Spelunky - Análise
Adoro como me irritas.
A seis meses de completar dois anos na Europa, a PlayStation Vita está a tornar-se cada vez mais num sistema verdadeiramente único. Por um lado temos jogos originais como Gravity Rush ou Soul Sacrifice e pelo outro temos jogos que tentam criar a sensação de uma experiência PlayStation 3 num formato portátil como Assassin's Creed 3: Liberation, Atelier Meruru Plus, Ninja Gaiden Sigma, Muramasa, Street Fighter X Tekken, Need for Speed: Most Wanted, Dead or Alive 5+ ou Mortal Kombat. Pelo meio temos jogos digitais para a PlayStation Network que aumentam uma forte lista de títulos independentes que vão causando furor.
Retro City Rampage, Guacamelee!, Terraria, Limbo, Hotline Miami, Escape Plan, Machinarium, Sound Shapes, Stealth: A Clone in the Dark, Super StarDust Delta, Limbo ou When Vikings Attack! são alguns dos títulos que tem sido alvo de forte atenção e de elevado mediatismo. São experiências diferentes, à primeira impressão mais simples mas que após cuidadosa inspeção revelam profundidade e brilho fora do alcance de grande parte das super-produções. São algo diferente, único. Sem os orçamentos gigantescos dessas super-produções, estes jogos independentes podem elevar a PlayStation Vita para um patamar sem igual. Especialmente porque muitos se sentem mais adequados para um ecrã mais pequeno que se pode transportar livremente.
O mais recente é este Spelunky do qual jamais tinha ouvido falar até há alguns dias atrás. Felizmente tal foi remediado e agora dou por mim com um produto irresistível e que me deixa a perguntar como algo tão simples, com uma sensação tão retro, consegue ter tamanha profundidade e poder de cativar. O ecrã da Vita é espantoso e quando penso que tenho Spelunky ali à mão para numa questão de segundos o jogar, começo de certa forma a entender a direção para qual a portátil da Sony caminha. Sem a momento algum ignorar a versão PlayStation 3 que oferece toda a experiência na sua excelência mas talvez por ser a primeira versão portátil do jogo, foi na Vita que me foquei.
Spelunky leva-nos para vários templos ou locais remotos que temos que explorar e percorrer como os bons aventureiros que somos, uma espécie de Indiana Jones. Temos um chicote, a capacidade de saltar por cima dos inimigos e para cima deles, podemos usar itens como bombas ou cordas e basicamente temos aqui o conceito principal da gameplay. Temos que chegar ao final da sala passando pelos desafios e utilizando os itens ao nosso dispor para amealhar ouro espalhado pelas salas.
Existem vários locais a explorar, divididos por salas/níveis, com dificuldade crescente. A dificuldade é mesmo um dos principais pontos deste jogo porque pode mesmo levar o jogador a um ataque de nervos. Tendo em conta que estamos perante uma gameplay estilo retro, a forma como o explorador salta e ataca quase como se fosse um jogo de cálculo matemático, exige perícia e domínio por parte de quem aqui se vai aventurar. Esqueçam os jogos atuais em que podemos arrancar e desbravar desde logo, aqui será precisa alguma cautela e cuidado na arte de manusear a gameplay e abordar os níveis.
O que posso dizer é que a gameplay se sente "presa" relativamente aos padrões atuais, como se fosse mesmo um verdadeiro clássico 8-bits ou 16-bits feito em 2013 (o original Windows é na verdade de 2009) mas tudo feito propositadamente. Desta forma o jogador fica forçado a recorrer à sua astúcia e impede que enverede por um comportamento desmazelado, deixando-o ciente das consequências, ou seja, os corações desaparecem a grande velocidade.
Existe em cada sala um caminho, que se ramifica em vários pontos, e existem vários inimigos espalhados ao longo deles. No entanto, podemos utilizar itens como bombas para abrir novos caminhos, encurtar o percurso e apanhar jóias ou ouro, o verdadeiro objetivo para uma boa pontuação. A tradicional mecânica de saltar a meio da corrida tão retro quanto se pode ser retro está aqui presente e é frequentemente necessária, abrindo acesso a arcas e tesouros.
Quando as mecânicas base da gameplay não resolvem temos outros itens como cordas que nos permitem aceder a pontos de outra forma inalcançáveis mas toda a gestão de itens deve ser cuidadosa. Não existem muitos e comprar novos não é barato mas Spelunky está feito para que o jogador o jogue diversas vezes, sempre à procura de melhor prestação. O pior é quando perde e fica sem vidas quando está mesmo perto da porta de saída, ficando forçado a reiniciar toda a sala e com vontade de atirar a consola ou comando ao ar. No entanto, a graciosidade de Spelunky está no facto que demonstra sempre ao jogador que a culpa é sua, que é este quem falhou e desrespeitou as regras. Consequentemente ensina-lhe como e onde melhorar.
Esta impiedosa regra de Spelunky pode até ser um dos seus maiores trunfos. O jogador fica ciente dos riscos e perigos, envolve-se nas mecânicas de jogo, aprende a respeitá-las e como prenda ganha uma experiência verdadeiramente rica e profunda. Todo o seu simples aspeto é mesmo isso, aspeto pois a sua essência é rica e prazerosa. Quando derem por ela já não escapam a Spelunky, é um companheiro de viagem.
Os visuais são o perfeito reflexo da personalidade e sensação que Spelunky pretende transmitir ao jogador. Tudo aqui parece um jogo retro de gerações de outrora mas com uma qualidade e traço atuais. As cores vibrantes e a nitidez dos visuais são referências que aprimoram toda a simplicidade, sem esquecer que os personagens são verdadeiramente engraçados e não deixamos de gostar com eles. A junção de gameplay estilo retro com este aspeto visual fica muito bem e é um dos pontos mais importantes do jogo.
Frequentemente fascinante (quando conseguem com sucesso uma boa pontuação ou terminar uma sala) mas também bastante irritante, Spelunky é o perfeito advogado dos jogos independentes e da sua relação com a PlayStation Vita. Mostra que as portáteis podem ser uma excelente casa desta nova sensação que está a decorrer atualmente na indústria dos videojogos mas não se preocupem, a versão PlayStation 3 é na mesma recomendável, muito.
Spelunky é o perfeito exemplo de como glorificar a atual popularidade dos jogos independentes nas consolas. Até ao momento o movimento tem passado do PC para as consolas caseiras mas agora também as portáteis estão a ser alvo dessas experiências. Pessoalmente preferi jogar Spelunky na PlayStation Vita ao invés da PlayStation 3, não porque fica mal na TV grande, simplesmente fica muito melhor a sua sensação é mais envolvente e refrescante quando o jogamos num sistema que podemos levar para qualquer lado.