Season: A Letter to the Future - jornada de descoberta
Um jogo e um debate filosófico sobre o uso do tempo.
Season: A Letter to the Future é o mais recente exemplo da diversidade de experiências nesta indústria que tanta paixão desperta. Jogamos videojogos por diversos motivos, à procura de enriquecer com experiências de todo o tipo, mas algumas são verdadeiramente inesperadas, por mais simples que sejam os seus conceitos gameplay.
Para escapar ao mundo real e aos dramas que assolam a nossa vida, investimos tempo em videojogos por vários motivos. Seja para testar os nossos reflexos ou capacidade de concentração, testar o intelecto com quebra-cabeças engenhosos, desfrutar de belos mundos que estimulam o nosso imaginário, obter sorrisos com a pura diversão descomprometida ou descobrir novos conceitos gameplay, todos temos os nossos motivos.
No entanto, vivemos numa era em que a diversidade é tanta, que nos podemos dar ao luxo de descobrir jogos de contornos filosóficos, cujas mensagens e abordagens ao gameplay despertam uma jornada de introspeção que acaba por se tornar na verdadeira riqueza da experiência. Os estímulos que sentimos ao jogar uma experiência interativa são mais do que muitos e variam de pessoa para pessoa, mas num jogo como Season: A Letter to the Future é o convite para uma jornada de descoberta, sem qualquer violência, embrulhada em visuais de grande toque artístico que se tornam nos seus grandes argumentos.
Apesar de à primeira vista Season: A Letter to the Future parecer uma proposta abstrata, é um jogo de aventura e exploração no qual vais percorrer um vale na tua bicicleta. Uma vez que em breve o vale ficará inundado, restam menos de 5 pessoas nos últimos dias da evacuação e numa jornada para viver uma experiência sem igual, a protagonista Estelle fotografará, desenhará e descreverá os locais por onde passa e as pessoas com quem fala.
É um conceito tão simples, mas com algum engenho na forma como se propões a viver uma aventura de auto-descoberta, especialmente porque vamos para um local nos seus últimos dias e as mensagens estão sempre envoltas em esperança. Season: A Letter to the Future fala-nos em temporadas, espaços de tempo marcados por determinados acontecimentos e do papel das memórias na formação de cada indivíduo. As memórias que carregamos connosco e usamos para nos ajudar a navegar no dia-a-dia são instrumentos poderosos para formar a nossa identidade. No caso de Estelle, ela estará a formar memórias e a registar novos momentos com a tua ajuda.
Além disso, tendo em conta que este vale ficará inundado e perdido em breve, Estelle está a desfrutar dos últimos momentos de uma temporada, a transformar conversas ou cenas que está a viver em memórias que no futuro serão recordadas. Isto sem esquecer que as fotografias que tiras ou os desenhos de Estelle dão forma à tua jornada, que em Season: A Letter to the Future pode ser personalizada com o que colocas no seu caderno.
Esta jornada filosófica é intrigante para o cérebro e aposto que te deixará a pensar no papel das memórias para a formação do indivíduo, mas há a necessidade de criar um gameplay capaz de incentivar a exploração e saciar a vontade por interatividade. Season: A Letter to the Future peca um pouco nesta parte, pois apesar da bicicleta o espaço de jogo não é assim tão grande e a ideia de preencher um caderno com memórias como uma espécie de "quem sou neste momento capturado para o futuro eu se relembrar", poderá perder algum fulgor rapidamente.
Enquanto jogo de exploração, sem violência e focado em temáticas filosóficas, Season: A Letter to the Future brilha, mas em termos de mecânicas e execução, fica a sensação que a Scavengers devia ter feito mais. Capturar sons ou imagens e imortalizar aqueles momentos no teu caderno resulta num ciclo gameplay de apelo reduzido e rapidamente exploras o vale. A alma de Season: A Letter to the Future está nos diálogos com as pessoas que vais encontrar.
Onde a Scavengers deixa um pouco a desejar é na vertente técnica. Season: A Letter to the Future apresenta vários problemas de desempenho, o que combinado com problemas na câmara poderá resultar em inesperados momentos de frustração. Quando te queres perder nestes locais e explorar de forma a perder a noção do mundo real, lidar com problemas de controlos e câmara é tudo o que menos desejas. Quando pensas num jogo onde vais andar de bicicleta para viver uma aventura, pensas em fluidez e ausência de atritos. Frequentemente, pegar na bicicleta é lembrar os problemas de câmara e controlos, esbarrar em paredes invisíveis e sentir atrito. Pena que falte imenso refinamento ao jogo.
Season: A Letter to the Future é o mais recente exemplo de uma aventura indie sobre exploração e introspeção, capaz de te deixar totalmente apaixonado pela abordagem aos temas aqui explorados. É pena que a componente técnica esteja com diversos problemas e que falte refinamento a elementos como a câmara e controlos. Enquanto alimento para a alma, Season: A Letter to the Future é uma intrigante descontração, uma boa pausa dos mega-blockbusters que ocupam a maioria do nosso tempo, mas enquanto jogo, deviam ter ido mais além para criar uma memória mais marcante.
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