Shadow Puppeteer - Análise
Onde luz e trevas confluem.
Lançado em 2014 para o PC, Shadow Puppeteer é mais uma produção oriunda da Escandinávia, mais precisamente do estúdio norueguês Sarepta Studio, a chegar à loja virtual da Nintendo Wii U, dentro da vaga de jogos independentes. À partida, parece ser mais um entre muitos outros jogos que envolvem plataformas e puzzles. No entanto existe um conceito cooperativo que diferencia Shadow Puppeteer, embora não seja inteiramente original, ao permitir que na opção para um jogador, o mesmo comande diferentes personagens. Claro que a experiência adquire mais validade quando um segundo jogador entra em cena, e ambos laboram sem secções distintas da mesma área de jogo.
Revestido de um grafismo tridimensional típico de um filme animado ocidental, o jogo conta a história de um rapaz que numa noite de luar acorda depois de ouvir barulhos misteriosos provenientes da rua. Quando se aproxima da janela, observa uma sinistra figura a libertar tentáculos nebulosos, roubando as sombras das pessoas, que dormindo profundamente, nem detectam a ocorrência. Arrastado por um desses tentáculos para a base do edifício e para o que parece ser uma cave escura, o rapaz repara que do outro lado a sua sombra também se encontra aprisionada. Existe um elo que os une, um elástico quase púrpura, que não se vê quando estão próximos mas que se mostra e quebra quando os dois se separam demasiado. Ficando perto um do outro, sombra e rapaz progridem juntos, superando obstáculos e desafios, ao mesmo tempo que procuram uma resposta para o insólito acontecimento e procuram ir ao encontro da figura sinistra.
Do ponto de vista mecânico é interessante observar como os percursos entre as duas personagens se ligam e como através de uma questão de perspectiva se perfilam os puzzles, principalmente quando entra em cena um segundo jogador, dando sentido e uma melhor fluidez. O cenário muda quase por completo de figura quando os produtores se dignaram transformar um jogo que nunca deveria deixar de ser cooperativo numa experiência solitária. Na prática temos que o analógico esquerdo do Gamepad e os gatilhos servem para movimentar, deslocar objectos e fazer saltar a sombra, estando os mesmos botões mas do lado direito do comando destinados ao controlo da outra personagem.
"Do ponto de vista mecânico é interessante observar como os percursos entre as duas personagens se ligam e como através de uma questão de perspectiva se perfilam os puzzles"
Equivale isto a dizer que o jogo não só fica mais lento, podendo tornar-se mais frustrante nalgumas secções (quando a interacção entre os dois, por força das circunstâncias, é simultânea), como perde a subtileza e a dinâmica de um processo cooperativo, que é ver dois jogadores actuarem em campos opostos atenta uma finalidade comum. Por norma, a sombra desloca-se através da parede, quase como o Link gravura em "Zelda: a Link Between Worlds (3DS)". É uma deslocação sobretudo 2D, de scroll horizontal, enquanto que a outra personagem movimenta-se numa área tridimensional e alargada. Ambas manipulam objectos (caixas que fazem sombra na parede, servindo de degrau, é uma boa ideia), accionam alavancas, pegam em objectos (ajudam a outra a subir) e manipulam um pouco daquele mundo sombrio e tridimensional que sem nunca nos mostrar coisas nunca dantes vistas, até cumpre o propósito, especialmente no plano dos puzzles.
Infelizmente, está longe de ser um jogo amigável do ponto de vista do contacto e interacção das personagens com os objectos. A precisão nem sempre é a melhor. Isto é particularmente notório quando ligamos um mecanismo que opera uma mudança no cenário ou se dá a resolução de um puzzle, através de uma queda abrupta e por algum tempo da "frame rate", como se existisse um travão a fundo naquele momento, o que não deixa de ser desagradável.
Em termos gráficos, Shadow Puppeteer está longe de surpreender. Sem grandes façanhas artísticas, o melhor é a interacção entre as duas personagens, até porque no campo sonoro as composições áudio também não deixam grande memória. O conceito cooperativo diferencia o jogo de muitas outras produções baseadas em plataformas e adquire validade, mas só quando jogado a dois, de outra forma torna-se numa experiência quase nada gratificante. Provavelmente será lançada uma correcção para as quebras de "frame rate", mas isso pouco mudará um jogo que no seu melhor revela engenho e alguma luz nos puzzles desvendados a dois, embora pouco programado para nos surpreender realmente. Jogado a dois faz sentido. Menos do que isso não deixa boas recordações.