Sniper: Ghost Warrior 3 - muito mais do que puxar o gatilho - Antevisão
Um teste à sobrevivência e eficácia de um one man army em território inimigo.
Uma nova editora, um jogo apenas para as consolas da nova geração e para o PC, um orçamento maior e uma tentativa de recuperar o sucesso do original Sniper Ghost Warrior. Sniper Ghost Warrior 3 é o primeiro jogo publicado pela CI Games (o anterior recebera a distribuição da Bandai Namco) e com ele os produtores visam em primeiro lugar os fãs, com uma visão criativa capaz de transmitir a paixão de um género único. Como carta de amor aos fãs, os produtores polacos passaram estes últimos anos a escutar e seguir o feedback das comunidades. Depois de um Sniper: Ghost Warrior 2 que falhou na tentativa de deixar uma marca, percebemos que um estúdio tão determinado em dar a volta à situação, não tinha outra alternativa senão voltar ao começo e proporcionar aos fãs o que eles esperam de um Ghost Warrior.
Porque na verdade este é um jogo muito diferente da maioria dos jogos de acção. Sniper Ghost Warrior oferece acção, mas é sobretudo um jogo que transmite cargas muito grandes de adrenalina e picos de tensão elevados. Aliás, os momentos de acção são curtos mas intensos e circunscrevem-se a essas fases de neutralização de alvos específicos, de forma progressiva e sob um estado de alerta e escuta permanentes. Uma abordagem à Rambo, pouco calculada e ancorada no propósito de chegar unicamente à frente sem medir bem o terreno, os avanços e a respiração, é todo um caminho andado para uma missão fracassada, e mais do que isso, uma leitura errada da matéria que forma esta terceira edição do Ghost Warrior. Nem por acaso e enquanto viajávamos de avião até Los Angeles, acabei por ver o Sniper Americano, a história do Navy Seal que no Iraque pôs à prova com sucesso todas a sua pontaria.
Nesta E3 a CI Games apresentou uma demonstração muito positiva e encorajadora, sendo que o jogo ainda se encontra em desenvolvimento e assim deverá continuar até ao próximo ano, com eventual lançamento para o primeiro semestre de 2016. Mas pelo que pudemos ver, boa parte dos elementos que formam a experiência e o pilar do jogo foram revistos e melhorados, denotando um avanço bastante significativo face ao jogo anterior, com o tratamento gráfico e os efeitos de luz a sobressaírem num primeiro momento.
A narrativa é toda ela ficcional e transporta o jogador, na pele de um sniper, para o centro de uma nova guerra fria entre duas potências mundiais: os Estados Unidos e a Rússia. A Geórgia está naquilo que se pode considerar como um caldo: de um lado os nacionalistas e do outro as forças étnicas russas. As duas facções abriram um conflito sangrento, numa interpretação plausível e de uma realidade apelidada pelos produtores como pós "mundo Snowden", onde a informação e a tecnologia definem a base dos confrontos militares no século XXI.
"A narrativa é toda ela ficcional e transporta o jogador, na pele de um sniper, para o centro de uma nova guerra fria entre duas potências mundiais: os Estados Unidos e a Rússia."
É aqui que entra em cena o veterano "marine" (retirado destas andanças) e sniper Jonathan North, convocado para uma guerra prestes a rebentar. Retirado do seu espaço, é colocado bem atrás das linhas inimigas. O seu objectivo envolve a neutralização de uma espécie de directo concorrente ao prémio de melhor atirador. Não fosse este seu irmão, seria apenas mais um alvo, no entanto, ele sabe da presença de tropas americanas e, podendo transmitir valiosas informações, juntou-se aos separatistas pró-russos, abrindo um impressionante número de baixas entre os nacionalistas.
Identificado o alvo número um, North tem à sua frente um exército. Isolado e sem qualquer apoio dentro do território inimigo, conseguirá este especialista sobreviver, improvisar armas, evitar alertas e arrumar com os oponentes a grande distância? Pelo que vimos na demonstração, o território inimigo que iremos palmilhar é gigantesco. A área envolve territórios naturais, rochosos e densas florestas, barragens, zonas de grande densidade urbana, rios, zonas costeiras, quedas de água, unidades fabris, fortificações, um aeroporto, zonas urbanas degradadas e abandonadas, pântanos, zonas de abastecimento, enfim, uma pluralidade de secções e tão diferenciadas que vão exigir não apenas uma actuação como fantasma, mas uma resistência ímpar, capacidades médicas e conhecimento de técnicas de sobrevivência.
Esta abertura da área de intervenção, um território difícil de percorrer e agreste, serve uma variedade de missões que se reconstroem com base nas mecânicas típicas de um sniper, envolvendo ainda tácticas melee, armadilhas, ataques através dos drones, uma das grandes novidades tecnológicas implementadas no jogo, entre outras possibilidades à disposição deste "one man army".
Não estamos por isso diante de uma experiência "scripted" ou orientada em torno de uma linha de acontecimentos que inevitavelmente o jogador se vê cingido. Cabe ao jogador, posto naquele território, safar-se, tentar sobreviver e cumprir os objectivos. A opção que nos permite avançar com algum sucesso e de modo a não nos sentirmos completamente perdidos é facilitadas por via do "scout mode", uma técnica que permite localizar pegadas e segui-las até ao seu destino, com eventuais informações sobre quem deixou as marcas para trás. Até zonas que podemos trepar e superar são identificadas através do "scout", uma ferramenta bastante útil. Todavia, estamos sós e muitas vezes temos de pensar e escolher o melhor percurso.
"Sniper: Ghost Warrior 3 dá sinais claros de crescimento face à última entrada"
Depois de regressar ao pequeno acampamento, atravessando um campo de minas, afastado dos radares inimigos o soldado pode recuperar, antes de partir para uma nova missão. Esta, mais complexa, envolve a eliminação de um general separatista, localizado numa cidade não muito distante daquele ponto. A demonstração decorre em tempo real e mesmo sabendo o que acontece a seguir, todos os perigos e ponderáveis são testados, sem margem para erro. O realismo é fundamental, comenta um dos produtores. A área ao redor da cidade possui minas, mais um obstáculo para ultrapassar. Porém, os produtores têm desenvolvido uma variedade de formas para eliminar os oponentes. Seja à distância, através de golpes melee, com armadilhas, ataques através de drones, etc.
No entanto, um simples tiro está longe de ser um processo como conhecem por exemplo de jogos como Call of Duty. Aqui, se quiserem ter sucesso terão de ter em conta vários elementos, aquilo que os produtores caracterizam como sistema inovador de sniping. Isso envolve a verificação do vento, gravidade, respiração, distância do inimigo e o próprio movimento deste. O realismo determina o sucesso nestas fases, pelo que um descuido ou não consideração de um destes elementos é activar de um alarme e rápida detecção pelos adversários.
De resto, não existe sistema de level up do soldado, nem pontos de experiência. Ao invés, os produtores optaram por melhorar as suas habilidades à medida que ele realiza com sucesso certas acções. Se for bom nos disparos à distância, ele ficará melhor nisso e terá mais sucesso mesmo em alvos difíceis. Se formos bons no uso da faca para neutralizar os inimigos num golpe melee, ficaremos ainda melhores. O processo de evolução é natural e depende da eficácia com que realizamos certas acções. Uma abordagem interessante. A inteligência artificial também foi melhorada, com reacções em tempo real e imediatas às nossas acções. Tudo tem uma resposta e até mesmo o barulho do nosso movimento é facilmente detectado se não formos cautelosos.
Sem perder de vista a evolução da tecnologia ao serviço do exército, o lançamento do "drone" pessoal é uma opção válida para o reconhecimento imediato da área controlada pelo adversário. Com os riscos inerentes como a identificação e o ecoar do alerta, tem no desbloqueio das câmaras de segurança e recolha de dados e desactivação das minas algumas das principais vantagens.
Depois de utilizado o drone para a recolha da informação e localização do general, um processo que envolveu algum perigo no controlo do aparelho numa zona mais apertada, a missão completou-se com a concretização de um disparo certeiro e imediato abandono da área, pois logo após o disparo os inimigos apontaram focos e pontos luminosos na direcção do sniper.
Juntamente com as missões principais, outras missões, secundárias, poderão ser activadas, a partir de uma exploração devida da imensa área de jogo. Entre a execução, os alvos e a sobrevivência, Sniper: Ghost Warrior 3 dá sinais claros de crescimento face à última entrada. O jogo beneficia da tecnologia do Cryengine 3 para processar um grafismo da nova geração, muito bem conseguido e em sintonia com o interesse dos produtores, em oferecer um ambiente realista, capaz de transmitir ao jogador as dificuldades por que passa um sniper. Não é menos relevante por isso a criação de um sistema meteorológico dinâmico e a inclusão de um ciclo dia e noite, também dinâmico. Até 2016 o alvo estará fixo. Depois é só disparar.