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Soul Sacrifice Delta - Análise

Conteúdo adicional ou um pacote completo?

Soul Sacrifice Delta é o segundo esforço conjunto da Marvelous AQL com o Japan Studios da Sony Computer Entertainment tendo sido lançado a 14 de Maio na Europa. Olhando assim de repente parece que foi sensivelmente há um ano que Soul Sacrifice chegou até nós e na verdade até foi. Em Abril de 2013 recebemos o primeiro esforço vindo da louca mente de Keiji Inafune que conseguiu encontrar nestas duas companhias os suportes para a sua distorcida visão das mais conhecidas fábulas mas a questão que se coloca é sobre a validade desta nova versão, chamada de Delta. Será que temos aqui apenas o original com conteúdos adicionais, um mero 1.5 como alguns se atreveram chamar na altura do anúncio, ou temos algo mais, uma verdadeira sequela.

Quando o original foi lançado na Europa, fiquei simplesmente encantado com o que acreditei ser uma espantosa união dos mais aclamados elementos de séries como Monster Hunter e Demon's Souls com alguns toques inovadores imaginados por Inafune. Soul Sacrifice tinha estilo, tinha substância e tinha tudo o que se poderia pedir de um título para uma portátil. Além do mais mostrava claramente que foi desde logo pensado para a PlayStation Vita.

Passados alguns meses, foi anunciado Soul Sacrifice Delta em pleno Tokyo Game Show e agora temos o jogo finalmente disponível nas lojas e a questão é mesmo o que é Delta? Quando o próprio Inafune não o considera uma sequela, ficamos então perante o óbvio constatar que Delta é uma versão melhorada e alargada do original que tantos fãs conquistou pelo mundo fora. Afinal de contas foi o criar de uma nova propriedade intelectual que facilmente acreditamos poder dar frutos em outras consolas da mesma família, como a PlayStation 4 por exemplo. Então para quem serve este Delta e o que oferece na verdade?

Já disponível desde meio de Maio.

Neste jogo de ação e aventura com uma forte componente RPG temos uma estrutura que se divide por pequenas missões em cenários pequenos, pensados para encaixarem nas capacidades da PlayStation Vita e ao mesmo tempo envergar a visão artística dos seus criadores. Como o nome deixa antever, existe um forte foco no sacrifício, ao contrário de jogos como Monster Hunter, aqui não temos só que caçar monstros, temos toda uma estrutura para o desenvolvimento do personagem que afeta as suas habilidades e os seus poderes.

Em Soul Sacrifice temos a possibilidade de salvar ou absorver os monstros que matamos e isto vai desde os mais pequenos que povoam os níveis ao enorme boss no seu final. Isto molda a personalidade do personagem e afeta a sua evolução ao subir de nível mas não tem qualquer impacto na história. Esta é contada com um efeito de grande qualidade através de Librom, o livro que será o nosso passaporte para a salvação. Mas isto já todos sabem do original e o que interessa é saber quais as novidades nesta expansão ao original.

Ao longo dos combates vamos continuar a recorrer aos feitiços que quanto mais usados mais gastos ficam e poderão quebrar até ficarem inutilizáveis. É parte da cuidadosa gestão e estratégia que a equipa de desenvolvimento conseguiu e uma das mais interessantes mecânicas para assegurar que o jogo é mais profundo do que martelar botões. Diferentes feitiços com diferentes efeitos ajudam imenso a enfrentar a grande maioria das adversidades. Em Delta temos pequenos ajustes nos combates que podem passar despercebidos à grande maioria mas sem dúvida que estão lá e ajudam a tornar os combates em algo ainda mais dinâmico.

Pequenos retoques, melhorias ou novidades que nos fazem acreditar se não poderiam ser implementados numa atualização ao original mas tal já não se pensa sobre algumas alterações nos cenários. Muitos deles ficaram mais dinâmicos, com mais pontos interativos e outros até mudaram radicalmente para invocarem para si uma personalidade quase nova. Misturem isto com a presença de muitos mais combos, mais bosses e uma maior personalização de personagens, assim como novidades no que podemos fazer quando morremos e temos várias novidades que ainda assim não nos fazem olhar para Delta como mais do que uma simples expansão.

Onde Delta tenta ir mais além é ao incutir comportamentos relacionados com as fações, ao invés de ser algo completamente livre, o salvar ou sacrificar ganha mais peso quando podemos estar a respeitar ou desrespeitar a nossa fação. A presença de novos bosses e níveis ajudam a dar alguma frescura a esta versão mas é mesmo a presença de mais uma história que torna o pacote ligeiramente mais interessante. Ainda assim está longe de ser algo que vá fascinar todos os jogadores excepto os mais acérrimos fãs desta propriedade intelectual. Na verdade Delta surge mais como uma curiosidade que vive sobre os feitos do original e que às vezes pouco faz para se justificar.

Em termos técnicos Delta é exatamente igual ao original. Um jogo que cumpre e mostra um bom potencial na portátil mas que dificilmente vos irá voltar a impressionar. Se há um ano atrás o jogo mostrava algumas debilidades e triunfava graças ao design e criatividade artística na elaboração de mundos e níveis cheios de personalidade, agora o departamento técnico mostra-se ainda mais debilitado do que originalmente. A aposta no gameplay e na resposta dos comandos é o principal destaque a reter num jogo como este e sem dúvida que Delta cumpre com o desejado, mesmo que tal implique uma qualidade visual menos impressionante.

Se adoraram a aventura de Keiji Inafune para a PlayStation Vita e por acaso não conseguem viver sem os conteúdos extra existentes aqui então já sabem o que têm a fazer, comprar Delta. Se ficaram contentes com o original e até já passaram para outra coisa sem qualquer vontade de regressar, Delta não tem nada que vos fará mudar de opinião, até porque só mesmo os fãs mais acérrimos vão encontrar paciência para percorrer todos os cantos e descobrir onde estão as tais novidades e melhorias neste Soul Sacrifice 1.5.

Jamais se devem esquecer da importância do cooperativo pois é o passo que evita maiores frustrações neste jogo que consegue ser bem mais irritante do que deveria. Será um pouco pessoal a forma como encaramos o jogo pois enquanto uns se encantam com esta visão obscura das mais singulares fábulas de criança e vão aos poucos e poucos suportando a crescente dificuldade, outros nem sequer vão encontrar desejo de repetir o que fizeram há um ano atrás apenas para encontrar alguns toques e retoques aqui e ali.

Soul Sacrifice Delta é então um pau de dois bicos: por um lado é tudo o que se poderia pedir de conteúdos adicionais mas pelo outro é a indesejada necessidade de gastar mais dinheiro pouco menos de um ano depois do lançamento do original. Para um grupo muito restrito de jogadores, Delta será tudo o que Soul Sacrifice foi e ainda mais mas para uma grande maioria será um produto sem qualquer interesse. Numa altura em que o consumo está tão elevado e passamos de jogo para jogo num ritmo tão elevado, a ideia de voltar a jogar um jogo no qual temos que encontrar as melhorias quase à lupa não é propriamente o mais conveniente. De igual forma, Delta já não enverga o impacto que o original ostentou.

7 / 10

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