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Resident Evil 7 - Análise

De volta às origens.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Resident Evil 7 regressa às origens Survival Horror da série. É ideal para quem procura uma experiência de terror intensa.

Resident Evil 7 é exactamente o que a série precisava. Depois do desastroso Resident Evil 6, que quase arruinou a série, a Capcom foi inteligente com a direcção deste novo jogo. Por um lado, é um Resident Evil que sai fora dos moldes tradicionais da série, mas por outro, é um regresso às origens. É uma jogada arriscada, mas já resultou antes. Com Resident Evil 4 a Capcom também se afastou da estrutura tradicional da série, no entanto, e apesar de alguns fãs preferirem os primeiros Resident Evil, há que reconhecer que Resident Evil 4 injectou nova vida numa série que estava a ficar perdida.

Este novo jogo é muito diferente de Resident Evil 4, mas tem o mesmo efeito. Resident Evil voltou a ser entusiasmante. Acima de tudo, voltou às origens Survival Horror e, ainda mais importante, afasta-se da narrativa confusa estabelecida pelos jogos principais e pelos vários spinoffs. Portanto, se nunca jogaram Resident Evil, poderão desfrutar sem problema da narrativa de Resident Evil 7. A premissa é simples. No jogo assumimos o papel de Ethan, que parte para o pântano do Louisiana em busca de Mia, a sua namorada que desapareceu misteriosamente há três anos. Quando Ethan chega ao local indicado por Mia numa mensagem de vídeo, torna-se evidente que algo de muito errado se passa ali.

Uma grande mudança de Resident Evil 7 face aos jogos anteriores é que a acção acontece na primeira pessoa. Tradicionalmente, os jogos de Resident Evil apresentavam uma perspectiva na terceira pessoa, mas esta alteração é benéfica. Na primeira pessoa tudo se torna muito mais pessoal, intenso e assustador. O simples acto de caminhar por um corredor escuro, ouvindo apenas os nossos passos e o barulho da madeira a chiar, dá arrepios. Esta fórmula já foi usada anteriormente por outros jogos de terror (por exemplo, Outlast ou mesmo a demo P.T.), mas pelo menos, há que louvar que a Capcom tenha seguido os bons exemplos do género. Com Resident Evil 7 a série voltou a ser relevante nos Survival Horror.

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Enquanto os jogos anteriores eram completamente virados para acção, Resident Evil 7 dá-nos poucos recursos e faz-nos sentir indefesos. É mais um regressar às origens. Os primeiros jogos da série obrigavam-nos a gerir de forma minuciosa os recursos e a contar as balas. A escassez ajuda a intensificar a sensação de desespero quando estamos a enfrentar algo horrendo, mas em simultâneo, é preciso não entrar em pânico e acertar todas as balas (de preferência na cabeça) para não desperdiçar os recursos. Se ficarem sem balas, resta-vos o tradicional canivete, mas é uma arma demorada e arriscada, visto que vos obriga a aproximarem-se bastante do alvo.

"Resident Evil 7 dá-nos poucos recursos e faz-nos sentir indefesos"

O ritmo é extremamente importante num jogo de terror e Resident Evil 7 faz uma gestão inteligente do nosso desespero. Raramente temos oportunidade para descansar da intensidade da experiência, mas quando finalmente encontrámos um quarto com um gravador de cassetes ( que serve para gravar o progresso e como um ponto de segurança) parece que chegamos ao paraíso. Eventualmente, o jogo vai nos dando pequenas ajudas para não ficarmos tão indefesos. Há mochilas que nos permitem transportar mais itens em simultâneo (o que dá imenso jeito) e também encontrarmos injecções que nos aumentam permanentemente a vida, a velocidade de recarregar a arma e a estabilidade da mira, mas em nenhum momento Resident Evil 7 se transforma num jogo de acção, ainda que na parte final tenhamos várias armas ao nosso dispor.

Os puzzles também estão de volta com Resident Evil 7. Há puzzles simples de resolver, enquanto outros nos atrasaram um pouco pois não são tão óbvios. Existem sempre pistas, mas há que estar atentos aos pormenores. Alguns quebras-cabeças terão que resolver obrigatoriamente para continuarem o vosso progresso, enquanto que outros são opcionais. Os opcionais estão, geralmente, mais escondidos, mas vale a pena explorar bem todos os recantos dos níveis, pois é uma forma de encontrar mais suplementos. Há que acrescentar ainda que é um jogo com um grande valor de repetição, dado que concluir a história uma só vez não é suficiente para desbloquear tudo. Além disso, o modo de dificuldade Mad House, que é consideravelmente mais difícil e limite as vezes que podem gravar o progresso, só fica desbloqueado depois de concluírem a história pela primeira vez.

Embora Resident Evil tenha popularizado o género dos zombies, que hoje em dia está bastante gasto, os inimigos que vão enfrentar em Resident Evil 7 são quase humanos, ou pelo menos, é o aspecto que têm por fora. A família Baker preenche na perfeição as necessidades de um jogo de terror. É uma família distorcida, completamente lunática e capaz de actos aterradores. Em grande parte, a caracterização excelente de cada um dos membros desta família é o que torna Resident Evil 7 numa experiência tão assustadora. Claro que, tal como qualquer outro jogo do género, Resident Evil 7 tira partido dos jump scares, mas estes só são tão eficazes graças à atmosfera horrífica.

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Parte do sucesso de Resident Evil 7 vem do novo motor gráfico (RE Engine), que foi criado especificamente para este propósito. No geral, o jogo tem um aparência incrível e convincente. Acima de tudo, destacam-se as personagens. Os Bakers são tão assustadores graças ao aspecto realista e expressividade facial. O jogo faz questão de nos mostrar isto com planos pré-meditados em que podemos ver a cara dos Bakers em grande plano. A escuridão dos níveis ajuda a esconder algumas texturas de menor qualidade, mas é inegável a competência da Capcom no que toca a aproveitar o novo motor para criar um jogo assustador e marcante como Resident Evil 7.

"Resident Evil 7 é ainda mais assustador no PlayStation VR"

Resident Evil 7 é um dos poucos jogos com suporte completo para o PlayStation VR. Isto quer dizer que é possível jogar do princípio ao fim no dispositivo de realidade virtual da PlayStation 4. Não jogámos tudo neste formato, mas experimentámos algumas sequências para ver se funciona. Se o objectivo é ficar assustado, então a resposta é afirmativa. Resident Evil 7 é ainda mais assustador no PlayStation VR e a sensação de enjôo de movimento é praticamente nula. Movimentos como ficar agachado provocam momentaneamente uma sensação de desconforto, mas não num grau que seja insuportável. Ainda assim, na realidade virtual jogar durante longos períodos é cansativo. Quando retiramos o PlayStation VR depois de cerca de uma hora a jogar, sentimos a fadiga deste formato (convém sublinhar que a própria Sony não recomenda que se jogue no PlayStation VR durante longos períodos de tempo).

Um dos triunfos de Resident Evil 7 é colocar-nos com medo do que poderá estar na esquina que se avizinha, ou atrás das portas que fazem um barulho que nos deixa com pele de galinha. No entanto, já mais no final do jogo, o grau de terror diminui. Em parte, a experiência começa a tornar-se familiar e começamos a saber o que esperar ou que se esconde no próximo corredor. Por outro lado, a culpa também está num reúso excessivo do mesmo tipo de inimigos. Um jogo de terror como este triunfa quando nos atira para situações inesperadas e nos deixa constantemente apreensivos. Assim que a experiência se torna demasiado familiar ou confortável, a sensação desaparece. Esta sensação pode não ser universalmente verdadeira, até porque como fã do género de terror, posso estar um bocado anestesiado e sentir com menos intensidade a experiência.

Resident Evil 7 deve ser encarado como um novo início para série que aproveita os elementos fundamentais que em 1996 tornaram o primeiro jogo num sucesso. À primeira vista, é um jogo completamente diferente com uma nova perspectiva, mas era disto que a série estava desesperadamente a precisar. Ultimamente, a fórmula usada pela Capcom resulta muitíssimo bem. Resident Evil 7 é o melhor jogo da série dos últimos anos e merece a tua atenção caso estejas à procura de um jogo de terror.

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