Sonic Forces - Análise
Para os fãs.
Depois de Sonic Mania em Agosto, um regresso às origens movido pela nostalgia e desenvolvido por fãs para fãs, a SEGA e a sua Sonic Team continuam a tentar aperfeiçoar uma fórmula que agradou os fãs em Generations. Uma fórmula que deixou indicações muito boas, mas que ainda precisa de melhorar. Sonic Forces é o resultado do esforço de uma equipa Japonesa, liderada pelo veterano Takashi Iizuka, que continua a perseguir o sonho de alcançar um Sonic 3D multifacetado com uma qualidade que conquiste o consenso entre os fãs. Sonic parece preso num limbo e passo a passo caminha para sair dele, mas ao contrário do que o tornou célebre, segue a um ritmo lento que desespera quem se apaixonou por ele na década de 90. Por um lado, a SEGA não quer esquecer as raízes 2D, mas pelo outro sente a vontade de dinamizar e actualizar a experiência, sem esquecer a aposta em elementos de gameplay inéditos.
Provavelmente, o que afasta Forces de se tornar numa espécie de Generations 2 é mesmo essa face inédita de um jogo com várias personalidades. Um jogo repleto de fan-service e louco, que apenas resultará para os mais acérrimos fãs do ouriço azul. Se és daqueles que conseguiu encontrar algum gosto no meio do caos que foi Sonic de 2006, se gostaste de algumas das ideias mais arrojadas introduzidas em Unleashed e se até te divertiste em Colors ou Lost World, então certamente saberás que apesar de muita coisa deixar a desejar, outras tantas conseguem encantar. É precisamente o que sentirás em relação às diferentes personalidades deste tresloucado Forces.
O resultado dessa mescla de personalidades é um Sonic Forces que não conseguirá reunir consenso, mas que esconde diversos encantos no meio das suas falhas. Algo que preciso desde já elogiar é a sua energética banda sonora, inesperadamente repleta de temas 'catchy' e que te vão ficar no ouvido (até parece que a SEGA andou a escutar a banda sonora de Metal Gear Rising). Combinada com cenários coloridos e momentos cinematográficos, estes elementos mostram que a SEGA esforçou-se para dinamizar a fórmula Generations, mas falhou em alguns aspectos fundamentais da experiência. A face moderna de Sonic continua a existir ao lado do estilo clássico, agora com a companhia de uma nova face que relembra experiências como Shadow the Hedgehog. Pelo menos a SEGA não pode ser criticada por arriscar.
"Este é um jogo para os fãs, os únicos capazes de aceitar os compromissos e ver o que de bom tem para oferecer."
A novidade em Forces é a implementação de uma "terceira" personagem, um Avatar criado e personalizado por ti. Equipado com armas de fogo com habilidades especiais (como criar um escudo protector e de mira automática) este Avatar é vestido por ti com os itens ganhos ao cumprir missões ou terminar níveis. Estes níveis oferecem um ritmo similar aos do Sonic moderno, mas as armas de fogo e o gancho permitem um tom diferente: algumas pausas para disparar no meio da correria. Esta é a grande novidade em Forces e provavelmente os níveis menos divertidos do jogo. Sonic Forces consegue segmentos de grande qualidade e muito inteligentes, mas no momento seguinte poderá tornar-se demasiado banal e automático. Seja de que forma for, os níveis com o Avatar são os que mais conflitos causam com o jogo (onde Forces é mais dado a erros espontâneos) e menos diversão encontras.
O gameplay com o Sonic moderno é o já esperado para quem segue a mascote da SEGA. Constantes trocas de câmara entre as costas e a lateral, momentos cinemáticos e dinâmicos de grande espectacularidade, combinados com muitas secções em que quase ficamos com a sensação que podíamos pousar o comando. Ainda assim, é aqui que estão os momentos mais épicos de Forces. O gameplay com o Sonic clássico é uma autêntica delícia e os níveis que te desafiam a sério. Pecam por escassos, mas os que existem, são muito divertidos. Aqui, o gameplay fica mais lento, Sonic regressa ao estado clássico onde não tinha uma grande parte das novas habilidades e os reflexos tornam-se mais importantes. Quando a SEGA explora mais do gameplay clássico, mesmo num estilo visual 3D, é quando Sonic Forces brilha e te lembras do porquê deste personagem te ser tão especial.
Desde Sonic Adventure em 1998, a SEGA arriscou implementar novidades para dinamizar a fórmula além do que era possível nas corridas laterais a 2D. Falhou redondamente em muitas das suas ideias, triunfou com outras. No entanto, algo que sempre ficou na ideia foi que os jogos precisavam de mais polimento, de controlos com melhor resposta, de uma câmara mais competente, de um nível geral de qualidade superior para permitir uma experiência totalmente sólida e afinada. Forces infelizmente recupera essa sensação e apesar de bons momentos, ocasionalmente ficamos a pensar que falta polimento e robustez. As boss fights conseguem apresentar momentos altamente divertidos (dos melhores momentos do jogo) mas basta a câmara se atrapalhar ou o jogo não se comportar como deveria e terás de reiniciar o segmento. São coisas pequenas, mas que revelam falta de polimento e que afectam o desfrutar geral deste Sonic Forces. Especialmente quando grande parte dos níveis com o Sonic Moderno e o Avatar parecem totalmente automatizados.
São mesmo os níveis com o Sonic clássico que te vão conquistar em pleno e onde encontrarás mecânicas divertidas. Será muito fácil ficar a pensar num novo jogo da Sonic Team apenas com níveis do Sonic clássico após os jogares. Seja no timing que te exige dos saltos, seja na forma como apresenta diversos caminhos ou introduz novas mecânicas que afectam os movimentos do personagem, os níveis com o Sonic clássico são uma delícia.
"Enquanto amostra do futuro, Forces deixa boas indicações, mas ainda há muito por limar."
Todas estas correrias e saltos desenfreados decorrem ao longo de vários níveis espalhados pelo mundo de Sonic. Terás níveis numa cidade debaixo de ataque ao por do sol, corridas numa espécie de casino na selva à noite, sprints intensos no meio do deserto e das pirâmides, sem esquecer as incursões pela base espacial de Robotnik, Sonic Forces tem de tudo um pouco. Tal como as diferentes facetas do gameplay, também os visuais são inconsistentes e se alguns elementos agradam, outros nem tanto. Enquanto Sonic corre a toda a velocidade possível, verás elementos básicos nos cenários, enquanto o que está mais perto de ti e os personagens exibem melhor detalhe. As cores vibrantes e a diversidade de locais é um dos seus melhores atributos. No entanto, apesar da qualidade geral convencer, fica a sensação que a SEGA podia ter feito mais.
Como já referi, Sonic Forces é um jogo inconstante, que apesar de vislumbres de grandeza, apenas de dá um copo meio cheio. Um exemplo dessa personalidade inconsistente é a sua longevidade: é possível terminar Forces em cerca de 4 horas. No entanto, após terminares o jogo será possível jogar alguns níveis secretos e poderás continuar a desbloquear mais acessórios para o teu Rookie, a tentar encontrar todos os segredos e a bater as melhores pontuações. É um jogo com vários momentos que terás gosto em revisitar, mas ainda assim não deixa de ser curto. A SEGA apostou claramente num ritmo intenso e frenético, apelando à vontade de voltares aos mesmos níveis para melhorar a prestação e desbloquear mais itens.
Sonic Forces é um daqueles jogos muito complicados de analisar. É um daqueles jogos que nos apela ao coração pelo seu valor nostálgico e pelo carinho que temos pela personagem. É um jogo que consegue acertar em muitas coisas, mas também falha ou fica aquém em outras tantas. Parece ser o eterno dilema da passagem de Sonic para 3D, falta sempre um bocadinho para chegar a outro patamar. Os momentos divertidos no gameplay veloz do Sonic Moderno, os níveis mais pausados e difíceis do Sonic clássico são Forces no seu melhor, enquanto os níveis com o Avatar são meramente razoáveis. Sonic Forces é um jogo de várias faces e nem todas elas acertam. Algumas falhas nos controlos, no trabalho da câmara e segmentos mais irritantes coexistem com boss fights divertidas e níveis interessantes. Este é para os fãs mais acérrimos desfrutarem, enquanto saboreiam o que tem de bom e ficam a pensar no que podia estar melhor