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South Park: Fractured But Whole - Análise

Rabo multifacetado.

É um jogo para os fãs de South Park, mas que se apoia demasiado no primeiro jogo e acaba por não ter o mesmo impacto.

South Park está de volta aos videojogos. Depois de The Stick of Truth, que foi tudo aquilo que poderíamos pedir de um jogo de South Park, a Ubisoft apostou numa sequela que, após um longo adiamento, chegará às lojas a 17 de Outubro, já amanhã. A Obsidian, o experiente estúdio em RPGs que tinha desenvolvido o primeiro, não teve envolvimento na sequela. Em vez disso, a produção passou para o estúdio da Ubisoft em São Francisco, mas sem descartar a parceria com o South Park Digital Studios, assegurando que Fractured But Whole é uma experiência autêntica.

Enquanto o primeiro jogo brincava com o tema da fantasia medieval, em que os miúdos de South Park fingiam ser feiticeiros, guerreiros e ladrões, a sequela foi buscar inspiração a um tema muito actual: aos super-heróis e às suas adaptações muito lucrativas para o cinema. No papel do miúdo que acabou de se mudar para South Park, somos convidados para a brincadeira. O criador de personagens não esconde o tipo de humor que vamos encontrar ao longo do jogo. A dificuldade é influenciada pela cor da pele da nossa personagem. Basicamente, quando mais negros formos, mais difícil será o jogo. O editor está muito bem conseguido, permitindo criar facilmente uma personagem que encaixa perfeitamente neste universo.

Depois de escolherem uma classe de herói (não se preocupem muito com a escolha, mais adiante será possível escolher mais classes), começa uma nova aventura em South Park, na qual se vão a unir a Coon (a versão super-herói de Eric Cartman) e companhia para combater o crime. A história, escrita por Trey Parker e Matt Stones, os criadores de South Park, segue os contornos de um filme de super-heróis, mas está feita de forma a abranger os sítios e as personagens mais conhecidas de South Park. Podemos visitar a escola, onde teremos que explicar a nossa orientação sexual, a igreja, onde vamos ser vítimas de uma tentação de violação por padres, a esquadra, em que vamos receber missões para prender negros, e por aí em diante.

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Embora seja um RPG, South Park: Fractured But Whole é leviano neste aspecto. É um RPG levezinho, no sentido que não existe qualquer necessidade de grinding para evoluir a nossa personagem nem uma grande porção de sidequests. A maioria das sidequests envolvem encontrar coleccionáveis, mas não fiquem com receito.Não existem demasiados coleccionáveis. Jogando de forma normal, encontrei a maioria deles, afinal, South Park é uma cidade pequena. Fractured But Whole brilha por ser praticamente idêntico a um episódio da série televisiva. Já Stick of Truth tinha esta mérito, mas de qualquer forma é bom saber que a sequela mantém as qualidades do primeiro jogo.

Há vários mini-jogos, desde defecar nas várias sanitas de South Park até uma lapdance no bar de strip.

Os combates estão diferentes, mas mantém o formato de turnos. A novidade é a divisão do campo de batalha em quadrículos. Em cada turno, cada personagem pode deslocar-se um certo número de quadrados e depois atacar com as suas habilidades, que variam em alcance. O sistema de combate é relativamente simples, mas é variado o suficiente para não ficarmos aborrecidos depois das primeiras horas. É por isso que no final de cada capítulo ganhamos sempre acesso a novas classes, sendo assim possível personalizar a nossa personagem com habilidades de diferentes classes.

A completar o sistema de combates, existe uma espécie de árvore de habilidades que nos permite equipar artefactos e melhorar as estatísticas da nossa personagem. Os artefactos são muitos e podem ser comprados (com dinheiro in-game; não existem microtransacções) ou obtidos através do sistema de crafting. Existe também uma grande quantidade de fatos de super-heróis, alguns dos quais prestam homenagem a super-heróis dos universos Marvel e DC Comics, mas o seu efeito é meramente estético.

O humor de Fractured But Whole é característico de South Park, mas raramente está ao nível dos momentos mais brilhantes da série. Este é o problema da sequela. É um jogo agradável para quem gosta de South Park e capaz de entreter, mas não faz nada de muito diferente em relação ao anterior, apostando no mesmo tipo de piadas. Ao nosso dispor temos novamente o poder do nosso rabo e dos seus peidos fortíssimos, que até são capazes de parar e reverter o tempo. Este nosso "poder especial" servirá eventualmente para resolver pequenos puzzles espalhados por South Park com a ajuda dos nossos companheiros.

"Há cenas muito engraçadas, mas o jogo tem uma tendência para apostar demasiadas vezes no mesmo tipo de piadas"

Os inimigos são diversos. Há ninjas, chefes de cozinha, os miúdos do sexto ano e até as raparigas do Hooters.

Estaria a mentir se dissesse que não me ri em alguns momentos. Há cenas muito engraçadas, mas o jogo tem uma tendência para apostar demasiadas vezes no mesmo tipo de piadas, e como seria de esperar, o efeito não dura para sempre. Para terminarem a história vão precisar algures entre 12 a 15 horas. Pode parecer pequeno para um RPG, mas como disse anteriormente, Fractured But Whole é um RPG levezinho. É quase como se fosse um RPG em linha recta. Há que dizer que se durasse mais, tornaria-se cansativo. O jogo tenta manter-nos entretidos com o acesso a novos poderes e artefactos, mas ultimamente, não é um jogo tão refrescante como The Stick of Truth, simplesmente pelo facto de que o anterior já era muito bom e esta sequela foi feita nos mesmos moldes.

Portanto, Fractured But Whole não é na realidade uma sequela, pelo menos no sentido de que evolui em relação ao anterior. Podemos dizer que a história é uma continuação, mas na realidade não precisas de ter jogado o primeiro para desfrutar do segundo. É um jogo indicado principalmente para quem gosta de South Park, mas não esperes algo radicalmente diferente do primeiro. Há novidades no sistema de combate e noutras pequenas coisas, mas não tem o mesmo impacto do primeiro. Por último, resta elogiar a Ubisoft pela localização para português de Portugal nas legendas. Esperemos que haja semelhante aposta em futuros títulos da editora.

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