Resident Evil 3 - Review - Furiosa
Acção non-stop.
Resident Evil 3 remake chega num momento deveras único, no qual somos forçados a seguir regras e recomendações que jamais nos foram impostas, especialmente enquanto sociedade. Qualquer pessoa tem o seu escape, o seu método para lidar com os problemas do dia a dia, uma fuga para o quotidiano que por vezes se torna tão opressor. Os videojogos são o nosso escape de eleição, mas dificilmente imaginaria ver um Resident Evil traçar tamanhos paralelos com a realidade. O conceito de um vírus que ameaça a humanidade e força a sociedade a comportamentos chocantes é algo muito mais credível nesta actualidade do que o era em 1999, quando o original foi lançado na PS1.
No entanto, se existe esse curioso paralelo entre Raccoon City, a cidade dos mortos que viveu um noite de puro terror, a fuga de Jill Valentine é bem diferente da nossa. Após os traumáticos eventos de RE1, Jill foi suspensa e está fechada em casa à espera de sair de Raccoon City quando tudo acontece, quando o vírus se espalha e o mundo fica louco. Sem entender bem o porquê, uma imponente criatura inicia uma incansável perseguição que a forçará a uma última fuga, precedida por uma sensacional luta pela sobrevivência.
Resident Evil 3 remake é um monstro bem diferente de Resident Evil 2 remake, esse sensacional jogo que trouxe a série Resident Evil de volta às luzes da ribalta e ao estado de graça. Se RE2 é um memorável quebra-cabeças labiríntico no qual serás forçado constantemente a medir os teus passos, gerir recursos e lutar pela sobrevivência, com um foco no suspense e com uma atmosfera que pode ser descrita como inquietante silêncio que assinala iminente ameaça, RE3 é um monstro que explode com electricidade, ADN japonês e implora pela tua astúcia, agilidade e vontade de fazer melhor num contexto de gloriosa acção. A sobrevivência deu lugar à acção, mas o terror ainda permanece. Flutua aqui e ali, ora surgindo, ora sumindo.
Com isto quero apenas dizer que não esperes de Resident Evil 3 remake o que tiveste no anterior remake. Tal como aconteceu com o original, é um jogo muito mais focado para a acção, talhado para ser repetido incessantemente à procura de novos extras, possível de ser terminado em 3 horas na primeira sessão, mas que com uma electricidade que apenas imaginarias ser possível nos jogos da PlatinumGames. É um triunfo da Capcom, cuja longevidade é apenas um elemento da história e não deve dominar a narrativa em torno deste sensacional retorno da menina Valentine.
Action Terror cinematográfico
Quero começar por constatar que já sabes, o RE Engine é um motor sensacional que continuar a dar cartas. Resident Evil 3 remake é visualmente esplendoroso e as ruas de Raccoon City ganham vida como jamais imaginarias ser possível. Desde o modelo altamente detalhado de Jill Valentine ou Carlos, passando pelos cenários repletos de detalhes e iluminação espantosa que transformam todo o caos em momentos marcantes, existem imensas cenas que vão perdurar na tua memória. Estes visuais permitem que Resident Evil 3 ostente toda a sua ambição: oferece um jogo de Action Terror que mistura a essência de Resident Evil com o espírito de acção que esperarias de um jogo da PlatinumGames. Talvez o envolvimento da M-Two ajude a explicar isso, mas por vezes parece que Resident Evil e Vanquish tiveram um filho.
"Uma ou duas secções quebram o design de 'corredor', mas na maioria do tempo é uma electrizante e intensa experiência de acção pensada para ser jogada diversas vezes."
Como referido, RE3 remake não aposta na atmosfera inquietante de RE2 remake ou na solução de quebra-cabeças e gestão de recursos limitados dentro de um espaço que terás de percorrer diversas vezes. Aqui, apesar de um ou dois locais fugirem à regra (como aquele pedaço de Raccoon City que viste da demo), Jill Valentine estará em constante fuga e apenas passar duas vezes pelo mesmo local em raros momentos, porque a narrativa assim o dita. O tom altamente cinematográfico que o motor de jogo permite entra em sintonia com uma experiência de maior acção, focada numa série de fugas quase constantes e a sensação que algo animalesco está sempre à perseguir-te.
Os itens de cura e munição são muito mais abundantes, a gestão de inventário muito menos tensa e até tens a possibilidade de tentar escapar aos ataques com o Dodge de Jill ou soco de Carlos, o que revela bem o quão diferente é a personalidade deste jogo. Mas ainda tens partes extra para as diferentes armas que podes tentar descobrir, alguns locais que te deixam explorar para obter itens ou extras que podias deixar escapar, mas na grande maioria, Resident Evil 3 assume um design de corredor, nos quais terás de despachar rapidamente inimigos. A sensação é a de constante movimento, sempre em fuga, sempre debaixo de ameaça, sem medo de usar as armas (desde que a pontaria seja afinada), com uma maior agilidade.
Ligeiro aroma a PlatinumGames
Onde Resident Evil 3 te poderá surpreender, pelo bem e pelo mal, é no seu ritmo. Se te deixares levar pelo jogo de gato e rato entre Jill e Nemesis, vais desfrutar de um jogo de acção intenso, repleto de estilo e com momentos electrizantes. Em diversos momentos, até poderás ficar a pensar que a PlatinumGames esteve a ajudar no desenvolvimento. O ritmo é excelente, frenético, convida-te a seguir em frente, sem medo de usar as armas e constantemente investido em usar o dodge no timing certo. A sensação que a Capcom optou por um tom mais espirituoso e energético é bem visível nas cutscenes e boss fights, onde Jill está constantemente a tecer "one-liners" e tudo se torna altamente empolgante.
"As boss fights são divertidas e exigem alguma astúcia, não sendo apenas uma questão de disparar até à exaustão. As cutscenes em torno delas são sublimes"
Quando deres por ela, com cerca de 3 horas estarás perto do fim ou a terminar. Sem quebra-cabeças ou back-tracking, Resident Evil 3 remake assume-se como um jogo altamente fluído e dinâmico, no qual naturalmente progrides para novo local sem pensares duas vezes. Quando terminas o jogo, poderás ficar a pensar que toda aquela campanha que te deixou o coração empolgado e acelerado termina demasiado rápido. No entanto, o plano é esse, um jogo incrivelmente acessível, fluído e imediato, cuja acção te apresenta desafios que terás de conquistar jogando diversas vezes o jogo. Sem dar por ela, já tinha iniciado uma segunda sessão a tentar terminar mais rápido para obter mais pontos e comprar mais extras.
Esta é a essência de Resident Evil 3 remake e um facto que terás de ter em conta. Não tens aqui um segunda dose da experiência Resident Evil 2, tens algo totalmente diferente, acção e terror como jamais esperaria querer. Em Resident Evil 3 remake, a gratificação de terminar o jogo será prolongada com o desejo de cumprir objectivos opcionais (como matar determinado número de inimigos com determinada arma) para obter novas armas e, quem sabe, o Rocket Launcher de munição infinita. Quando lá chegares, provavelmente já banalizaste o jogo, mas no entretanto, acumulaste várias horas a aprimorar a tua habilidade, memorizar rotas, descartar movimentos desnecessários, conciliar o obter de itens com o melhor ritmo e desfrutar de uma perspectiva diferente deste universo da Capcom.
Energético e sublime
Resident Evil 3 remake tornou-se numa paixão imediata. Um jogo que vou guardar com carinho e que, inesperadamente, colocarei num patamar similar ao de alguns jogos de acção, como Vanquish da PlatinumGames. Jogos distintos, mas com uma metodologia sublime e focados em fornecer-te uma experiência visual grandiosa, uma atmosfera intensa e envolvente, focados em acção de grande qualidade e estilo. Era um dado adquirido que Resident Evil 3 remake seria um jogo mais frenético, devido ao original, mas jamais esperaria que a Capcom conseguiria manter a qualidade tão elevada.
Prós: | Contras: |
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