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Soul Sacrifice - Antevisão

O novo AAA na escala da Vita?

Existem duas ideias que ficam desde logo aparentes ao jogar Soul Sacrifice: que Keiji Inafune é um tipo claramente fora do normal e que este não é um jogo qualquer. Esta versão de previsão que a Sony nos concedeu antes do lançamento do jogo completo, a 29 de Abril, permitiu que colocasse todas as minhas expectativas na balança para tentar perceber se este é o jogo que a PlayStation Vita precisa e se é tudo aquilo que pensava ser. Pelo menos para ter um pequeno gosto e uma perspectiva de como vou responder a essas perguntas quando o jogo chegar.

Se no trabalho de promoção e apresentação ficou a ideia de um jogo fora do normal no seu design e conceito, ao pegar na demonstração da obra conjunta do Marvelous AQL com o Sony Japan Studios, visionada por Keiji Inafune, famoso entre outros por Mega Man, fiquei claramente convicto que este é um jogo do qual eu precisava mesmo antes de saber sequer que precisava.

Não quero de forma alguma estragar o enredo e o cenário onde tudo decorre, são partes mais do que importantes para todo o poder que SS acaba por exercer sobre o jogador, mas digo só que tudo começa quando o jogador está preso, prestes a ser sacrificado por uma feiticeiro que ficou louco e descobre um livro que fala. Não só fala como parece ter tirado um curso de comediante e permite ao jogador viver os eventos escritos nele para amealhar poder e habilidades.

Como quem diz, os contos nele escritos são os eventos que o jogador vai viver e tudo para que possa libertar-se do seu destino. No entanto, todo o mundo de Soul Sacrifice está centrado numa temática bem importante e marcante, o sacrifício. Aqui os feiticeiros têm um dever em todo este universo, proteger o mundo e livrá-lo das criaturas que o infestam. Estas tanto podem ser animais que foram vítimas de feiticeiros ou os próprios que se sacrificaram em nome de maior poder.

Quando a sede sem escrúpulos de poder nos leva a um patamar insustentável, existem sacrifícios a fazer e limites a ultrapassar. Quando os seres humanos passam esses limites, o sacrifício máximo acaba por ser a sua própria vida e tornam-se eles próprios em monstros, que o jogador terá que eliminar ou salvar.

Isto traduz-se num RPG de ação no qual os nossos ataques e habilidades especiais, como cura por exemplo, nascem dos poderes que recolhemos das criaturas derrotadas. Ao derrotar uma criatura esta fica à nossa mercê e o jogador pode decidir salvá-la para amealhar atributos relacionados com a vitalidade e defesa, ou então pode decidir sacrificá-los para melhorar os seus atributos de ataque e magia. É um equilíbrio que vamos ter que gerir e um comportamento que vamos traçar pois em vários momentos uma decisão pode resultar em extras e bónus que a outra não permitiria obter.

Em níveis mais avançados de habilidades existe a capacidade de sacrificar partes do nosso próprio corpo, com efeitos permanentes no jogador, e cada habilidade (podemos equipar 6 ao mesmo tempo) tem um determinado número de vezes que pode ser usada, obrigando a algum cuidado pelo jogador. Pelos níveis temos itens que nos ajudam a restabelecer o número de vezes que podem ser usadas e a curva de dificuldade parece pronta para cativar o jogador. Ao longo do capítulo presente aqui senti que estava face a um produto gerido com cuidado e astúcia neste aspecto.

Com um esquema de controlo fácil de assimilar (é verdadeiramente um RPG de ação apesar de todas as singulares mecânicas que lhe conferem profundidade) e um ritmo bem equilibrado, Soul Sacrifice mostra nesta versão um bom uso dos menus para a gestão das habilidades. Vamos obtendo novas que podemos melhorar e também temos um vislumbre da personalização de personagens. Ainda a respeito dos controlos, as intensas batalhas contra os bosses ficam muito mais divertidas com um esquema tão acessível envolto numa jogabilidade profunda mas cativante.

Visualmente SS mostra-se nesta versão como um produto competente, forte numa portátil mas que não vai espantar pelos seus dotes tecnológicos. Onde o consegue é mesmo no design e trabalho de arte que são fascinantes. Apesar de nos colocar no que podem ser descritas como pequenas arenas para cada missão, os níveis e mais propriamente os cenários que os rodeiam são fruto de uma criatividade aliciante e que desperta a curiosidade, chamando a atenção de quem neles joga.

Desde o design de roupas e personagens passando por esses fundos e adereços que os preenchem, Soul Sacrifice desde já parece um jogo rico e nascido de mentes cuja criatividade fervilhou nos momentos da criação destes parâmetros. Se há ponto que ajuda o jogador a mergulhar na experiência é este e quanto mais jogava mais queria jogar. Não me canso de o dizer, a vontade é ter já o jogo completo nas mãos.

Algo que merece menção especial são os monstros que são dos mais estranhos, arrepiantes e até perturbadores que já vi num jogo. Provavelmente até mais do que nos jogos de terror. Muitos até fazem lembrar o que o talentoso Platinum Games fez em Bayonetta, mas aqui parecem ir um pouco mais longe na escala do inquietante. Desde enormes serpentes com caras humanas a galinhas gigantes com estranhas faces humanas em sofrimento, passando por criaturas mais pequenas com semelhanças a animais felinos, tudo aqui tentam imprimir um tom preocupante sobre a ideia de sacrificar algo para obter algo.

Tendo em conta que o jogo já está disponível desde inícios de Março no Japão, acredito que esta versão seja baseada no código final e portanto representa com bastante fidelidade o produto que vai ser colocado à venda. Um produto que ostenta qualidade para facilmente colocar-se ao lado dos melhores da Vita e com capacidade para se tornar nos mais distintos produtos que a portátil já nos deu.

Parece recomendado para fãs de RPGs de acção com desejos de algo singular.

Se há destaque nesta versão de previsão que fica desde logo em alta é a banda sonora. Sou grande fã desta componente dos jogos e pessoalmente gostaria de ver mais dedicação por parte das companhias na sua implementação como acompanhamento aos jogos e perante Soul Sacrifice fica ainda reforçado esse desejo. Yasunori Mitsuda (Chrono Trigger, Xenogears, Chrono Cross, Kid Icarus: Uprising) e Wataru Hokoyama (Afrika, Resident Evil 5) forma uma dupla estrondosa e o acompanhamento sonoro é de uma qualidade bem alta.

Existem extras para as pré-vendas do jogo que incluem um pacote com as vozes originais Japonesas, não presentes aqui, mas o trabalho que os atores da versão em Inglês apresentam é mais do que convincente. Encaixam na perfeição no tom do jogo e em nada parecem afectar negativamente a mesma. Aguardo com algum interesse as vozes originais Japonesas para medir a forma como afectam ou não o valor do jogo pois de momento não senti a sua falta.

Fica ainda por testar a vertente multi-jogador via online ou Ad-Hoc que caso bem feita pode elevar a experiência a parâmetros qualitativos bem intensos. Até porque parece encaixar bem no conceito deste jogo. Imaginar as várias missões nas quais temos uma companhia IA jogadas com companheiros humanos faz-me imaginar que este é produto mesmo à espera que toda uma comunidade lhe ganhe devoção.

Após esta demonstração a ideia com que fiquei foi a de ter dado os primeiros passos num dos mais singulares e fascinantes produtos que esta indústria me deu a conhecer em 2013. As expetativas subiram em flecha e Soul Sacrifice parece ter potencial para ser mais do que um produto passageiro, parece preparado para marcar e para fazer o seu nome conquistar valor. Resta esperar pelo jogo completo.

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