Shoot Many Robots - Análise
Vai uma cerveja para atestar.
Os estúdios independentes da Demiurge (Cambridge, Massachusetts) têm providenciado apoio a clientes destacados como Irrational, BioWare entre outras produtoras de renome. Poucos efetivamente saberão que os autores de Shoot Many Robots tiveram um papel ativo na criação de jogos como Bioshock, Mass Effect, Borderlands e Rock Band em departamentos específicos de desenvolvimento, especialmente nas versões para o PC. Desde a sua fundação em 2002 que este estúdio tem desenvolvido mais para o PC e também para o mercado dos jogos portáteis de telemóvel. A entrada para as plataformas virtuais das consolas domésticas é um acesso natural. Com mais de uma vintena de jogos publicados, a Demiurge constitui um bom porto para a cena dos jogos indie, sendo por aí que passa o jogo que analisamos.
Shoot Many Robots é um jogo particularmente admirável. Influenciado por jogos como Metal Slug e até o mais recente Hard Corps: Uprising da Ark System, alcança um modelo muito claro quanto às suas intenções, um campo de batalha onde impera a ação. A esse respeito o título é sugestivo, senão inteiramente revelador do conteúdo que proporciona. O objetivo não é só disparar contra muitos robôs. O que os produtores pretendem é que entrem numa espécie de ação "non stop".
O extermínio das criaturas robóticas é compensado por um aumento do multiplicador para a pontuação. O score que alcançarem no final do nível será útil para subirem de nível e conseguirem equipar o protagonista com novas armas principais e secundárias, elementos de defesa como casacos especiais, calças, proteções para a cabeça, entre outros parâmetros. Estamos então perante um jogo com definições de um role-play de ação, um shooter de duas dimensões mas com cenários em 3D. Retirem-lhe o estilo anime de Hard Corps e acrescentem secções country dos estados unidos, blues e rock'n roll para acompanhamento musical, um aspeto algo cell shade aos gráficos e um protagonista que bebe umas cervejolas para recuperar a barra de vida e ficam com uma ideia clara do que vos espera.
Shoot Many Robots tanto pode ser jogado individualmente como até quatro jogadores de forma cooperativa. Se a vertente individual implica empenho, uma dose significativa de "mash button" e ajustamento na aquisição de armas e objetos de ataque e defesa, já a sua estrutura multiplayer torna o processo mais divertido, cómico e algo caótico, embora isto não acrescente grandes mudanças para uma experiência que não sendo marcante ou sequer revolucionária, acaba por cumprir perfeitamente o propósito dos shooters de ação.
O jogador adquire o papel de P. Walter Tugnut, um destemido soldado com chapéu de cowboy que vai para o campo de batalha armado até aos dentes. Isto acontece porque uma fábrica passou a produzir batalhões de robôs com alguns parafusos a menos e que passaram a serrar tudo o que lhes aparece pela frente, disparando bombas, gerando um caos demente. Com a sua roulote, que funciona como "hub" e espaço de aquisição de novas armas e elementos de combate, este destemido guerreiro parte só ou acompanhado para o campo de batalha, combatendo hordas e hordas de criaturas ferrugentas.
A jogabilidade é a típica de um shooter side scrooler 2D. É possível disparar em qualquer direção, acumulando pontos e parafusos por cada inimigo derrotado. A ação torna-se por vezes frenética quando os inimigos chegam sob a forma de vagas sucessivas. Nalguns níveis, o objetivo não se reduz a uma mera passagem do ponto A ao ponto B com "checkpoints" intermédios que permitem restabelecer a vida e adquirir novas munições e transformam-se numa espécie de survival mode.
No fim de cada nível são pontuados e a vossa classificação oscilará entre uma e cinco estrelas. Adquirem também porcas que os robôs deixam ficar para trás depois de liquidados. O "score" é essencial para subirem de nível, o que pode acontecer de forma automática durante o jogo. Subindo de nível conseguem desbloquear novas armas e acessórios, entre outros objetos que modificam ligeiramente as habilidades do protagonista. O multiplicador de pontuação permite incrementar os resultados desde que se mantenham invioláveis no ataque e derrubem os adversários sem grandes hiatos.
O ritmo frenético e vivo do combate é motivado pelo uso que o protagonista pode dar às duas armas que equipa. Como arma primária, terá metralhadoras, espingardas, pistolas, todas com munições infinitas. Na loja dentro da roulote irão descobrir que muitas delas se encontram bloqueadas até que atinjam determinado nível. Mas à medida que progridem, subindo de nível e percorrendo novas áreas, os inimigos vão ficando mais fortes, sendo óbvio que devem equipar armas com maior capacidade de disparo (algumas providenciam apoio automático) e que façam mais dano.
A arma secundária conta com munições limitadas, mas também é mais poderosa. Útil para fazer com que o protagonista saia de algumas situações de aperto, assim como para derrotar poderosas criaturas de fim de nível. No decurso das missões haverá caixas que podem ser rebentadas. Nelas encontram power ups de vitalidade ou munições extra. Pontos intermédios permitem restabelecer a energia e munições, pelo que o efeito é o mesmo, mas neste caso é possível gravar o jogo e seguir a partir desse ponto se ficarem sem vida.
A possibilidade de equiparem a vossa personagem com dezenas de acessórios para os mais variados efeitos é talvez um dos pontos mais interessantes do jogo. Se à partida Walter Tugnut pode fazer o duplo salto para melhor se evadir dos inimigo, que tal se a isso juntarem a hipótese de flutuar por mais uns segundos no ar, ou colocarem o chapéu de cervejas, e o cinto de explosivos? As possibilidades de adaptação são enormes e resultam para as situações mais complicadas.
Contudo a jogabilidade não escapa ao tradicional ataca e foge. É possível fazer ricochete a pequenos projeteis lançados pelos inimigos e até provocar golpes melee em alternativa aos disparos. No entanto, o modelo de jogo encontrado nas primeiras horas de jogo pouco tende a apresentar de novo senão mais upgrades de armas, acessórios e outros elementos de personalização. Além disso, as áreas tendem a repetir-se em ambiente, nalguns casos transformadas em arena para survival quando antes podiam ser percorridas através de forma horizontal. Existem percursos alternativos e bónus escondidos, mas a composição geral ainda fica longe da excelência dos primeiros jogos da série Metal Slug, cujas missões representam um verdadeira dimensão artística, sarcástica e imaginária dos filmes de guerra e dos militares. Nesse aspeto, Shoot Many Robots cumpre. O incremento da dificuldade mais para o final é enorme e nessa altura sentir-se-ão tentados a partilhar o jogo com mais três colegas em rede para festejarem uma boa dose de ação em campos de batalha bidimensionais.
Shoot Many Robots é uma opção muito digna e competente. Ainda que não chegue ao topo do género, fãs de Alien Hominid, Contra e Hard Corps: Uprising têm aqui um jogo coeso. Desafiante, apelativo e com um modo multiplayer cooperativo até quatro jogadores, destaca-se sobretudo por oferecer uma estrutura de role play associada à progressão que causará os mais variados e divertidos efeitos quando especialmente aproveitada para vários jogadores.