SimCity Creator
E tudo o extra-terrestre levou!
Mais do que um jogo de gestão, com todas as traves mestras que são conhecidas dentro da série SimCity, há aqui uma interessante margem apreciável de decisões administrativas ao nível do ordenamento do território, serviços, instituições de utilidade pública, impostos, enfim, um número extenso de soluções camarárias que geralmente só a figura do Presidente da Câmara ( nos Estados Unidos o titular do cargo é denominado de Mayor) consegue acumular, gerindo o município através de um esforço partilhado pelos vereadores, figuras que mercê o contacto mais próximo com os residentes da cidade, fazem chegar ao presidente as principais e prementes necessidades, entre outras recomendações que interessa satisfazer para deixar os cidadãos mais alegres e contentes. Mas Simcity Creator tem mais que o alcance posto no desenvolvimento normal de uma cidade.
Esta obra editada pela Electronic Arts em exclusivo para a Nintendo Wii põe em destaque um sentido de certa maneira maquiavélico, uma tendência para a destruição do legado em destaque. Tal como Nero mandou pegar fogo a Roma para depois acusar os judeus como conspiradores e de atentado aos cidadãos romanos, em SimCity Creator o jogador também poderá poderá, numa altura em que a cidade tenha elevados padrões de desenvolvimento, gerar uma catástrofe natural ou provocada por robôs gigantescos de enormes raios laser a saírem pelos olhos, ou extra-terrestres, de forma a refazer tudo, outra vez, como aconteceu com o Marquês de Pombal, governante incumbido da renovação da baixa de Lisboa após o trágico terramoto de 1755 que descaracterizou em larga medida a cidade.
Sendo um jogo exclusivo para a Nintendo Wii, o primeiro aspecto que suscita maior interesse é o controlo através do Wii remote. E se em teoria o manuseio parece ajustar-se na perfeição ao percurso pelos imensos menus, como se de um rato se tratasse, na prática o resultado não é o melhor, revelando falhas e com algumas situações que prejudicam aquele que seria um normal apontar para a área de jogo. Ultrapassada essa dificuldade, ou feita a adaptação ao especial sistema de controlo, SimCity Creator acaba por cumprir razoavelmente os objectivos a que se propõe, através de uma sustentada e interessante abordagem ao desenvolvimento da cidade, com imensas soluções que vão sendo acrescentadas às existentes, entre novas fábricas e edifícios de diferentes épocas, mas sem nunca se distanciar o suficiente perante outras propostas da série. Em grande parte o interesse de Creator justifica-se pela adaptação à consola da Nintendo, sendo uma experiência a rever pelos adeptos da gestão de recursos que poucas vezes tenham experimentado outras opções do género.
Sintomático desta adaptação de SimCity à Wii é desde logo o design das personagens, nomeadamente os assistentes das lições práticas e dos que colaboram na gestão da cidade prestando informações úteis sobre as áreas que estejam relacionados (finanças, saúde, transportes, etc). Embora sem o limite asfixiante dos Miis, o retrato dos bonecos é de feição infanto-juvenil, apesar de a concessão à tenra idade se ficar por essa dimensão burlesca e também nas tiradas directas como são expostas as necessidades dos habitantes. No mais há uma estrutura de relativa complexidade, que normalmente fará das lições para dar vida a uma cidade, quase sobre a forma de um guia, um manual de consulta indispensável. Abordar o modo livre de Creator, a partir de uma porção de terreno, em hectares, sem ter um mínimo de conhecimento do que é necessário em termos de transportes, áreas de construção, recursos energéticos, etc, pode conduzir a um resultado quiçá distante do esperado.
O maior desiderato na edificação de uma cidade em nenhures, como aconteceu com Las Vegas bem ao centro do deserto Nevada, está no PDM, o Plano Director Municipal, que em Create permite classificar e criar determinadas zonas como sendo de construção residencial, comercial e industrial, os três vértices de uma cidade geradores de emprego, riqueza e progresso. A maior ou menor densidade depende dos preços e da capacidade de se construir na vertical. Por bem, há um fundo monetário a gastar e que pode começar por se utilizar na abertura de estradas e sistemas de infra-estrutura geradores de necessidades básicas; água e electricidade. É por aí. Convém ligar todas as áreas da cidade, ter uma boa organização da rede viária, incrementando os meios de transporte com soluções inovadoras, respondendo assim aos apelos permanentes e constantes da populaçao, já que só desse modo existirão condições para atrair novos habitantes e fazer da cidade eleita, um local de primordial desenvolvimento.