SNES Mini - loucura em torno das reservas
Deverá a Nintendo incrementar a produção para evitar o negócio dos "scalpers"?
Apesar dos rumores que davam como certa a produção da sucessora da NES Mini, só há 5 dias a Nintendo anunciou a sua comercialização, prevista a partir do próximo 29 de setembro. Um anúncio que deixou muitos fãs e entusiastas da consola 16 bit da Nintendo, num quase estado de alienação. Abertas as reservas nas lojas online da especialidade, depressa se instalou um apetite desmesurado pela pequena máquina, que de acordo com a Nintendo e à semelhança da NES Mini, consiste essencialmente num emulador capaz de correr mais de duas dezenas de jogos clássicos produzidos exclusivamente para a Super Nintendo, lançada na Europa em 1992. Cabe lá uma espécie de créme de la créme. 21 jogos, ao todo.
Formalizado o anúncio, em poucas horas vários retalhistas anunciavam a abertura de reservas e a ruptura de reservas. Da Amazon britânica à congénere situada na Alemanha, passando pela GAME, entre outras lojas, a impossibilidade de garantir um sistema para só daqui a dois meses deixou muitos dos potenciais compradores agastados. Depois do sucedido com a NES Mini, que esgotou quando foi lançada em Novembro do ano passado, e tendo em conta a produção residual e temporária levada a cabo pela Nintendo, poucos são os que preferem arriscar por uma passagem pela loja local no dia do lançamento. Mais vale assegurar uma já, ainda que só a recebam lá para Outubro.
A Nintendo já fez saber que aumentará a produção do modelo Mini da SNES, sendo muito provável que o total de consolas enviadas para os retalhistas seja superior ao verificado com a pequena NES, mas parece que por muito que tente contrariar, a oferta será sempre inferior à procura. A Nintendo tem sucesso e lucra financeiramente com estas propostas, recuperadoras de uma onda nostálgica. As novas gerações que falharam as consolas dos anos 90 interessam-se por conceitos e mecânicas que não encontram hoje, ao mesmo tempo que os fãs da gigante de Quioto adquirem uma peça que lhes recorda outros tempos, ao abrigo da mesma nostalgia.
Por fim, parecem lucrar os costumeiros e usuais "scalpers", ou especuladores, que abocanhando reservas e reduzindo ao vazio o stock das lojas, aproveitam para vender as suas mercadorias a preços mega infeccionados, em leilões ou vendas directas, muitas vezes com lucro acima dos 100%. O Ebay está cheio desta gente com poucos escrúpulos, o mesmo sucedendo noutros sites onde se vendem e trocam coisas. Em Portugal, basta uma vista de olhos pelo OLX para se perceber a dimensão que um anúncio destes pode gerar.
Mas será que muitos dos compradores de uma SNES Mini estão mesmo interessados no efeito útil da consola ou simplesmente aproveitam a oportunidade para ter um objecto que lhes possa dar uma fonte de receita temporária? Recentemente assistimos a algo similar quando a Nintendo lançou a linha de Amiibos. Numa primeira fase, dada a escassez de algumas personagens, especialmente da franquia Xenoblade, perante a ruptura de stock nas lojas, rapidamente surgiram os negócios de especuladores, dispostos a vender por valores próximos da meia centena de euros, quase quadruplicando o preço, uma figura Amiibo.
Não tardou até a Nintendo aumentar a produção e fazer chegar às lojas mais unidades, o que deixou muitos dos especuladores à beira do fracasso. A febre pelos Amiibos acabou por esmorecer, ao fim de alguns meses, e depressa se percebeu quem pretendia adquirir as personagens para consumo e efeito útil nos jogos respectivos, de quem apenas queria lucrar mediante a procura superior à oferta.
A mesma situação parece estar a passar-se agora com as consolas clássicas em formato miniatura. A NES Mini foi uma novidade interessante, a apelar à nostalgia dos que viveram os anos oitenta e noventa, a consola mais bem sucedida da geração 8 bit, mas com a sua sucessora a procura está a assumir contornos galopantes, numa voracidade sem paralelo. A nostalgia nunca foi tão clara nesta indústria como hoje, basta atentar na recuperação de clássicos que chegam às novas consolas e são anunciados, na passagem para o mercado mobile de inúmeros jogos clássicos da Sega, assim como bandas sonoras de êxitos das arcadas e consolas em vinil. Aliás, a SNES Mini é só mais um modelo a juntar a outros que emulam os jogos do passado, mas com o selo de produção da Nintendo.
É uma verdadeira loucura, um nível de insanidade que se prolonga nas edições especiais e na ilusão de algo mais. A oferta de produtos retro no mercado principal (nem falo do mercado de usados, em segunda mão) nunca gerou tanto proveito e lucro, sendo hoje um momento para o investimento. A Nintendo é mais uma companhia com aptidão para liderar o segmento, porque sendo a fabricante de consolas no activo mais antiga, parece mostrar mais habilidade para capitalizar junto dos fãs e da sua fiel audiência. Mas a produção deveria estender-se no tempo, ir mais longe e alcançar um número suficiente de molde a evitar o lucro e especulação de alguns, satisfazendo os compradores realmente interessados na utilização e aproveitamento do produto.