Snow Runner review - Peso-pesado da condução
Transportes, cargas e muita neve neste simulador para firmes.
A Saber Interactive é casa de uma das mais peculiares experiências off-road. Quando há uns largos meses peguei pela primeira vez num jogo da série Spintires - MudRunner, experimentei talvez algo de único e fiquei até positivamente impressionado com a dimensão da obra. Embora encontremos nalguns jogos certas afinidades, mais nenhum outro jogo se aproxima deste particular desafio, em especial com esta dimensão. Deixei o título da análise como cargas e transportes porque é efectivamente isso o cerne do gameplay assim que começamos a jogar.
Desde há algum tempo que a produtora tem vindo a aprimorar este simulador que nos leva a entrar pelo coração da natureza a bordo de potentes máquinas de transporte. Seja através de uma pequena e facilmente controlável pick up, ou um grandioso veículo de múltiplas rodas adaptadas aos eixos e dotadas de vários sistemas de tracção, nunca a sensação de física e controlo foi tão desenvolvida.
Esta é aquela típica série que nos deixa controlar e ter em conta uma imensidão de coisas quando somos chamados a encontrar um camião, levá-lo até ao local X assinalado no mapa, recolher a carga e deixá-la num outro exacto ponto. Good Job (Nintendo Switch) é uma boa referência se quisermos perceber o oposto ou pelo menos a dimensão arcade, sem perder o divertimento, mensurado em diferentes contextos. Mas o que a Saber Interactive nos dá com Snow Runner é sobretudo um incremento das máquinas e terrenos à nossa disposição, num esquema não só mais árduo como dotado de novas variantes, nomeadamente o gelo no contacto com o solo, enaltecendo mais uma vez o bom desenvolvimento da física, e a neve enquanto obstáculo.
Se partirem para este jogo com uma disponibilidade de tempo acima da média, é provável que se deixem levar por todo o conteúdo; dos terrenos acidentados do Michigan até às altas montanhas do Alaska. O factor diferenciador desta vez é mesmo a neve e o gelo, proporcionando mais obstáculos e dificuldade de transporte. Se jogarem isto pela primeira vez vão cair no erro de acelerar o carro em ponto-morto. Engrenada a primeira marcha entramos em movimento e a partir daqui é toda uma aprendizagem de controlo e adaptação ao terreno.
Do Michigan ao Alaska, uma viagem à produção americana
Na dimensão mais básica e acessível o controlo dos veículos de menores dimensões facilita, mas há que ter em conta as agruras do terreno e os sítios onde o lamaçal e os regos causam verdadeiros afundanços. É a partir daí, fora da estrada e em plena montanha, em rampas íngremes e repletas de terra solta, árvores e densa vegetação, que torna mais difícil o transporte e a passagem das máquinas maiores. A partir daqui temos acesso a uma série de interfaces e instrumentos de controlo, especialmente dos apoios dados pelas correntes que atadas a árvores servem de apoio caso o veículo fique atolado, o que acontece abundantemente. Há diferentes tipos de tracção e aqui temos de jogar com a leitura do terreno, perceber onde a terra compacta dá lugar a lama, para uma passagem ao largo.
Colocados em terrenos naturais e selvagens, estas dificuldades fazem o jogo e cada bocado de tempo gasto a observar minudências pode ditar o desfecho. A falta de algum cuidado no controlo da máquina reflecte-se em avarias e falhas mecânicas que não só prejudicam o rendimento como ainda requerem uma intervenção mecânica. Pena que após um veículo avariado sejamos levados ao ponto original e não à torre de controlo, já que isso obriga a voltar a fazer o mesmo caminho.
Do Michigan, ao Alaska, passando por Taymyr, as condições meteorológicas estabelecem diferenças e lançam múltiplos obstáculos, funcionando bem a deformação e alagamento das áreas atingidas por fortes bátegas, ou então por fortes nevões no Alaska. Não só as adversidades são maiores. A representação e descrição dos ambientes, de um realismo impressionante, enaltece e física e todo o sistema de suspensões.
Porém, e pese embora toda a magnífica apresentação, descrição realista e profundidade na jogabilidade, SnowRunner está longe de apresentar o polimento desejável. Parece ter sido lançado com alguns bugs e inconsistências técnicas que tendem a embaraçar e tornar algo sinuosa a viagem. Num jogo onde acabamos por dar muito do nosso tempo e ter em conta múltiplos detalhes, é pena que estas inconsistências dificultem o aproveitamento pleno do jogo.
No melhor contam-se os mais de quarenta veículos estacionados em múltiplos pontos do mapa, sujeitos a descoberta. Marcas como Ford, Chevrolet (para quem acha que só os americanos são bons) e Frightliner fazem as delícias a todos os que desejam transportar toros e coisas pesadas. A lama, águas torrenciais e gelo formam grandes obstáculos e sérios entraves à nossa passagem, tendo cada atravessia um gasto calculado em tempo. De resto, há muitas formas de melhorar e equipar as máquinas com mais engenhocas e sistemas de transporte, visando a celeridade e força motora.
"Em SnowRunner está bem patente essa luta das máquinas e da ciência contra a natureza"
Talvez não seja um jogo para todos por se focar num tipo de experiência que não é muito comum. Mas assim que entramos naqueles terrenos acidentados e repletos de obstáculos naturais, temos um vislumbre de um sistema de defesa natural, como se no seu estado mais puro permanecesse inacessível ao ser humano e às suas invenções. Em SnowRunner está bem patente essa luta das máquinas e da ciência contra a natureza, cada parte a usar da melhor forma os seus recursos e instrumentos à disposição. É uma batalha dura da qual só os mais persistentes tenderão a registar progressos e gratificações.
Prós: | Contras: |
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