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Snipperclips - Análise

Puzzles criativos.

Um jogo de puzzles simples e criativo, mas que se torna repetitivo rapidamente. Vale pelo preço.

Ao longo destas quase três semanas de utilização da Nintendo Switch, uma das coisas que tem sido o factor diferenciador mais saliente face à utilização das outras consolas é a possibilidade de extrair os "Joy Con" das laterais da consola e servir-me deles como comandos individuais para uma experiência multiplayer local, através do ecrã da consola. E, nesse sentido, Snipperclips é talvez dos títulos de lançamento, aquele que melhor vai de encontro à funcionalidade da consola em promover também o social, do ponto de vista da experiência partilhada.

Enquanto que Super Bomberman R ou Fast RMX convergem como experiências para mais do que um jogador, a vertente competitiva sobrepõe-se à cooperação enquanto traço definidor da experiência deste divertido e engenhoso jogo de puzzles. Aproximando dois ou até quatro jogadores em torno de um pequeno ecrã (ou maior se jogarem no televisor), a necessidade de cooperação estabelece um diálogo permanente assim que os "puzzles" vão ficando mais complexos e difíceis de ultrapassar sem a definição de tarefas entre os jogadores.

Os puzzles iniciais são bastante simples e essenciais para compreender a mecânica do jogo.

Snipperclips torna-se por isso numa óptima demonstração do alcance e conceito da Switch, não só pela forma de jogo, mas pela sua simplicidade e por facilmente deixar os utilizadores deslizarem pelo seu interior. A primeira vez que experimentei o jogo foi no evento de apresentação da consola aos média em Londres, mas no meio de tantos jogos e com pouco tempo para experimentar cada um, sem contar com todo o barulho envolvente, não foi fácil descobrir as subtilezas e o encanto que esconde esta curiosa produção. Mais recentemente, já nos escritórios da Nintendo, em Lisboa, juntamente com o meu colega Jorge Loureiro, aventuramo-nos na demonstração, a mesma que podem sacar precisamente da eShop. Foi como que descobrir um jogo novo, uma espécie de "reset", num modelo de cooperação desde os desafios básicos e introdutórios, até à natural complexidade que o modelo de jogo encerra.

"Snipperclips torna-se por isso numa óptima demonstração do alcance e conceito da Switch"

Convenhamos que Snipperclips pode estar noutra consola, facilmente o veríamos noutro dispositivo, desde que um segundo jogador esteja munido de comando. No entanto, torna-se muito agradável e saído quase com naturalidade da Switch. É talvez o melhor exemplo para jogo cooperativo a dois na consola da Nintendo com as vantagens que a mesma permite. O conceito é muito simples: os jogadores comandam personagens em forma 2D, como que de papel, semelhantes ao primeiro terço do dedo indicador, com duas pernas minúsculas, um par de olhos expressivos e a possibilidade de corte quando ambas se interceptam numa zona comum.

Isto leva a que os jogadores criem certas formas para as suas personagens, através do corte, interagindo dessa forma com vários elementos do cenário. Podem rodar as personagens de modo a inscrevê-las numa espécie de silhueta ou então voltarem ao formato original depois de terem sido cortados pelo adversário. A precisão destas acções é elevada, assim como as possibilidades que emergem deste tipo de interacção. Desde saltar para a cabeça do adversário de modo a tocar num interruptor elevado, ou abrir uma espécie de cratera na lateral de uma personagem de modo a acomodar uma bola de basquete para a transportar até ao cesto, as situações possíveis e imaginárias são enormes, pelo que depressa os desafios passam de uma quase pauta de aprendizagem para um manual de verdadeiros quebra-cabeças, mais morosos e complicados de resolver.

Multiplayer local está garantido. Podem acrescentar mais dois jogadores com dois joy con.

A isso acresce uma dimensão humorística e bem disposta, com reacções algo humanas sempre que as duas personagens se cortam. Há até uma aura romântica nalguns desafios e na forma escolhida para superar os puzzles, algo que poderá levar os utilizadores a aproximarem-se mais, quebrando necessariamente o gelo quando a solução não se afigura tão óbvia e a necessidade de tornar os pensamentos convergentes leva ambos a encetarem mais diálogo, ao invés de ficarem imersos nas suas contendas.

Todos os puzzles assentam num desafio. Existem mais de sessenta, divididos por 3 mundos, sendo que 45 podem ser jogados de forma individual ou cooperativa até dois jogadores, e os restantes entre 2 a 4 jogadores em modo cooperativo. Se o jogo funciona plenamente no modo cooperativo, enquanto experiência singular pode revelar-se atroz e configurar-se em algo aterrador do ponto de vista prático. O modo está lá para não criar uma barreira à partida, mas a solução encontrada depressa se torna desagradável. Desde logo porque permite que o jogador controle uma personagem de cada vez e esteja constantemente a pegar num joy con pousando o outro. A tarefa é possível, mas a experiência depressa se torna sofrível. Se jogarem com mais do que uma pessoa, a situação é totalmente oposta.

Conjuguem esforços, e tentem chegar à solução pela tentativa e erro e o jogo torna-se numa quase paródia, abarcando uma série de situações invulgares. Mas sobretudo é um jogo que envolve precisão nos movimentos e uma actuação de colaboração. É interessante descobrir como os joy con funcionam agradavelmente nesta mecânica, sendo até de ressalvar a quantidade de opções que podem realizar.

Mais adiante terão que cortar as personagens em certas formas para que possam transportar objectos ou cortar balões. A criatividade deste jogo indie é muito grande.

A apresentação dos puzzles e arte envolvente é simples, mas muito eficaz, e o tema papel funciona perfeitamente quando adaptado à vertente cooperativa pela qual gira em torno. As sonoridades estão muito bem conseguidas, com destaque igualmente para a banda sonora. Mas, como sucede noutras produções, a esmagadora maioria destes desafios completam-se ao fim de algumas sessões. Alguns puzzles podem ser mais complicados, ficando de molho para outra altura, assim como os puzzles para 4 jogadores, mas no essencial para dois jogadores, Snipperclips é de uma longevidade limitada, com valor de repetição algo reduzido, atendendo a que uma vez encontrada a solução, perde-se parte do encanto e já não existem novos desafios.

Talvez seja a partir dos primeiros níveis que Snipperlips se torna contagiante, quando jogado a dois. Gera uma satisfação e prazer sempre que é encontrada uma solução. O jogo é engenhoso e o encanto do conceito perdura até se tornar mais circular e o combustível da criatividade entrar na recta final que não anda muito longe depois de umas voltas divertidas. Snipperclips contagia pela simplicidade e é talvez um dos melhores jogos a representar a versatilidade da Switch a partir dos comandos destacáveis. E só custa 20 euros.

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