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Sine Mora EX - Análise

Acção sem demoras.

Os novos modos pouco acrescentam de valioso, pelo que no essencial é o mesmo jogo de há 5 anos, influenciado pelos "shmups" clássicos.

Em 2012 as produtoras Digital Reality e Grasshopper Manufacture, da qual Goichi Suda é CEO, conjugaram esforços de molde a criar um original e novo shooter. Não um shooter como também são conhecidos por cá os jogos "tiro nele", mas um "shmup" do tipo "bullet hell", daqueles jogos predominantes nas arcades japonesas onde uma solitária nave espacial procura sobreviver no espaço ou nos céus a vagas de balas que se sucedem em cores contrastantes. O tempo áureo dos "shmups" está para trás, mas as suas influências ainda hoje se fazem sentir em imensas produções. Sina Mora é uma delas.

Ao criarem Sine Mora EX os produtores levaram em conta alguns clássicos como Battle Garegga e Under Defeat, dois proeminentes "shmups", o primeiro um original das arcadas e publicado na Saturn, para o Japão, curiosamente pela mão da pela Electronic Arts e (re)lançado o final do ano passado para a PS4 (e agora também disponível na Xbox One), em formato digital apenas, pela M2, por muitos vista como a rainha do retro, que tem já na forja novos projectos. Por isso, não se pode dizer que os "shmups" acabaram ou que se encontram em vias de extinção. Existem, felizmente, só não são é lançados com a frequência de outros tempos e o brilho não é tão evidente (será porque muitos dos produtores que trabalharam nos antigos se reformaram?).

Curiosamente e após estreia na PS3, Vita, Xbox 360 e PC, em 2012, Sine Mora regressa às consolas da actual geração, ganhando uma nova amplitude nesta versão prolongada (EX) à custa de algumas novas opções, e com novas versões (PS4, XOne, Switch e PC). Pelo distribuidor em Portugal foi-nos facultada, para análise, uma cópia física para a Switch, editada por cá no passado 10 de Outubro. Este regresso de Sine Mora, praticamente 5 anos depois do lançamento original, acontece pela THQ Nordic que adquiriu os direitos de distribuição desta edição.

Ao todo existem 7 níveis para percorrer.

Quanto ao conceito, Sine Mora apresenta uma composição bastante tradicional, dentro do género. O jogador assume o comando de uma máquina de voo devidamente apetrechada, enfrentando vagas de inimigos num plano de acção horizontal. Todos os cenários estão reproduzidos em 3D, com perspectiva lateral em 2D, à semelhança dos clássicos, mas o foco do grafismo assenta na modelação muito realista dos ambientes, de forte inspiração "diesel punk" com destaque para os diálogos em húngaro, que os produtores optaram por deixar como "predefinido", no original, por lhes soar bem. Contudo, as vozes em húngaro são agora meramente opcionais, podendo ser trocadas por vozes em inglês.

A narrativa é um tanto difusa e difícil de compreender à primeira. A dada altura mais parece um documentário, com alguns relatos na primeira pessoa, embora isso transmita um imediatismo e promova uma boa descrição do ambiente. Não é muito vulgar encontrarmos numa produção deste género um guião mais elaborado. Podendo, para muitos passar ao lado, haverá quem deposite mais atenção nisso, sendo recompensado.

No que respeita às mecânicas, a especificidade aqui passa pela necessidade de manter um bom ritmo no que toca aos adversários abatidos, já que isso aumenta o contador de tempo disponível para completar a missão. Sem uma barra de energia, podemos receber tiros, mas não em demasia sob pena de nos descontarem tempo até o marcador mostrar zero e consequente "gameover". A dada altura somos introduzidos a outras mecânicas, nomeadamente a que abranda o tempo e nos permite passar mais depressa por entre áreas apertadas. A utilidade que deriva deste esquema põe à prova os nossos reflexos e perícia, através de manobras cirúrgicas de evasão e ataque.

A jogabilidade funciona através do modo time extension, o que equivale a manter o aparelho em actividade enquanto alvejarem os inimigos, sem sofrer pesados danos.

À semelhança de outros "shmups", as naves inimigas libertam "power ups" que, uma vez recolhidos, melhoram a performance do nosso aparelho, em termos de habilidades, armamento, protecção e tempo adicional. A parte mais complexa tem lugar quando defrontamos poderosos "bosses". Muitos deles são gigantescos e movimentam-se pelo cenário, forçando a realização de manobras rápidas e de grande precisão. Primeiro há que atingir alvos específicos e depois evitar as vagas de balas que criam dificuldades adicionais.

O grau de exigência pode ser seleccionado ao começo. Os jogadores veteranos vão optar pela escala de dificuldade mais avançada, começando no modo arcade, embora seja interessante revisitar mais uma vez a história, caso se encontrem a jogar novamente. Os picos de dificuldade são constantes e por vezes pode tornar-se um pouco frustrante se jogarem com poucos créditos, pois voltam sempre ao começo, mas é justo salientar que existem "shmups" bem mais difíceis e complexos, se pretendem chegar ao fim usando um crédito. A possibilidade de jogarem com aviões diferentes permite uma abordagem mais estratégica.

E chegamos ao ponto central desta versão EX, as novidades. A primeira e pouco perceptível é a implementação do formato 16:9, em detrimento do anterior 16:10, que permanece como uma opção. Por outro lado o modo história pode ser partilhado através de co-op local. É sempre uma boa forma de introduzir jogadores principiantes. Mas a novidade maior passa pela inclusão dos três modos de jogo em formato versus: race, tanks e dodgeball, bem como novos desafios, denominados "challenge". A renderização também foi melhorada e isso reflecte-se na fluidez gráfica, mesmo nos momentos de maior acção no combate. No entanto, os novos modos de jogo nem sempre permitem um melhor desempenho como opções alternativas, resultando numa experiência um tanto desequilibrada e menos apelativa que o modo história e o arcade, claramente as melhores opções

Algumas áreas apresentam um bom design, marcante até, embora o grau de consistência não seja muito elevado.

Exceptuando algumas secções menos interessantes e até um tanto repetitivas, Sine Mora EX permanece como uma aposta válida, com alguns pontos originais em destaque, como os diálogos em húngaro e o mecanismo de aquisição de tempo para completar o nível abatendo os inimigos em catadupa. A sua composição realista afasta-o um pouco do grafismo 2D dos clássicos "shmups", embora com uma cadência rápida e letal. Uma proposta um tanto "underrated" por força da menor popularidade do género, mas nem por isso menos gratificante. Contudo, esta edição, rebaptizada de EX, não promove tantas alterações e no caso dos novos modos de jogo, a sua implementação revela-se algo desajustada, retirando algum brilho do original. Mesmo assim, para os fãs do género, poderá ser levado em linha de conta.

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