Scorn - Grotesco, visceral e repugnante
Repetitivo e com um gunplay rudimentar.
Anunciado de certa forma a evidenciar a pujança dos exclusivos que iriam ser lançados para a Xbox Series X|S, a Microsoft destacou de certa forma a exclusividade de Scorn para o seu ecossistema, obviamente sendo apenas exclusivo nas consolas. Este trabalho da Kepler Interactive, produzido pela Ebb Software, destacou-se e até suscitou muito interesse em seu redor, com uma apresentação peculiar da sua atmosfera, sem que revelasse concretamente que tipo de jogo se tratava.
O processo de desenfiamento foi algo moroso, sofrendo adiamentos, denotando que havia dificuldade em traçar uma trajetória direta do pretendido e o que seria possível alcançar. Mas Scorn foi-se formando, surgindo nos últimos meses em várias apresentações de gameplay, com mutações no seu design até que estabilizasse num ambiente grotesco e visceral. Chegou então a reta final de 2022 para lhe colocar as mãos através do acesso pelo Game Pass da Microsoft, tanto na Xbox Series X|S como PC.
Joguei nas duas plataformas, sendo obviamente bastante superior no PC devido às capacidades dessa plataforma. Jogado em formato ultrawide e com uma fluidez muitíssimo superior à da consola Xbox Series X, como seria de esperar. É uma entrada estranha quando se inicia Scorn, nada é dito, nada é contado, o jogador assume a encarnação de uma criatura que se assemelha a um humano, mas ao mesmo tempo o distanciamento dessa forma é transferido para a consciência de quem o joga.
Atmosfera arrebatadora
Estamos num mundo/planeta desconhecido, construído com bases na arte de Zdzisław Beksiński e H. R. Giger, muito do universo Alien, mas sobretudo a presença de uma abordagem colada a Prometheus. Devo referir que fiquei completamente rendido ao aspeto visual implementado pela Ebb Software, é uma arte concebida na perfeição para o tema abordado, com uma atmosfera fria, rígida e dura. Sentimo-nos completamente sós nesta deambulação, na procura de uma suposta salvação. Será que é essa a finalidade? Nada é dito, somos nós a construir o progresso e a tirar conclusões do que nos é apresentado, dos patamares superados e da lenta evolução rumo a um desconhecido.
As bases de Scorn são estas, dado de forma fria e sem preparação. O jogador tem de analisar e observar o que o rodeia, experimentar os mecanismos e decidir a ordem correta das etapas. Só assim se vai evoluindo e caminhando no sentido certo. É aqui que está o alicerce de todas as mecânicas do gameplay, assente em quebra-cabeças constantes para se aceder à próxima etapa, próxima área de jogo. Estes enigmas podem por vezes ser morosos, mas todos com a sua lógica, são ultrapassados com maior ou menor dificuldade e obviamente que variam em desafio e satisfação.
Grotesco, visceral e repugnante
A progressão está ligada à resolução de enigmas que estão diretamente ligados ao grotesco e visceral. Quem já viu trailers e vídeos gameplay saberá o que esperar aqui, mas para os mais distraídos, Scorn é muito violento, cria no jogador a necessidade de realizar mutilações e execução de elementos jogáveis de elevado teor de violência física. Esta é uma abordagem fundamental na construção do que é possível fazer neste convite à experimentação. Tudo gira em redor de sangue, líquidos, órgãos, referências sexuais e figuras bizarras. Muitas coisas são feitas sem se saber o efeito, vamos descobrindo o que significam, as ferramentas ao dispor são de entendimento próprio e singular a cada jogador.
Este é o seu lado mais assertivo, consegue entregar algo diferente, desvia-se das conceções comuns para seguir um trilho diferenciado com base nas referências acima referidas. A exploração do desconhecido e o sentimento de solidão é um trunfo aqui, aliado a convicções tenebrosas a nível de design. Desconfortável, não existem sustos repentinos, somos conduzidos por um túnel de sentimentos de angústia e desespero, muito apetecível e até contraditório. Parabenizo a produtora pelo risco e quem a apoiou neste longo percurso de 7 anos, não é fácil manter o rumo por tanto tempo.
Gunplay rudimentar e desajeitado
Mas Scorn não se trata apenas da resolução de enigmas, também estão presentes mecânicas com armas de fogo para ultrapassar determinados inimigos/obstáculos. É aqui que as coisas se complicaram, comprometeu tudo o de bom que está feito nas outras facetas. O gunplay é bastante mau, demasiado rudimentar e sem forma de nos sentirmos recompensados. Está tecnicamente defeituoso e precisava de mais polimento, uma melhoria substancial colocá-lo-ia mais aliciante, com maior satisfação. Senti que lutava contra o jogo, os meus fracassos eram sistematicamente associados ao rudimentar manuseamento das armas, ainda por cima com tão poucos recursos onde cada tiro tem de ser a contar.
A nível técnico, deparei-me com algumas questões, no PC o formato ultrawide tem problemas, sempre que apontava a arma ficava com o campo de visão no máximo, resolvendo apenas o problema se aumentasse a resolução, muito estranho. Também de salientar que nas duas plataformas, Xbox e PC, existem configurações que não ficam gravadas, como por exemplo o desfoque de movimento, tinha de o desligar sempre que recomeçava a jogar. Questões facilmente resolvidas com atualizações.
Sentimento de insatisfação ao terminar o jogo
Após o terminar, senti múltiplas sensações. Primeiro detestei o final, e não me adianto mais nesse ponto. De seguida, é demasiado curto, menos de 6 horas de jogo, é pouco para 7 anos em desenvolvimento. Sei que não daria para mais devido ao que foi concebido, a repetição de ações similares é imensa, não temos grande variedade de conteúdo e o prolongamento poderia criar ainda mais o sentimento de insatisfação. A parte da violência é um tanto estranha, dei por mim a aceitar e ficar sedento por mais, estranho. Mas pode ser demasiada violência para alguns, temos momentos de teor forte e não aconselho aos mais sensíveis, chega a ser repugnante. Obviamente que amei a arte de Scorn, é lindo, um universo meticulosamente criado com momentos de enorme qualidade visual.
Scorn é diferente de tudo o que podes esperar, peca um tanto pela falta de satisfação final e um gunplay desajustado e rudimentar. De curta duração, vale pela apresentação visual de um conceito diferente numa genialidade do desconhecido, saber o que vem a seguir e de como o iremos alcançar. Mas esperava-se mais deste título, ou por outro lado, será que foi exigido demasiado à produtora? Pode ser um caso de expetativas demasiado elevadas. Quem tiver o Game Pass pode sempre experimentar, mas previno para o alto teor de violência.
Prós: | Contras: |
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