Passar para o conteúdo principal

River City Tokyo Rumble - Análise

Quantos são? Quantos são?

Um "brawler" em jeito de role play num mundo aberto. A grande simplicidade nestes campos já não gera o mesmo entusiasmo de há 30 anos.

A esmagadora maioria - para não dizer a quase totalidade - dos "brawlers" ou "beat'em ups" criados no final dos anos oitenta e princípio dos noventa, como Double Dragon ou Streets of Rage, há muito que desapareceu dos radares. Algo próximo ou talvez o sucessor espiritual destes jogos seja a série Yakuza, que liderada pelo mestre Nagoshi (criador de Daytona USA 2, Scud Race e F-Zero AX/GX), é uma das poucas minas de ouro que a Sega explora com toda a devoção, especialmente no mercado nipónico, onde vende como pães quentes. Talvez por inadaptação ao 3D e às novas formas de produção, bem como o sempre decisivo interesse da audiência, os jogos de porrada que marcaram gerações entraram em extinção, pelo que a única possibilidade de conhecer esses clãssicos só por intermédio da ligação ao retro. Muitos produtores dessas velhas glórias nem sequer estão no activo. Por isso, quem pôde aproveitar; saciou-se, quem só agora descobriu as pérolas dantes; há sempre o apetitoso mercado retro (pelo sim pelo não conservem em casa o velho televisor CRT, se ponderam continuar a jogar nas consolas antigas)

Mas há uma excepção (há sempre uma excepção). A série Kunio-Kun (River City no ocidente), criada pela produtora japonesa Technos Japan, está activa, brindando os seus seguidores com acção "old school" e muita pancadaria. Hoje talvez não lhe seja atribuído o mesmo reconhecimento que já teve, mas numa plataforma como a 3DS, encontramos em Tokyo Rumble a remasterização do clássico NES River City, um dos melhores jogos editados na 8 bit da Nintendo. Juntamente com Double Dragon forma uma dupla de sucesso.

Desenvolvido pela Arc System Works e editado na Europa pela Natsume, River City Tokyo Rumble oferece todo o conteúdo da edição original da NES mais um bom trabalho de remasterização e serviço para os fãs, mantendo intactos os atributos do original. As limitações no design, especialmente o número reduzido de golpes (a facilidade em aplicar cada um) e uma tendência forte para a repetição das missões em Tóquio, enfraquecem um pouco este "brawler" em tempos modernos, mas nem por isso deixa de ser uma experiência retro e nostálgica que vale a pena ser jogada por quem nunca experimentou o original.

Apesar das limitações dei por mim mais a divertir-me mais neste jogo que em produções mais recentes. Desde logo porque não é monótono, nem os diálogos se tornam aborrecidos e o ritmo é rápido, com acção muito directa, típica de um jogo arcade, sob o velho lema "menos palavras e mais acção". É talvez na dimensão humorística e na arte especialmente 8 bit que Tokyo Rumble consegue captar a nossa atenção. Controlamos um adolescente quase adulto, ou um adulto ainda adolescente, pretendendo servir a justiça como melhor pode e sabe; isto é, recorrendo a biqueiras de metal, cintos e outros acessórios adequados a fazer a vida negra de quem causar barafunda e confusão nos bairros de Tóquio. É uma espécie de limpa rúfias, sempre envolvido em arrufos e desordem, tratando a professora por "querida" e sem tempo para os testes, à espera que o relógio da escola o liberte para tomar o metro até à estação onde um gang está envolvido em mais sacudidelas.

A história é simples e directa, facilmente assimilável, comparada a um guião de um filme de acção dos anos oitenta e noventa, fechado a socos e pontapés. É assim que Kunio limpa as ruas e mantém a ordem, recorrendo a murros e pontapés em todos os gangs que se atrevam a controlar os bairros. Inicialmente, os golpes disponíveis são escassos, mas ao subirmos de nível, e isto é importante, ganhamos mais capacidade, o que nos torna aptos para aprender mais golpes, como projectar um adversário caído. Esta componente é relevante porque funciona como um role play. Isto é, com o dinheiro do trabalho (uma série de missões secundárias), podemos comprar livros que ensinam à personagem como fazer um novo golpe. O jogo não requer combinações, basta premir os botões de ataque no momento certo para activar o golpe especial.

Além disso, é possível comprar comida para restaurar a saúde a meio de um combate mais violento e até adquirir uma série de acessórios como sapatos com biqueiras de metal, cintos e uma camisola interior, capaz de reforçar a defesa do nosso justiceiro. No entanto, só podemos equipar 3 destes acessórios num dado momento. A gestão destes dados é muito simples. Através do ecrã táctil podemos gerir o desenvolvimento da nossa personagem e gravar o jogo a todo o instante.

É possível escolher um aliado e partilhar até o jogo em modo cooperativo.

Um aspecto interessante em Tokyo Rumble é a dimensão aberta da área de jogo, o que significa que podem percorrer livremente Tóquio, viajando de comboio até à estação mais próxima (o Japão é excelente para se viajar de comboio, já agora). E como Tóquio ainda é uma cidade grande constituída por diferentes bairros terão muito que andar. Torna-se por isso frequente o encontro com grupos e gangs rivais. A luta é quase constante e mesmo que arrumem uma vaga de inimigos eles continuam em "respawn", quer voltem para trás ou prossigam. É uma óptima forma para evoluir mais rapidamente a personagem, mas muitas vezes não é possível ficar a lutar, sendo imperioso seguir para o objectivo.

Nos combates podemos usar uma série de coisas à nossa disposição; desde caixas do lixo, até bicicletas, bolas de futebol, pedras e tacos, tudo pode ser utilizado para desferir mais dano no adversário. Alguns movimentam-se em motas e tornam mais difícil a execução do ataque Nesse caso podemos combinar o salto com o pontapé ou rematar a bola de futebol na direcção do adversário atirando-o da mota.

A música adapta-se bem aos momentos de combate e, apesar de repetitiva, é suficientemente diversificada para não saturar por completo. Tokyo Rumble reúne os condimentos para uma aventura que não leva muito longe até ficar concluída, mas as limitações são óbvias. Apesar da variedade de golpes a maior parte dos combates implicam um pressionar constante dos mesmos botões. Não existem combos e após algum tempo de jogo temos a sensação de que tudo está visto e que não há muito mais a descobrir a não ser o final da história. A arte do jogo é bastante agradável e humorística, como só os japoneses conseguem executar, lembrando até os jogadores de futebol do famoso jogo Nintendo World Cup, pelo exagero e desproporção das suas linhas físicas. Mesmo não sendo para todos e apesar da simplicidade no tocante à jogabilidade, oferece aquele ADN dos clássicos do final dos anos oitenta.

Lê também