Será o sistema ExA-Arcadia a salvação das arcadas?
Qualquer produtora pode desenvolver para a plataforma de âmbito universal.
Há muito que a indústria das arcadas está em declínio. No Japão, por exemplo, onde a indústria atingiu o auge, com imensas operadoras no activo, só uma pequena parte mantém as portas abertas. Apesar da morte anunciada, o negócio ainda rende alguns cobres, mas é verdade que já não gera a mesma riqueza que gerou há uma, duas ou três décadas, quando um salão de jogos equivalia a casa cheia e fonte segura de receita.
Em Portugal o cenário é ainda pior. Os poucos operadores que resistem fazem-no quase por amor à camisola. Dizem que só lhes dá prejuízo. Muito do equipamento é do século passado, desactualizado, e gasto quando não está quebrado. Pouco há a fazer. As pessoas passaram a jogar nas consolas, nos computadores e nos telemóveis. Os 50 cêntimos vão para o café. Assim, outrora máquinas polidas e brilhantes, ganham pó afundadas em arrecadações, desligadas da corrente.
Nos Estados Unidos e nalguns países europeus, as arcadas ainda agitam incautos, mas já não garantem multidões e arcos de fumo. Hoje, muitas arcadas vivem sobretudo nas casas dos coleccionadores, encontrando novos lares e um prolongamento aconchegado da sua vida útil. Há muita nostalgia. Poucas editoras arriscam produzir em exclusivo para as arcadas. A Capcom, por exemplo, por força do acordo com a Sony na produção de Street Fighter V, deixou pela primeira vez uma grande iteração da série à margem dos salões. Estarão a perder dinheiro? Não tanto quanto perderiam sem o apoio da Sony.
Mas a situação poderá mudar porque no Japão há uma companhia chamada ExA-Arcadia, que pretende revitalizar a indústria arcade, propondo um novo kit de conversão universal, criado tendo em conta o actual momento. Nos dias que antecederam a JAEPO 2018, o maior evento de arcadas japonês (SEGA, Taito, Bandai Namco e Konami mostram as suas novidades), esta produtora anunciou ao mundo a solução mágica. A ExA-Arcadia será a plataforma capaz de levar nova vida às arcadas, operando como um kit de conversão de elevada performance (um pouco superior a uma PS4 e Xbox one - o sistema possui uma arquitectura PC-Windows) e para o qual todos os produtores poderão lançar os seus jogos.
Tudo isto através de um sistema de implementação mundial, promovido por distribuidores interessados e oriundos de diferentes regiões, eliminando assim as sempre aborrecidas licenças, custos aduaneiros e pesadas cobranças aos retalhistas. Depois da segunda remontada na indústria (2002), muitos operadores passaram a trabalhar com cabines dedicadas. As máquinas ganhavam utilidade e geravam riqueza pelo método exclusivo, mas ao fim de algum tempo eram esquecidas e acabavam em arrecadações ou encostadas à parede de uma garagem.
Mas o que fazer a muitas cabs que já não conhecem um jogo novo há anos? Aplicar-lhes um kit de conversão? No plano da ExA-Arcadia, essa é a solução, mas é resposta que tardava por chegar e poderá pecar por tardia, quando era conhecido há muito o modelo insustentável das cabines dedicadas. Perdendo para o modelo de distribuição das consolas, computadores e smartphones, as arcadas terão que reconquistar o interesse dos "developers", atraídos por um hardware universal, mais capaz e em sintonia com as máquinas actuais, esperando que através das receitas do kit de conversão obtenham margens de lucros tão ou mais elevadas que a edição numa consola. É um negócio no qual todos podem ficar a ganhar, inclusive os operadores, que terão de pagar valores optimizados.
Uma das vantagens do ExA-Arcadia é a distribuição mundial. Nesta altura, os representantes da companhia procuram apoio entre os "developers" e distribuidores que possam levar o produto a todas as regiões. Os interessados só têm que entrar em contacto com a companhia, podendo usar o canal Twitter. O sistema será enviado para os EUA, Europa e terá uma grande penetração no Japão, estando actualmente em exibição na feira com um dos jogos anunciados em exclusivo: Aka & Blue Type-R, um "shmup" "bullet hell" de formato vertical.
A ExA-Arcadia pretende assegurar o maior número possível de géneros. Os "shmups" sempre constituíram uma grande identidade das arcadas, especialmente no Japão, com muitas editoras de monta (entre as quais a Cave) a lançarem os seus jogos em formato PCB até 2012. Mas a solução desta companhia pretende ir além dos habituais géneros, abrindo espaço a que outras editoras lancem diferentes experiências, das aventuras aos jogos de plataformas, "beat'em ups", "fighting games" e mesmo "racers".
Outra produtora que já revelou interesse no formato é a espanhola Locomalito, que ainda há pouco lançou Super Hydorah, um "shmup" de scroll 2D horizontal muito influenciado por R-Type e Gradius. O produtor, presente no JAEPO 2018 já disse que o jogo a correr na ExA-Arcadia é uma remistura da versão para as consolas, dotada de uma arquitectura mais próxima da visão original. Os produtores têm interesse em criar conteúdos e jogos exclusivos para a plataforma. Só assim podem atrair novos utilizadores e criar uma alternativa ao software presente nas consolas, enquanto obtêm maior rentabilidade.
Sem referir o preço, a companhia já tornou públicas algumas especificações do sistema. Esta é a primeira plataforma PCB lançada nas arcadas japonesas desde o lançamento de DonDonPachi SDOJ, em 2012. Terá uma arquitectura muito similar à de um PC-Windows, criando convergência entre consolas e arcadas. O sistema dará suporte até 4 kits de software, uma opção similar à Neo Geo MVS cujas placas permitiam a inserção até quatro cartuchos, para quatro jogos em simultâneo (é o método pick up and play).
Está assegurada compatibilidade com formatos 4:3 (CRT) e 16:9 (LCD) das novas cabines. Permitirá aos operadores recolherem mais margens de lucro, dado que o sistema de partilha por moeda será optimizado para os favorecer. Haverá apoio permanente via online, através de actualizações e updates. Perspectiva-se que o custo dos kits de software não seja muito elevado. Além disso, de modo a assegurar compatibilidade com muitas arcadas, a placa será compatível com o sistema JVS e JVS Jamma, formatos estabelecidos no mercado.
Os preços e especificações ainda não foram revelados, mas a companhia adianta que o sistema pode superar os actuais modelos PS4 e Xbox One. Só no campo das conjunturas se pode perspectivar o preço da placa com um jogo, mas já adiantaram que será competitivo quando comparado ao preço de uma Type X2 (algures entre os 2 e os 3 mil dólares), podendo por isso ser inferior a 2 mil euros com um jogo incluído.
Depois da JAEPO 2018 a ExA-Arcadia continuará a sua missão em solo norte-americano, junto de alguns dos maiores operadores. Estará no Utah, em St Louis e Brookfield, Illinois. Prosseguirá para a California Extreme (CAX 2018) e Replay FX. Na Europa está agendada a presença no evento Stuntfest, em Paris, aguardando-se um eventual comunicado por ocasião do EVO 2018, em Las Vegas, no mês de Agosto (quiçá serão revelados "fighting games".
É desta forma que uma companhia fundada por engenheiros e pessoas que viveram por dentro a cena arcade no Japão procura revitalizar a indústria. No meio de muito optimismo e esperança pairam também algumas dúvidas sobre a viabilidade do sistema. Após anos sem a criação de uma verdadeira solução para o declínio das arcadas, parece que desta vez há um firme interesse e, mais do que isso, a criação de um sistema adaptado à realidade dos tempos que vivemos. A placa pode ser um sucesso se for vendida a um preço razoável e o software não atingir valores muito elevados. As indicações preliminares parecem dar aso a uma visão optimista, mas nada disto surtirá efeito sem o apoio das editoras, operadoras e jogadores. Só através de exclusivos e novos salões poderão existir verdadeiras condições de sucesso e uma real alternativa aos actuais sistemas. Isto ainda é só o começo, ainda muito será revelado, mas podemos estar perante uma inversão na tendência para o declínio e a morte anunciada da indústria arcade.