara para trás e descobrir o que está fora do alcance da tua visão.
Pela altura em que estiveres a ler isto, Resident Evil 3 remake já estará disponível nas lojas físicas e nas lojas digitais como a PS Store, o que significa que muitos já estão de volta à cidade dos mortos para descobrir como este jogo de acção ainda tem terror nas veias. O foco num jogo de acção era inevitável, mas o que surpreende é como a Capcom consegue manter uma atmosfera tão intensa, talvez melhor do que o próprio original conseguiu na altura, especialmente perante a amarga tarefa de suceder a RE2. A verdade é que mesmo sabendo do maior foco na acção, Resident Evil 3 remake permaneceu um jogo altamente desejado por aqui e após terminá-lo fica a sensação que jogamos uma das melhores coisas de 2020, com mérito para a Capcom.
Apesar desta acção japonesa de cariz eléctrico, com direito a "one-liners" e cenas repletas de exageros, Resident Evil 3 remake tem espaço para respirar com outros momentos mais calmos e mais ao encontro da atmosfera inquietante. Aliás, basta pensar que está uma besta terrível sempre atrás de ti (que desaparece durante largos momentos e depois surge abruptamente quando menos esperas), para constatar que no seu design básico está uma essencial sensação de desconforto. Ao longo da minha primeira sessão com o jogo, foram vários os momentos em que dei um pulo e fiquei com o coração nas mãos. Nemesis é realmente imprevisível e inicialmente não sabes os limites do seu comportamento.
"Foram vários os momentos em que dei um pulo e fiquei com o coração nas mãos. Nemesis é realmente imprevisível"
Morri diversas vezes pois estava em pânico a fugir de Nemesis. Resident Evil 3 remake força-te a gerir o comportamento: paro para disparar para o zombie à minha frente arriscando que o Nemesis se aproxime para me mandar um brutal soco ou tento escapar do zombie com um dodge perfeito e seguir acrobaticamente em frente? Dei por mim a pensar nisto diversas vezes e quando falhava o dodge, o zombie agarrava-se ao meu pescoço e ficava em pânico sobre o que me poderia acontecer. Instalar essa sensação de pânico e inquietação é uma das maiores provas da atmosfera de terror que ainda existe no jogo. Por mais que Resident Evil 3 remake esteja focado na acção, esses momentos são alguns dos mais proeminentes.
Sem referir spoilers que possam estragar a tua experiência, posso partilhar que numa fase inicial, Jill tem de activar a rede eléctrica numa parte de Raccoon City. Todo esse segmento é verdadeiro Resident Evil, em que a atmosfera inquietante prevalece e estás isolado, mergulhado na escuridão, sempre à espera de onde virá o inevitável perigo. O mesmo posso dizer das secções com Carlos Oliveira, que alternam de forma muito fluída e bem pensada entre acção e inquietação. Especialmente porque a sua incursão por um certo local de Raccoon City cruza com o jogo anterior de uma forma que te vais sentir empolgado.
"A atmosfera inquietante prevalece e estás isolado, mergulhado na escuridão, sempre à espera de onde virá o inevitável perigo".
O segmento de Carlos no Hospital é um dos melhores do jogo e a mestria da Capcom vê-se no facto que, apesar de usar uma metralhadora, Carlos não pode sair a disparar para tudo e muito mais do que a gestão dos inimigos, aqui o importante é navegar pelos cenários e descobrir onde estão os itens verdadeiramente importantes. A intenção da Capcom em conseguir uma personalidade mais eléctrica e excitada está aqui, mas seria uma banalidade reduzir o jogo a um desenfreado comboio de cenas de acção. Existem pausas, nuances, momentos para deixar o terror respirar.
Quando o ano terminar, acredito que Resident Evil 3 remake estará na minha lista de jogos do ano e a curta longevidade é feitio do design e não defeito. É um jogo feito para ser jogado diversas vezes, à procura de cumprir mais desafios para desbloquear mais extras e iniciar mais uma vez a fuga de Jill a Nemesis. Talvez numa dificuldade superior, talvez com uma missão específica (sem abrir o baú ou usando apenas uma certa arma), talvez até em menos de 2 horas.