Sony entra na Nuvem com o Gaikai
Será o fim do formato físico? Como ficam a PS3 e PS4?
Antes da E3, recebemos um email com um convite do Gaikai onde referia que iriam ter um anúncio que tinha o potencial de "mudar o futuro dos videojogos, consolas e a forma como jogámos". Mas este não foi de todo cumprido, deixando um sabor amargo em todos aqueles que pensavam que o rumor da compra da empresa pela Sony fosse verdadeiro.
Mas se recuarmos mais um pouco, rapidamente vemos palavras tais como "Gaikai será melhor do que as consolas" ou até mesmo "Gaikai prevê que Sony ou Microsoft ficará de fora da próxima geração". São palavras que ditam o fim de um sistema de entretenimento físico, implantado e que gera milhões e milhões de receitas em todo o mundo. Está o formato físico prestes acabar?
Mas quando ninguém estava à espera, a Sony Computer Entertainment anuncia a compra do Gaikai pela quantia de aproximadamente 380 milhões de dólares (300 milhões euros). Uma verdadeira bomba para a indústria, que deixou muitos a pensar no que será o futuro. Mas acho que já não é uma questão do que será o futuro, mas sim quando esse futuro se tornará o padrão da indústria do entretenimento, nomeadamente nos videojogos.
Não querendo entrar em muitas questões técnicas, pois desde o anúncio do sistema Gaikai que temos falado e testado o sistema, onde uma pequena pesquisa na Eurogamer poderão aceder a tudo o que já se falou. Mas deixou aqui um artigo de 2009, onde abordamos a fundo o sistema Gaikai, o qual na altura não recebeu grande atenção do público: Gaikai: Jogos por computação Cloud que funcionam? O Gaikai foi fundado por David Perry, Andrew Gault e Rui Pereira. Muitos não devem saber, mas temos um português dentro da fundação do sistema Cloud Gaikai. Longe de ter o protagonismo de David Perry, um veterano na indústria de videojogos e fundador do mítico e extinto estúdio Shiny Entertainment, Rui Pereira está ligado diretamente ao sistema que bombeia os conteúdos via stream do Gaikai. É licenciado em Engenharia de Informática na FEUP (Faculdade Engenharia da Universidade do Porto). É no fundo um dos principais responsáveis por toda a tecnologia do sistema Gaikai.
Factos históricos à parte, temos então a venda do sistema Cloud Gaikai à Sony. Aqui temos que entrar já em detalhes. Não estamos a falar da compra por parte da Sony Corporation, mas sim por parte da Sony Computer Entertainment. Logo aqui vemos o foco do negócio, foco este que é a total dedicação da produção tecnológica do Gaikai. Os videojogos. A SCE comprou o Gaikai para poderem fornecer conteúdos de videojogos em stream, sem que o cliente tenha que descarregar o videojogo para a sua plataforma ou comprar numa loja física. No comunicado de imprensa a SCE fala em "Serviço em Nuvem, assegurando que irá continuar a providenciar aos utilizadores experiências de entretenimento interativas imersivas e verdadeiramente inovadoras". Assim de repente o foco "videojogos" parece não ser mencionado, mas se recuarmos a toda a comunicação por parte da SCE, os videojogos são denominados como "experiências interativas de entretenimento". Por isso, aqui não existem dúvidas, e se é que as houvesse, a SCE comprou o Gaikai para fornecer videojogos em formato stream, aproveitando toda a rede instalada do sistema e tecnologia. A questão é mais, quando é que estará o serviço disponível? A resposta é simples. Já está.
O Gaikai não é uma miragem, um serviço que está em formato prototipo a anos luz da realidade. O Gaikai já funciona, está publicamente ativo e com jogos a serem debitados sem recurso a grandes sistemas. Se bem se lembram, a Eurogamer Network criou um protocolo de colaboração com o Gaikai em 2011, onde permite aos leitores da rede poderem jogar diversas demos (para já) diretamente no conforto do navegador de internet. Para aqueles que ainda não experimentaram, saltem para a página dedicada Gaikai para poderem testar jogos tais como Alan Wake, Crysis 2 ou até mesmo Mass Effect 3.
O Gaikai foi mostrado na semana passada a correr o jogo da Epic Games, Bulletstorm, onde David Perry afirmou que poderemos começar a ver jogos de consolas, não só de PC, a correr no sistema. Se juntarmos as duas notícias temos um plano geral daquilo que podemos esperar. Mas aqui gostava de separar duas coisas. Penso que a Sony não irá, pelo menos para já, fornecer os seus conteúdos de topo, como por exemplo jogos tais como Uncharted 3, God of War 3 e Gran Turismo 5, no serviço Cloud. Se o fizer, está abrir duas frentes de negócio, combatendo a si mesma no mercado de consolas caseiras e sistemas fechados. Por outro lado, a visão de uma PS4 torna-se ainda mais enigmática. Se a SCE lançar uma consola nova (parece ser dado adquirido) em que termos ficará este sistema Cloud, que já funciona e está ativo? Será usado para fornecer em stream os jogos que compramos atualmente via PlayStation Store, continuando as grandes produções a serem enviadas em formato físico? Ou a SCE dará um passo de gigante assumindo o Stream dos conteúdos e ao mesmo tempo vendendo em formato físico?
"O Gaikai não é uma miragem, um serviço que está em formato prototipo a anos luz da realidade. O Gaikai já funciona, está publicamente ativo e com jogos a serem debitados sem recurso a grandes sistemas."
São muitas hipóteses, as quais envolvem diretamente os retalhistas. A SCE, bem como a Microsoft, já têm um sistema de venda de jogos de retalho em formato digital. Com o tempo os lançamentos começaram a se aproximar mais e mais das datas de lançamento dos jogos físicos. Mas se têm reparado, os preços das lojas digitais da SCE não variam muito dos preços das lojas físicas. E porque não? Porque isso seria ir contra o retalho, tornando ainda mais difícil as vendas físicas. Equilibrando o preço, a SCE entrega ao comprador a decisão da compra, ou físico ou digital, retirando de si a "culpa" de não comprarem em formato físico. Com a PS4 a SCE continuará a ter uma consola para vender, logo precisa dos retalhistas. Esta discussão não é de agora, e ainda recentemente o CEO e fundador do estúdio Crytek, Cevat Yerli mencionou "Os retalhistas nunca irão vender o hardware Xbox se os jogos forem todos digitais, porque eles nunca irão fazer dinheiro. Eles teriam que vender o hardware pelo dobro do preço e isso também não é sustentável". Este é um assunto ainda por resolver se as grandes companhias como a Sony quiserem partir para o digital a 100%, e o sistema Gaikai é um direto concorrente ao sistema físico de vendas.
Algo que gostaria também de abordar é a confusão que muitos têm de que com o Gaikai não será preciso qualquer hardware, bastando uma TV. Essa observação está errada como base, pelo menos errada na forma que recebemos atualmente os conteúdos e funções que uma TV contem. Agora, se estivermos a falar da chegada em massa de SmartTvs (já existem no mercado), com funcionalidades como Internet, Gamepads, ratos, teclados e processamento de vídeo, então o caso será outro. Neste aspeto a Sony tem tudo para conseguir produzir uma TV que viva à base do Gaikai. Afinal de contas a Sony é também produtora de TV, tais como a marca Bravia. Pois para além dos videojogos, teríamos acesso a todo o tipo de conteúdos via stream, desde vídeo/filmes a músicas e fotografias e ainda acesso, porque não, aos nossos conteúdos gravados na Nuvem.
Por outro lado, temos que inevitavelmente falar da tecnologia em si. Os jogos via Cloud ainda não conseguem atingir a qualidade dos jogos dedicados e a correr num hardware local. A tecnologia em si é impressionante, funciona e é jogável, apresentando uma enorme qualidade gráfica e de baixa latência. Mas ainda não se equipara ao que temos atualmente nas consolas e PC fechados localmente. Logo a questão prende-se sobre se iremos ver jogos "capados" para que funcionem no Gaikai, ou se o sistema apenas chegará ao mainstream quando tiver a qualidade atual. Mas quando isso chegar, em que estado estarão os jogos que correrão nas consolas de nova geração? Estará o sistema Cloud sempre atrasado no tempo em termos de qualidade gráfica e poder de processamento?
Olhando um pouco para o futuro, será de esperar que a Sony implemente de forma gradual o sistema Gaikai nos seus sistemas de fornecimento de conteúdos. A passagem da tecnologia para outras áreas da empresa poderão ser também consideradas, pois a ideia de "uma só Sony", debaixo de uma rede de entretenimento mais abrangente é cada vez mais uma realidade. O consumo de videojogos como o conhecemos poderá mudar rapidamente, ligando-se a outros media, a outros sistemas e sendo multiplataformas. No caso da Sony tem um enorme avanço no que diz respeito aos sistemas físicos. Tem TVs, tem telemóveis, tem tablets, tem produtoras internas de videojogos, tem o cinema e tem consolas fechadas que possam receber conteúdos. O futuro já está nos nossos monitores, agora é só esperar até que seja tudo vindo das Nuvens.