Samurai Riot "Definitive Edition" - Pelos caminhos do Japão feudal
Singela homenagem aos brawlers 2D.
Nos anos noventa foram tantos os jogos de acção em 2D que se notabilizaram, primeiro nas arcadas e depois nas consolas domésticas, que ainda hoje se fazem sentir os efeitos desse conceito que conquistou gerações. Nos tempos mais recentes, olhamos para Streets of Rage 4 como uma retoma épica desse conceito, ao mesmo tempo que mostrou que as bases do passado podem assumir uma composição moderna e actual. Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge, parece igualmente apontado ao mesmo caminho e sorte. Tornar actual um conceito com quase três décadas de idade não é tarefa simples. Se os jogos de acção, os ditos “brawlers” fizeram parte do processo de entronização de muitos jogadores, ver coroada hoje essa realidade desperta ainda mais a atenção.
E para além dos franceses da Dotemu cuja produção se pode definir como fulcral nos jogos supra mencionados, mais estúdios arriscam a mesma chama de sucesso, embora nem todos alcancem o mesmo êxito. É o que acontece com o Wako Factory, um pequena firma gaulesa, do oeste francês, composta por não mais de 10 pessoas, e que tem em Samurai Riot, agora na versão definitiva para a Switch, uma das suas maiores bandeiras. Samurai possui a exacta carga de um “brawler” 2D, com muitas katanas e golpes selvagens como que aplicados pelas mãos precisas de um Hattori Hanzo, mas sem o salto que desejamos.
Se o estilo de combate é facilmente atendível e capaz de fluir num espaço de breves minutos como a corrente do mais pacato riacho, os pontos que tendem a diferenciar este de outros jogos são a sua narrativa e as ramificações em termos de caminho a seguir. Não equivale isto a uma dualidade de mundos ou a dois lados da força, mas a caminhos distintos dentro da narrativa. Essa progressão leva o jogador, numa primeira incursão, a um dos oito finais. É verdade que do ponto de vista da longevidade Samurai Riot não abarca o mesmo tempo necessário para concluir um Streets of Rage. A Dotemu foi capaz de injectar grande variedade de níveis, compondo batalhas intermédias, secções com oponentes dotados de particulares defesas. Em suma, falta a Samurai Riot boa parte daquela produção que fez a diferença de um bom Streets of Rage 4 para um superlativo absoluto sintético.
É apreciável a dimensão artística e toda a recriação de um ambiente inspirado no Japão feudal governado pelos samurai. Mas o traço também é mais básico e falta aquele brilho que ajuda a disparar a cotação dos brawlers 2D. A produção dos cenários é mais comedida, os “sprites” são escassos, ao ponto de as personagens apresentarem poucos movimentos, e os golpes tornam-se amiúde repetitivos, ainda que se possa dizer que existe algum equilíbrio em termos de dificuldade.
Os controlos são intuitivos, com agradáveis combos e uma panóplia de opções de ataque e defesa bastante aceitável. Só que eventualmente atingimos um ponto da campanha do qual o pendor novidade se esfuma, passando a reciclar vezes sem conta os mesmos ataques. Os mauzões também não são muito diferentes e só os chefes de fim de nível patrocinam ataques diabólicos e uma batalha disputada no braço. Com dois estilos de combate distintos, Tsurumaru e Tsukane asseguram a vertente cooperativa para dois jogadores. Entre os pontos positivos está a mitologia e o valor da narrativa com as suas múltiplas ramificações, mas só nalguns momentos Samurai Riot consegue exceder-se e superar algumas expectativas.
Nada é particularmente brilhante, mas também não se pode dizer que é um título perdido. O que parece é faltar a Samurai Riot aquele salto dos jogos que marcaram gerações. No fim de contas é só mais um jogo de combate e acção que em pouco tempo se apaga da nossa memória e que torna mais difícil um regresso ou lembrança apurada. Sem inovar ou incorporar de forma avassaladora e brilhante uma representação do universo Samurai, é um jogo que depressa entra e sai do radar.
Prós: | Contras: |
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