Série Iron Fist da Netflix solidifica o tom da Marvel na TV
Todo o treino de Daniel Rand não o preparou para a realidade.
Depois de três séries, a Netflix e a Marvel regressam com Iron Fist e solidificam de vez o tom que escolheram para estas produções televisivas. Enquanto no cinema vemos as grandes aventuras de escala galáctica, patrocinadas por personagens e equipas que mais beneficiam com os dispendiosos efeitos especiais e cenários de larga escala, na televisão temos as personagens mais credíveis, que, tal como tu e eu, precisam preocupar-se com a vida real dos comuns mortais. Apesar de todas as suas habilidades, e de tudo o que os tornais especiais, precisam ainda assim preocupar-se em ir ao multibanco e ao contrário do que muitos dos heróis que vês no cinema sugerem, precisam manter a sua vida social o mais normal possível, e desviar-se das balas. Isto sem esquecer que não querem revelar que têm poderes especiais a um mundo que vive com medo em relação a este surto de indivíduos especiais.
Foi precisamente esse delicado equilíbrio entre sobrenatural e fantasia com o real e credível que despertou a paixão de milhões de fãs pelas duas temporadas de DemoliDor, a primeira personagem que ganhou vida graças a estes esforços conjuntos da Netflix com a Marvel. Depois veio Jessica Jones, que mais uma vez caminhou esse percurso entre desejo de utilizar as habilidades especiais para o bem dos outros, mas com receio de como isso prejudicaria os que estão à sua volta. Luke Cage foi construído nessas mesmas bases, e o que poderia ser um brutamontes a forçar a sua maneira de ver o mundo, tornou-se numa luta por valores morais, a descoberta do seu lugar num novo mundo, e ainda em todo um dilema sobre como e quando usar as suas habilidades. Todas elas também são histórias de origem (mesmo a segunda temporada do DemoliDor com o Justiceiro) e todas elas vibram quando nos mostram que estes indivíduos são especiais mas ainda assim têm de obedecer a praticamente todas as leis e regras de segurança que tu e eu.
Se DemoliDor serviu para agarrar o público e como um atestado de intenção por parte da Marvel e da Netflix, dizendo desde logo que isto não ia ser algo banal e às três pancadas, Jessica Jones e Luke Cage mostraram como esse tratamento pode ser aplicado a heróis menos conhecidos do grande público. Se fores fã dos comics, certamente conheces qualquer um destes personagens, mas a grande maioria provavelmente nunca ouviu falar de Jones ou até de Iron Fist, esta nova série da Netflix com estreia marcada para 17 de Março. A oportunidade de assistir aos 6 primeiros episódios permite-nos desde já garantir-te que se gostaste deste tom humano e credível dado aos personagens da Marvel, então podes estar descansado, a jornada de Daniel Rand no regresso à civilização é provavelmente uma das mais interessantes entre as séries da Marvel.
Iron Fist conta-te uma nova fase na vida de Daniel Rand, filho de uma das mais ricas famílias de Nova Iorque que morreu quando tinha 10 anos num desastre de avião. Pelo menos é o que o mundo acredita pois, como vais descobrir, Daniel sobreviveu ao desastre e após 15 anos a treinar com monges em K'un-Lun, um lugar sagrado onde nasce o Iron Fist, está de regresso à civilização para recuperar o tempo perdido. Não te vou contar nada que possa estragar o teu desfrutar da série, até porque é altamente importante que estejas simplesmente desprevenido para as pequenas surpresas e reviravoltas que a série te quer dar. Apenas vou falar no básico. Quando Rand chega a Nova Iorque, corre para os seus amigos, os irmãos Ward e Joy Meacham, que ficam surpreendidos por descobrir que está vivo e acima de tudo por encontrar um Daniel Rand tão diferente. Desprovido da necessidade por bens materiais e supérfluos, a inocência e espírito aberto de Daniel não resultam muito bem no mundo corporativo tão céptico e bruto da sociedade actual.
Tal como Matt Murdock, Jessica Jones e Luke Cage, também Daniel Rand terá de lutar pelo seu lugar na cidade, terá de lutar contra o seu passado e enfrentar toda uma nova série de ameaças. Quando tudo parece misterioso e desconexo, aos poucos e poucos vemos que as coisas estão mais ligadas do que parecem, e os eventos que à primeira vista pareciam despropositados, ganham contexto. Apesar de ainda não ter visto toda a série, estes seis primeiros episódios atestam toda uma aprendizagem que a Marvel e a Neflix têm amealhado ao longo destas séries. Iron Fist aposta nas mesmas fichas que resultaram até agora, lutas humanas e credíveis, personagens "reais", situações que podiam acontecer a qualquer um de nós, e acima de tudo um protagonista completamente desenquadrado com a realidade, a lutar com os seus próprios dilemas num meio que não o compreende de forma alguma.
Se gostaste do choque de realidades que estas séries da Marvel têm oferecido, Iron Fist poderá muito bem tornar-se na tua favorita, especialmente porque faz isso o seu grande alicerce. Daniel Rand estava morto, regressou e se todo o conflito que se desenrola no "mundo dos homens" não fosse suficiente, ainda tem de lidar com as complicações que isso significa para si enquanto o poderoso Iron Fist, e como isso afecta o seu verdadeiro papel. A série Iron Fist, de várias formas, cativou imenso. Apresentou-me algumas das situações e personagens mais interessantes nestes esforços conjuntos da Marvel para a televisão, e talvez seja a par de DemoliDor, a que melhor trata os momentos mundanos. Especialmente devido à forma em si como a série começa, e ao elenco de personagens que te vai cativar.
Iron Fist duplica o apoio na essência das anteriores séries da Marvel e da Netflix: foca-se ainda mais no lado humano deste super-herói, coloca o seu foco na forma como Nova Iorque e o mundo actual transformam Daniel Rand, que a momento algum se pode esquecer que a sua luta pela verdadeira identidade é a dobrar: se por um lado quer provar que Daniel Rand está vivo, não pode de forma alguma deixar que tal tarefa coloque em perigo a vida do Iron Fist. O elenco de suporte volta a ser mais do que competente, dá vida e interesse à série, e até agora, o único senão que tenho a apontar vai para as cenas de combate. A sensação que poderiam estar melhor coreografadas e executadas, foi o único ponto não tão satisfatório que encontrei. Quanto ao resto, é do melhor que a Netflix e a Marvel têm feito.