Silent Hill HD Collection - Análise
O regresso à cidade mais assustadora dos videojogos.
As coleções HD, na generalidade têm sido bem aceites pelo público, e por isso não é de estranhar que cada vez mais séries icónicas dos videojogos tenham vindo a ter direito à sua própria "atualização" para a alta definição. Não tenho nada contra este tipo de "Ports" desde que lhe seja dado a dignidade que merecem. São excelentes oportunidades para quem nunca jogou determinado jogo à época, e servem também para que os nostálgicos possam reviver alguns bons momentos.
Esta coleção de Silent Hill oferece o segundo e terceiro jogos da franquia, ambos com um visual atualizado que essencialmente atribui maior detalhe aos ambientes e objetos. No caso de Silent Hill 2, para além do novo visual a Konami introduziu ainda novas interpretações para as vozes. Este particular era inegavelmente um dos pontos fracos do jogo, e por isso os produtores decidiram rever cada linha de diálogo e adicionar interpretações mais cuidadas e credíveis.
O sistema de câmara é que continua a mostrar a sua idade, mesmo com um novo esquema de controlo opcional que também está disponível para os dois jogos. Basicamente é possível escolher entre os controlos tradicionais, ou um novo esquema mais "moderno" onde a personagem se movimenta na direção para onde movemos o analógico. Apesar de este ser o "standard" dos videojogos de ação nos dias de hoje, como a câmara continua estática, é fácil perder o sentido de direção após uns ângulos mais manhosos ou durante a navegação em zonas mais apertadas.
Começando por Silent Hill 2, que na minha opinião não é apenas um dos melhores do género, como tem uma das melhores narrativas de sempre nos videojogos, que facilmente poderia ter dado um filme ou um livro. Este verdadeiro marco do horror faz algo excecional que muitos jogos tentam, que é contar a sua história, praticamente apenas através da atmosfera. Sem grandes diálogos, somente através dos contextos e do simbolismo dos ambientes.
Isto é algo que julgo mais nenhum outro Silent Hill conseguiu, e é particularmente notório quando comparamos o segundo jogo com o terceiro. Claro que o objetivo desta análise não é comparar os dois jogos, mas se jogaram ambos, vejam como ambos apresentam as personagens, as motivações, vejam como apresentam os monstros e cenários. No terceiro é tudo atirado para cima do jogador, em 10 minutos de jogo estamos de arma de fogo na mão a explorar corredores infestados de monstros e sangue.
No segundo o ritmo é extraordinário, desde a casa de banho onde começamos o jogo, até à entrada de Silent Hill, aquela primeira caravana onde podemos gravar o jogo e da qual nunca mais queremos sair, a apresentação do primeiro monstro numa espécie de túnel apertado, e onde durante uns segundos o jogador vê a criatura, mas James não. Inicialmente a cidade parece normal, e só depois vamos mergulhando cada vez mais no lado grotesco do ambiente.
Ao longo do seu percurso até ao coração de Silent Hill em busca de respostas sobre o paradeiro da sua falecida esposa, não existe nada que impeça James de simplesmente voltar para trás, ele não está preso na cidade. No entanto, não obstante os horrores que encontra logo na chegada, ele mantém a mesma determinação em encontrar a mulher, como se não existisse nada mais pelo que viver. É um tema com o qual nos relacionamos facilmente, mas pelo qual ainda vamos ganhando mais simpatia devido à determinação de James.
Enfim, é um jogo de outros tempos, não tem tutorial, nunca que o jogo dá a mão ao jogador. Inicialmente promete-nos arrepios, só para depois nos lançar numa viajem de dor emocional e desespero através da história de James Sunderland, por vezes parecendo-se mais com um "thriller" psicológico do que com um survival horror. Depois claro, a primeira batalha com o Pyramid Head (cabeça de pirâmide) mostra-nos exatamente como construir um monstro assustador.
Silent Hill 3 está longe do brilhantismo do segundo título. A jovem adolescente e protagonista Heather começa a aventura com objetivos pouco claros, estranhas transições, e só mais tarde a coisa estabiliza quando ela decide ir a Silent Hill, para basicamente procurar vingança. Não é que seja um mau jogo, de todo, mas não atinge o nível emocional do segundo título nem a sensação total de isolamento que este transmite. Digamos que é apenas um survival horror competente e grotesco, bem ao estilo da série.
"Inicialmente promete-nos arrepios, só para depois nos lançar numa viajem de dor emocional e desespero através da história de James Sunderland, por vezes parecendo-se mais com um "thriller psicológico do que com um survival horror".
A ênfase no combate e na vertente survival também é muito maior neste terceiro título, e talvez por isso não atinja o mesmo nível de relacionamento com a personagem e os objetivos. O jogo exige muito mais cuidado com coisas como a gestão das munições por exemplo, ao estilo dos primeiros Resident Evil. É uma técnica clássica para obrigar os jogadores a calcular a abordagem, e sentirem que os seus recursos são limitados, insuficientes até para os perigos à sua volta.
No geral, o combate nos dois jogos continua medíocre, e alguns dos puzzles são pouco intuitivos. Felizmente podem adaptar a dificuldade do combate e dos puzzles de forma independente e adequada ao tipo de experiência que desejarem, se gostam do elemento survival mas não querem perder muito tempo a juntar vários objetos só para conseguir progredir na aventura, podem perfeitamente jogar com o combate exigente e os puzzles fáceis.
Os ambientes têm muito bom aspeto com o seu visual renovado em alta definição que nos permitem admirar detalhes que anteriormente não eram percetíveis. O nevoeiro continua tremendamente cerrado, mas fiquei com a ideia que está um pouco mais afastado, ou seja, é possível ver um pouco mais além do que na versão original de Silent Hill 2. No capítulo do som ambos se servem da obra inquestionável de Akira Yamaoka, cuja qualidade da composição de temas negros marcou para sempre a série, mas também a própria indústria.
O único aspeto negativo particular a apontar a esta coleção é o facto de não oferecer o primeiro Silent Hill, principalmente considerando que o terceiro título está intimamente ligado aos acontecimentos do primeiro título da série. Eu sei que já existe o Shattered Memories que cumpre basicamente o mesmo propósito, mas continuo a achar que esta coleção fazia mais sentido e ficava muito mais completa com a adição da primeira parte. Existem ainda alguns momentos em que o jogo fica lento, principalmente nas áreas mais abertas e quando temos mais monstros no ecrã, não são insuportáveis mas são claramente notórios e mais frequentes durante o terceiro título.
Se nunca jogaram Silent Hill 2, esta é uma excelente oportunidade para o fazerem, a coleção vale essencialmente por esta verdadeira obra-prima. Nem precisam ter jogado qualquer outro jogo da série para aproveitar o melhor de Silent Hill: 2, a história é independente, é um produto completo que qualquer amante deste media deve experimentar. Não aconselho jogarem o terceiro título sem antes jogarem o primeiro, e sinceramente, ao lado de Silent Hill 2, acaba por se parecer mais com um bónus no jogo.