SimCity - Análise
Um vislumbre do futuro?
O regresso de SimCity é um momento que marca qualquer jogador que esteja neste meio há pelo menos duas décadas. Gerir uma cidade sempre foi um apelo à nossa capacidade de lidar com a complexa tarefa que é administrar. É bom alimentar a nossa auto-estima através da experimentação, sentir que conseguimos satisfazer as necessidades da população, gerir com eficácia a construção e contribuir para o seu desenvolvimento, ter a noção de uma boa organização do espaço.
O primeiro jogo da série foi desenvolvido em 1985, mas apenas publicado em 1989. Pessoalmente, joguei pela primeira vez SimCity nos inícios dos anos 90 no meu fantástico ZX Spectrum 48K, muitas saudades desses tempos. Ao longo dos anos foram lançados mais títulos da série, uns com mais impacto que outros, e a qualidade dos mesmos também variou. Este novo jogo da franquia vem acompanhado pela tentativa de relançar o nome e colocar o jogo no seu devido lugar.
SimCity, como é designado este novo jogo, teve um lançamento atribulado, muito devido à sua obrigatoriedade de estar ligado aos servidores sempre que se quiser jogar. Inicialmente, existiram muitos problemas pelo facto dos servidores não estarem disponíveis, e as queixas dos jogadores não tardaram a surgir.
Passadas estas semanas, os problemas ainda prosseguem. Desde quedas da ligação ao servidor escolhido, regiões criadas por nós que simplesmente desaparecem, fazendo que iniciemos novamente todo o processo. E ainda existe a falta de várias funcionalidades, tais como a pesquisa de regiões e respetivos filtros, sincronização global dos dados relacionados com as regiões e cidades, para comparar os nossos dados com jogadores de todo o mundo. Este é de facto um lançamento nada abonatório para a série, e merecia outro tratamento por parte de quem detém esta série.
Antes de avançar, tenho que referir que o jogo ainda não está perfeitamente compatível com o modo SLI das gráficas Nvidia. Existe um baixo aproveitamento dos recursos do computador neste modo. Mesmo com duas GTX 670 a 1440p o jogo não atinge a fluidez desejável. Creio que novos controladores por parte da Nvidia poderão ajudar nesse campo, mas tardam em chegar.
Colocando todos estes problemas de lado, que não deixam de ser importantes, há que analisar o que este novo SimCity oferece. Temos um jogo com cara lavada, com um visual interessante. A sua componente online é estimulante, com uma nítida viragem para se jogar em colaboração com amigos e jogadores de todo o planeta. A componente social do jogo está bem idealizada, mas sem a disponibilidade de algumas das suas ferramentas torna a experiência algo incompleta.
Temos ao dispor várias regiões, umas com maiores dimensões que outras, que vão influenciar na quantidade de cidades disponíveis e respetivos recursos. Depois de escolher a região há que selecionar qual a cidade a controlar. De referir que podemos controlar mais que uma cidade. Após selecionada a cidade, há que iniciar a sua construção, onde nos são dadas pequenas dicas de como e o que devemos construir inicialmente. Há que fornecer energia e água, construir acessos/estradas, e por fim criar zonas (residenciais, comercias e industriais) ao nosso belo prazer.
Os princípios básicos são os mesmos de sempre, em que para atrair pessoas teremos que satisfazer as suas necessidades. Criar empregos, serviços, zonas de lazer, segurança, tudo o que seja necessário para manter os residentes satisfeitos. A fase inicial do jogo não traz consigo nada que seja visivelmente diferente do que já foi experimentado anteriormente. Mas com o avançar do jogo vamos notando diferenças, e algumas delas são bem negativas.
Desde já saliento o facto do terreno disponível para cada cidade ser demasiado pequeno. Depois de muitas horas em determinada cidade, chega-se à conclusão que não há espaço para tudo. Uma cidade com 200 mil habitantes retira muita margem de manobra para quem quiser evoluir a cidade o máximo possível. Há edifícios que simplesmente não iremos construir pela falta de espaço.
"Existem pormenores no jogo que não são compreensíveis. Os edifícios não podem ser rodados ao nosso gosto, não há a possibilidade de fazer terraplanagem, muitos espaços vazios nas zonas onde existem arranha-céus."
Existem pormenores no jogo que não são compreensíveis. Os edifícios não podem ser rodados ao nosso gosto, não há a possibilidade de fazer terraplanagem, muitos espaços vazios nas zonas onde existem arranha-céus. A colocação de determinados edifícios, como uma Estação Petrolífera, por vezes mais parece uma missão impossível. São voltas e voltas até que se consiga colocar a estrada no local correto para posteriormente se colocar a Estação.
A gigantesca tarefa de gerir uma cidade é praticamente uma miragem em SimCity. Em algumas horas somos capazes de preencher todo o espaço disponível para a nossa cidade. Com zonas residências, comerciais, e industriais, alguns serviços, e já não temos espaço para mais. Onde iremos construir um Aeroporto? Onde será colocada a Central Nuclear? Como poderemos expandir a Universidade? Onde encontrar espaço para os Elétricos? E poderia estar aqui eternamente. Simplesmente não existe espaço para muitas das construções que o jogo possui. Algo não foi bem elaborado no processo de desenvolvimento do jogo. Não poderia deixar de mencionar que o jogo não possui uma rede de transportes subterrâneos, Metro. Se o espaço à superfície é diminuto, seria uma boa opção para resolver problemas de tráfego, mas por incrível que possa parecer não foi incluída nesta versão.
Mas nem tudo é mau. O jogo está bem aceitável em termos visuais, apesar da falta de definição sempre que fazemos zoom aos edifícios. A evolução de determinados serviços, edifícios, especializações, está a um nível interessante. Como exemplo dou as Estações Petrolíferas, que podem ser expandidas com a aquisição de mais veículos de transporte, mais Bombas de Extração. Posteriormente, e com a evolução da extração do petróleo, há que construir Postos Comerciais para vender ou para abastecer determinadas infraestruturas da nossa cidade. Existe uma boa ligação entre diversas áreas de comércio/indústria, que dão um vislumbre do que se poderia conseguir fazer em apenas uma cidade, onde indústrias de diferentes ramos trabalhariam em conjunto.
Como podem ter reparado, e com muita facilidade, o grande problema do jogo é a falta de espaço. Depois de varias horas em redor de uma cidade não há mais nada para fazer, temos que partir para a construção de outra cidade. Realmente, é mesmo essa a ideia deste novo jogo da série SimCity. Para muitos pode parecer uma abordagem diferente e uma lufada de ar fresco, mas para os veteranos e amantes de cidades gigantescas, este simplesmente não é o seu jogo. SimCity convida o jogador a construir várias cidades em determinada região, em que cada uma delas possui recursos distintos. Facilmente se conclui que não poderemos evoluir/especializar diferentes áreas em apenas uma cidade. Em regiões controladas por nós, temos que coordenar todas as cidades para que se suportem entre elas.
Este conceito de jogo está completamente virado para a o seu modo social/multiplayer. Quando escolhemos uma região temos a possibilidade de escolher se queremos essa região privada ou pública. Tornando-a pública, qualquer jogador poderá tomar conta de uma cidade e seguir o seu caminho, sempre em sintonia com o que é feito nas outras cidades. Este apelo social do jogo deverá funcionar na perfeição quando muitas das funcionalidades estiverem disponíveis. Não é fácil encontrar uma região ativa, com os jogadores empenhados nas suas cidades, sem um motor de pesquisa a condizer. Neste momento a maior parte das regiões encontradas possuem cidades que foram abandonadas pelos jogadores. Só com muita paciência se consegue uma região em atual desenvolvimento.
SimCity é um pouco estranho e custa a entrar na sua mecânica, muito por culpa dos problemas relacionados com as funções multijogador. A ausência de determinadas mecânicas/ferramentas de jogo dão a sensação de que regrediu em aspetos que eram dados como adquiridos. O que mais agrada no jogo é a interação com as cidades da mesma região. Podemos auxiliar no combate ao crime, apagar fogos, salvar vidas, exportar mão-de-obra. Apesar de tudo penso que a série está no bom caminho, era necessário dar-lhe uma nova vida e o caminho a seguir poderá ser este. Pena não existir uma opção offline com mapas gigantescos para os amantes de cidades colossais...