Song of Nunu: A League of Legends Story - Análise - Montanha mágica
Uma aventura sob o selo da amizade.
Song of Nunu: A League of Legends Story é uma produção do estúdio espanhol Tequila Works, com sede em Madrid, que já nos proporcionou momentos incríveis em jogos como Rime, The Sexy Brutale, Gylt e Deadlight. A particularidade deste jogo, também uma história de amizade e união entre duas personagens, é o desenvolvimento narrativo de uma aventura single player com conexões ao universo League of Legends, um multiplayer online battle arena criado pela Riot Games. Não é novo este propósito de expansão de uma determinada série com uma componente online multiplayer, para uma dimensão narrativa específica. Vários jogos foram desenvolvidos com base em League of Legends.
É o caso desta aventura, que parece vir do frio, mas que os nossos vizinhos espanhóis cuidaram em desenvolver por forma a dar uma dimensão emotiva e a construir uma feliz ligação entre os dois protagonistas do jogo: Nunu, o petiz proveniente de uma tribo chamada Notai e Willump, o seu monstro amigalhaço de 4 braços. Os dois forjam uma ligação que vai para lá do quotidiano e do trivial dentro da resolução dos puzzles. À medida que a aventura se aprofunda são mais evidentes as ligações entre os dois, através de laços inimagináveis ao começo.
É um arranjo que devolve um pouco dessa pareceria estabelecida entre as duas personagens de Ico e The Last Guardian, ambas resolvendo puzzles numa articulação digna de registo e sem perder uma carga emotiva dada a ligação entre ambos. No caso de Ico, entre um rapaz e uma rapariga, enquanto que em The Last Guardian, entre um rapaz e um animal de grandes proporções. Ambos são jogos admiráveis com uma arte e uma projecção visual assinaláveis. A jogabilidade e os seus puzzles são igualmente intricados e promovem câmbios e diferentes matizes à medida que a aventura progride.
Uma parceria eficaz
Song of Nunu: A League of Legends é significativamente menos elaborado que as obras de Fumito Ueda, embora promova um bom tratamento dos quebra-cabeças, alicerçados em diferentes ferramentas, como o uso da flauta, por Nunu, para produzir diferentes notas e canções capazes de mudar as posições de algumas plataformas ou mesmo peças. A interacção entre as duas personagens também se dá a vários níveis, com batalhas de bolas de neve e autênticos confrontos com “quick time events” a meio a determinarem golpes de maior intensidade, ao ponto de acabar com os adversários e inimigos.
Aliás, em League of Legends os dois formam um único campeão, o elemento transportador de parte desse universo da League of Legends, juntamente com outros campeões, poderosas personagens que em dados momentos cruzam-se com os protagonistas. É o caso de Braum, Volibear e a maléfica Lissandra, esta como ameaça ao mundo graças às seus poderes mágicos. Após um breve segmento inicial que deixa perceber um ponto perigoso da jornada, dá-se um retrocesso até ao começo, quando Nunu e Willump embarcam na descoberta de Freljord, uma terra gelada, montanhosa, com os seus picos cobertos de neve e caminhos misteriosos. Sucedem-se tempestades geladas, batalhas ferozes com alcateias de lobos esfomeados mas igualmente são visitados locais mágicos, pontos naturais de uma beleza assinalável.
Numa parceria que visa proporcionar a Nunu o reencontro com a sua mãe, o jogo intercala diferentes momentos, com passagens dedicadas ao combate e ao confronto, outras compostas por segmentos assentes em puzzles cuja resolução requer uma espécie de pausa para pensar. Por fim, há momentos de plataformas, nos quais urge alcançar determinados pontos usando pedras e outros suportes, por vezes escondidos. É um jogo inteligente e bem organizado desse ponto de vista, capaz de circular por diferentes modelos de jogabilidade e oferecendo segmentos animados.
Como uma animação da Pixar
Ponto relevante é a construção visual, o grafismo que aproxima Song of Nunu: A League of Legends Story de um filme animado, saído de uma Pixar, por exemplo. O grafismo é cuidado, a arte assinalável e a produção e movimentos dos protagonistas estão bem conseguidos. No entanto, está longe de ser um jogo capaz de se destacar acima da média. A sua arte é interessante mas deixava antever uma ambição maior nas imagens desenhadas do projecto em desenvolvimento. O resultado final representa um decréscimo de qualidade, embora não ponha em causa o funcionamento do jogo. Como aventura que decorre no gelo e num universo hostil às personagens, o essencial perdura e crava uma marca na experiência de jogo, oferecendo alguns momentos de realce, desde vistas e paisagens assinaláveis, até carvernas espelhadas, imersas em jogos de luz. O desempenho técnico é igualmente assinalável, ainda que na consola Switch sejam bem evidentes alguns soluços, quebras de frame rate em momentos de combate.
A campanha decorre numa permanente dependência das personagens. Os dois avançam sempre juntos, ainda que de forma faseada, podendo o jogador controlar o grande Yeti, transportando Nunu às cavalitas, por entre pletaformas e caminhos superados a toda a velocidade. Já os passos curtos de Nunu e a sua leveza são óptimos para as plataformas distantes, onde o Yeti não chega. Esta constante interacção, forjada tanto em momentos de acção como na resolução dos puzzles é modelar no jogo. É representativa do núcleo da experiência e produz também momentos de maior carga dramática e emotiva quando o poder de ambos é posto à prova em combate.
A banda sonora é assinalável, com melodias que reforçam a beleza e a desolação das montanhas cobertas de neve quando os protagonistas avançam por espaços e contemplam eles mesmos peculiares estátuas e construções de grande magnitude. Os momentos de acção, por contraponto, são acompanhados por ritmos emotivos e empolgantes. Destaque para a existência de vozes em português (do Brasil), conjugadas com legendas na mesma língua. Sobre a questão da necessidade de conhecer o universo de League of Legends para usufruir desta campanha, não é necessário. Ainda que haja uma partilha de universo, com “lore” e personagens, o glossário dá uma ajuda a compreender o que está em causa. Além disso, o jogo pode ser bem aproveitado por quem não conheça de todo LoL.
Inspirado tanto em filmes da Pixar/Disney, como em produções The Last Guardian ou mesmo Ico, Song of Nunu: A League of Legends Story é um jogo bastante satisfatório, dotado de uma campanha aprazível, jornada feita a meças entre um humano e um Yeti. Não atinge a magnitude e profundidade em jogabilidade das produções em que se inspira, mas a Tequila Works tem aqui um trabalho digno de ser jogado e experimentado por quem queira aproveitar uma aventura que é também um somatório de puzzles, combates e passagens de plataformas.
Prós: | Contras: |
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